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A jornada das gêmeas que transformaram laços familiares em destino naval

Segundos-Sargentos, as irmãs navegam pelo mesmo sonho do pai

Agência Gov | Via Marinha do Brasil
22/10/2024 00:00
A jornada das gêmeas que transformaram laços familiares em destino naval
Fotos: Arquivo pessoal
As gêmeas compartilham o mesmo sonho: como o pai, navegar em águas internacionais, preferencialmente juntas

Quando o Suboficial (Armamentista) Edson Corrêa Guido entrou para a Marinha do Brasil (MB), em janeiro de 1985, não imaginava que faria do seu sonho militar um destino compartilhado. Veterano e na reserva da Força desde 2018, ele é pai das gêmeas e segundos-sargentos Bianca de Carvalho Guido Araujo e Bruna de Carvalho Guido Kruta, que além de serem unidas pelo sangue, também são pelo amor ao mar.

Irmãs de vida e de farda, as duas nasceram em 31 de maio de 1991, em São Gonçalo (RJ), e dividem muito mais do que o sobrenome. Crescer em uma família militar foi um fator decisivo para que desenvolvessem um respeito e admiração natural pela carreira do pai.


“Minha história na Marinha começou no momento em que nasci. A admiração que tinha por ver o meu pai fardado, quando eu ainda era pequena, fez surgir essa vontade… eu me imaginava ali também”, relembra Bianca. A sensação é reforçada pela irmã Bruna, para quem “entrar para a Marinha sempre foi um sonho. Enxergava meu pai como exemplo e queria ter as mesmas experiências que ele teve”. 


O pai relembra que a ideia delas continuarem o seu legado surgiu de uma conversa no momento em que ambas terminavam o Ensino Médio. Ainda jovens, questionaram se o curso técnico de contabilidade serviria para ingresso na Marinha. Ele prontamente fez uma pesquisa e descobriu que as filhas poderiam prestar concurso por meio do Corpo Auxiliar de Praças.

Guido se diz realizado e não esconde a alegria dupla. “Já é inusitado ser pai de gêmeas idênticas, ainda mais pelas duas estarem navegando pelos mesmos mares em que um dia eu passei. Agora, sempre que nos reunimos, trocamos experiências, elas compartilham o dia a dia a bordo e rimos com as famosas histórias de Marinha”, comemora o Suboficial.

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As irmãs no início da carreira, seguindo a trilha do pai – Imagem: Arquivo pessoal


Após concluírem o curso técnico em Contabilidade em 2010, Bruna e Bianca ingressaram juntas em 2011, no Centro de Instrução Almirante Alexandrino, no Rio de Janeiro (RJ). Logo após a euforia da conquista, veio a notícia da separação pela primeira vez na vida quando “as Guidos”, descobriram que não serviriam no mesmo estado.

“Eu fiquei no Rio de Janeiro mesmo, no Colégio Naval, e ela foi para a Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina (SC). Conversávamos todos os dias pelo skype. Fiquei perdida por um tempo e chorava todos os dias”, recorda Bianca.


Ainda Sargento, Guido com as gêmeas sem nem imaginar que elas seriam militares também. Imagem: Arquivo pessoal

Mulheres, mães e militares

Bianca, casada com militar, não é mãe de gêmeas, mas tem duas filhas: Maria Alice, de quatro anos, e Helena, de dois. Ela se considera uma pessoa reservada, séria e de poucos amigos. Bruna, que se diz mais brincalhona e extrovertida, tem uma história quase idêntica à da irmã univitelina, já que também tem uma rotina intensa, é casada com um militar, mas tem uma única filha, Manuella, de 10 anos.

Em uma das experiências juntas, elas foram destacadas para um exercício de Vistoria e Segurança da Aviação e viveram um dia de mar a bordo do Navio-Patrulha “Benevente”. Essa foi a primeira comissão delas embarcadas em um navio da Marinha. Na oportunidade, acompanharam a rotina em alto-mar e diversas atividades militares.

Atualmente, as irmãs servem no Comando do 5º Distrito Naval, em Rio Grande (RS), onde, embora trabalhem com a parte financeira, mas em setores diferentes, mantêm a proximidade no dia a dia.

As pausas para o café e o encontro diário na hora do almoço e do Treinamento Físico Militar (TFM) são momentos de reconexão. “Servir ao lado da minha irmã é maravilhoso, ela é meu alicerce e desde a infância é o meu refúgio. A Bruna sempre foi o meu ímã, responsável por me ligar às pessoas. Ela me deixa mais segura, menos vulnerável, algo que eu não sei explicar”, afirma Bianca.

Para Bruna, “é mais do que ser gêmea, é como ter uma alma gêmea comigo em todos os momentos. Sempre fomos muito unidas, na escola meus pais faziam questão de pedir para que fôssemos da mesma turma e, apesar das diferenças na vida adulta, no fundo, somos bem iguais”.


Irmãs Guido: tanta semelhança que as pessoas demoram a descobrir quem é quem, principalmente na Marinha. (Arquivo pessoal)

Apesar de serem idênticas, elas se enxergam diferentes fisicamente, porém reforçam que os gostos são bem parecidos. Ambas curtem os mesmos ritmos musicais, estilos de se vestir e têm paladar equivalente. 

Tanta semelhança não impede a confusão que as pessoas fazem ao conhecer as duas. A bordo, as chamam por ‘irmãs Guido’ e até conseguirem identificar quem é, leva um tempinho. “Claro que a confusão sempre vem acompanhada de risos e, logo depois, a correção do nome”, diverte-se a gêmea Bianca.

Então aqui vai a dica para os colegas de trabalho que lerem a matéria nunca mais trocar as duas: A Bianca é mais alta, tem uma cicatriz na testa e é botafoguense. A Bruna é flamenguista e nem precisamos dizer que esse é o único assunto que gera divergência entre as filhas do senhor Guido. 

Se depender delas, a confusão nunca vai acontecer. As cariocas foram enfáticas quando o assunto da entrevista foi a famosa pegadinha feita por irmãos gêmeos: “Nunca trocamos de lugar”.


Elas chegaram a servir juntas em 2015, em Niterói (RJ), atualmente servem no Comando do 5º Distrito Naval, em Rio Grande

Fora do ambiente militar, a dupla tem um vínculo ainda mais especial com a família. Bianca e Bruna adoram assistir aos jogos de futebol juntas e a mudança para o sul do país permitiu o reencontro da família, após 10 anos de separação. 

Os pais se mudaram em 2010, Bruna em 2017, Bianca chegou em 2021. “Nossa família sempre foi muito unida, e nosso pai fez questão de fortalecer esses laços. Agora, podemos aproveitar cada momento, como aniversários e almoços de domingo”, conclui Bianca.

Por falar em família, a mãe delas, a Mônica de Carvalho Guido, já chegou logo dizendo: “Olha, aqui até os genros são ‘de Marinha’, só faltou eu também ser oficialmente, mas, na verdade, o ‘Almirante’ sou eu”, brincou a quatro estrelas da casa.

Mônica relembra com humor as tradições familiares, inclusive com o uso das gírias navais no dia a dia e garante que conhece praticamente todas. “Quando estamos conversando sempre têm aquelas palavras que só quem é ‘de Marinha’ conhece”.

Claro que a mãe orgulhosa recordou-se da infância das filhas e entregou a verdade: todos os familiares sempre confundiam as duas, até mesmo o pai. Segundo ela, só uma roupa igual, mas de cor diferente, para ajudar na identificação.

Além do papai Guido, a mãe das Segundos-Sargentos também revela a felicidade em ver as mulheres, mães, militares e filhas que se tornaram. Quanto ao futuro, as gêmeas têm um sonho em comum que é navegar em águas internacionais, de preferência lado a lado, assim como fez o pai.

“Estamos juntas nessa missão, e isso faz toda a diferença. A Marinha é nossa segunda família e estamos prontas para enfrentar o que vier, seja mares tranquilos ou turbulentos”, declara Bruna.

Ingresse nesse sonho

As irmãs gêmeas Bruna e Bianca Guido apostaram na garra e determinação para alcançar o sonho de entrar para a Marinha do Brasil. Na cidade em que a família morava, na época, não tinha curso preparatório, e, por isso, elas focaram nos estudos em casa e conseguiram passar na primeira tentativa.

Esse sonho está ao alcance de todos os candidatos entre 15 e 63 anos. A Marinha do Brasil possui 20 formas de ingresso, com vagas distribuídas pelos níveis fundamental, médio, médio técnico e superior. 

As oportunidades abrangem concursos de carreira e processos seletivos para militares temporários (até 8 anos). Clique aqui e conheça todas as formas de ingresso.

 

Link: https://www.agencia.marinha.mil.br/carreira-naval/farda-em-dose-dupla-jornada-das-gemeas-que-transformaram-lacos-familiares-em-destino
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