Cultura

Presidente Lula participa de ato que marca retorno do manto Tupinambá ao Brasil

Evento para receber o artefato, que tem quase 400 anos e é visto como ancestral direto dos Tupinambá, ocorre no Museu Nacional, no Rio de Janeiro

Agência Gov | Via Planalto
12/09/2024 15:09
Presidente Lula participa de ato que marca retorno do manto Tupinambá ao Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
Tupinambás, no Rio de Janeiro para receber o Manto Tupinambá, em apresentação de artistas circenses do Unicirco

Símbolo de identidade, memória e pertencimento para os povos indígenas do Brasil, o manto Tupinambá é o epicentro de uma celebração com a marca da ancestralidade que será realizada nesta quinta-feira, 12 de setembro, às 17h, no Museu Nacional (na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da cerimônia, organizada pelo Governo Federal, acompanhado por representantes da administração pública federal e uma comitiva Tupinambá com, aproximadamente, 170 pessoas que vieram de Olivença (BA) para se encontrar com o item sagrado.


“Estamos diante de um momento em que a história está sendo revista. Enxergo o retorno do manto como o início de um processo que tem tudo para instituir protocolos de acesso a inúmeras peças sagradas para nós, indígenas, tanto dentro como fora do Brasil”, avalia a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.


O manto Tupinambá tem quase 400 anos e estava fora do Brasil desde meados do século XVII. Permaneceu no Museu Nacional da Dinamarca por 335 anos. Desde que chegou ao Brasil, segue em um espaço de guarda, numa sala da Biblioteca Central do Museu Nacional preparada para garantir a sua preservação. O manto não está atualmente em exposição, mas será destaque, em 2026, na reabertura das exposições do Museu Nacional, no Paço de São Cristóvão.

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O manto é uma peça com cerca de 1,20 metro de altura, por 80 centímetros de largura. Considerado uma entidade sagrada pelos Tupinambá, é confeccionado (em sua maioria) com penas de guarás, mas também com plumas de papagaios, araras-azuis e amarelas. A peça teria sido levada à Europa por holandeses, por volta do ano de 1644. Foi doada pelo Museu Nacional da Dinamarca que, desde o ano de 1689, detém outras quatro peças como essa.

O retorno do item ao Brasil é resultado da cooperação entre instituições dos dois países, incluindo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio da Embaixada do Brasil em Copenhague, assim como os respectivos Museus Nacionais e lideranças Tupinambá da Serra do Padeiro e de Olivença (BA). Desde 4 de julho, o manto está acondicionado no Museu brasileiro, sob os cuidados da equipe de restauração da instituição, que proporciona as condições ideais de clima, temperatura e luz para que o manto permaneça intacto para ser visitado por gerações futuras.

Encontro com o manto

Os Tupinambá chegaram ao Museu Nacional no último sábado, 7 de setembro, e estão alojados perto do local que acondiciona o manto, na Biblioteca do Museu. Na última terça-feira (10), a comitiva teve o primeiro acesso ao manto após realizarem rezas e rituais. Na quarta-feira (11/9), foi a vez de um grupo de anciões Tupinambá ter seu tempo de conexão e de realização de rituais com o manto.

A ida dos Tupinambá ao Rio de Janeiro foi possibilitada por uma articulação e um processo de escuta promovido pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), que visitou Olivença e Serra do Padeiro, na Bahia, para dialogar com os indígenas e aproximá-los do Museu para que tivessem condições de realizar seus rituais e cumprir seus costumes em relação à vestimenta sagrada.

A iniciativa do MPI obedece à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, e exige que os povos indígenas sejam consultados em temas que os afetam.

Com cerca de cinco mil pessoas, os Tupinambá da Bahia foram reconhecidos como povo indígena pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2001.

RECONSTRUÇÃO — O Museu Nacional, primeiro museu e instituição científica do país, recebe o Manto Tupinambá em um contexto de reconstrução. O prédio sofreu incêndio em setembro de 2018. Cerca de 85% do acervo, que incluía cerca de 20 milhões de itens, foi destruído. Desde então, o museu se dedica a reconstruir a estrutura e devolver seu prédio histórico e exposições, assim como dar continuidade às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Ao todo, o Ministério da Educação (MEC) está investindo R$ 45,5 milhões na reconstrução. O trabalho ocorre em etapas e é acompanhado pela pasta, que já repassou, desde 2023, R$ 38,3 milhões. A intenção do Governo Federal é envolver parceiros estatais e privados, garantir os recursos no menor prazo possível e finalizar as obras para visitação pública até 2026.

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