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Lula sobre o BRICS: “Renasço na política e na esperança”

Em entrevista coletiva na África do Sul, presidente brasileiro exalta novos membros do bloco e os avanços nas conversas sobre moeda para trocas comerciais

24/08/2023 17:49
Lula sobre o BRICS: “Renasço na política e na esperança”
Foto: Ricardo Stuckert/PR

 

Em conversa com jornalistas antes de deixar a África do Sul rumo a Angola, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, destacou os avanços fundamentais e fez uma avaliação muito positiva da Cúpula do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizada em Joanesburgo entre os dias 22 e 24 de agosto.

Para ele, o encontro de chefes de Estado dos cinco países representou alento e esperança, por avanços como a entrada de novos membros, a discussão sobre a reconfiguração do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), a disposição de viabilizar uma moeda comum de negócio para as trocas comerciais entre os integrantes do BRICS e a participação de países convidados.

“É uma reunião civilizatória. Os países pobres também podem falar, também têm direito, também têm desejo. O que queremos é expressar aquilo que a gente deseja trazer para o nosso povo. Está na hora de começar a repartir melhor o pão de cada dia. Eu renasço na política e na esperança. Saio daqui com a certeza de que, finalmente, posso dizer às pessoas que estão me ouvindo que um outro mundo é possível. Coisa que parecia impossível um tempo atrás”, disse o presidente, afirmando também que essa reunião foi a mais importante da qual ele participou em todos os mandatos.

BRICS MAIS FORTE – Na entrevista coletiva, Lula afirmou que, com a chegada de novos membros (Argentina, Arabia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã), o BRICS ganha ainda mais importância econômica e estratégica, passando a se relacionar com os demais blocos e organismos como o Sul Global, num mundo em transformação e com a economia e a geopolítica também começando a mudar.

“Acho que é um momento histórico da humanidade, em que países do sul pela primeira vez podem fazer valer a força que eles têm. Acho que as coisas vão evoluir, vai ficar mais fácil sentar e conversar. Quem sabe não vai se reunir bloco dos BRICS com bloco do G7 para discutir comércio, avanço científico e tecnológico para discutir democracia?”.

O presidente lembrou que, em 1995, os países do G7 detinham 44,7% do PIB por paridade de compra, e os países que fariam parte do BRICS representavam 16,9%. “Em 2010, o G7 já tinha caído para 34,3% do PIB por paridade de compra e os BRICS tinham subido para 26,6%. Em 2023, o G7 tem 29,9% e os BRICS, 32,1%. E mais importante é que, com a entrada de novos países, os BRICS vão chegar a quase 37%”, afirmou Lula.

O presidente brasileiro defendeu o fortalecimento do Mercosul e da Unasul e disse também que o BRICS está aberto a novos membros, que, ao se candidatarem, serão escolhidos pelos mesmos critérios daqueles novos anunciados nesta quinta-feira. Ele citou Angola, Moçambique e República Democrática do Congo como potenciais membros futuros, se interessar a eles integrar o grupo.

“Vamos continuar fazendo de forma criteriosa, de acordo com a importância geopolítica de cada país. O que está em jogo é a importância do país. Não quero saber o pensamento ideológico do governante, mas se está dentro dos critérios estabelecidos para entrar”.

MOEDA DE NEGÓCIOS – Sobre a criação de uma moeda de negócios, ideia que ele tem falado em entrevistas e encontros internacionais, o presidente brasileiro disse que não se trata de mudar a unidade monetária dos países, mas de ter uma moeda que permita a negociação paritária nas trocas internacionais e dispense a compra de dólar para tal.

“Não houve nenhum fórum no mundo que decidiu que o dólar seria a moeda referência para negócios. Simplesmente saiu o ouro, entrou o dólar e ficou”, disse. Segundo Lula, os países-membros do BRICS terão um ano para avançar na ideia. “No próximo encontro, que acontecerá na Rússia em 2024, os países vão discutir se há consenso ou não”.

CONSELHO DE SEGURANÇA – A entrada de novos membros no Conselho de Segurança da ONU também é uma bandeira antiga do Brasil. Lula voltou a dizer que a organização precisa refletir melhor o novo desenho da geopolítica mundial, que não é o mesmo de 1945, quando foi criada. Ele lembrou que os membros do Conselho decidem atacar outros países, começar guerras, sem ouvir o Conselho, e disse que a ONU precisa ter mais praticidade e mais respeitabilidade.

“O mundo mudou, os países mudaram, ganharam importância. É importante que a ONU tenha representatividade, que possa deliberar coisas que as pessoas acatem, obedeçam. Sobretudo nesse momento que a gente discute a questão climática”, disse o presidente, repetindo também a necessidade de os países ricos pagarem pela emissão de gás carbônico e destruição do planeta em seus processos de industrialização.

MEIO AMBIENTE – Lula falou que, na discussão sobre proteção do planeta, é preciso entender que sob a copa das árvores da floresta e na margem dos rios há milhões de pessoas que querem trabalhar, comer e vestir bem e ter acesso a bens materiais. “Temos que imaginar que cuidar da natureza é cuidar dessa gente também.”

O presidente brasileiro voltou a defender entendimentos em busca da paz e disse que tem uma guerra a vencer no Brasil, que é o combate à fome e a volta da democracia. Segundo ele, só com a decisão das lideranças mundiais o mundo pode caminhar para a redução das desigualdades e um modelo com mais justiça social.

Depois da entrevista na África do Sul, Lula seguiu para Angola, onde cumpre agenda de dois dias, nesta sexta-feira (25/08) e no sábado (26/08). No domingo (27/08), ele participará de reunião dos países lusófonos, em São Tomé e Príncipe.

Por: Planalto

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