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“Na questão climática e energética, o Brasil tem condição de ser imbatível no mundo”, diz Lula à CNN

Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, o presidente falou sobre o G20 e a Aliança Global Contra a Fome, a queda do desmatamento na Amazônia, além do conflito entre Rússia e Ucrânia

Agência Gov | Via Planalto
08/11/2024 18:25
“Na questão climática e energética, o Brasil tem condição de ser imbatível no mundo”, diz Lula à CNN
Foto: Reprodução/CNN Internacional

A entrevista concedida na quinta-feira, 7 de novembro, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, foi ao ar nesta sexta-feira, 8 de novembro.

Os dois conversaram sobre vários temas e a primeira pergunta feita pela jornalista norte-americana foi o que o líder brasileiro esperava de sua relação com o próximo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. “Eu terei com o presidente Trump uma relação de respeito como chefe do Estado brasileiro. E espero que ele tenha uma relação de respeito com o Brasil como chefe do Estado americano”, resumiu Lula.

O presidente destacou ainda a importância do Brasil no diálogo com outros países sobre as mudanças climáticas e o combate ao desmatamento. 


"Quando se trata de discutir a questão climática, a questão energética, o Brasil tem condição de ser imbatível no mundo. O Brasil tem 90% da sua energia energética limpa. E da matriz geral nós temos 50% de energia limpa, quando o mundo só tem 15%. Nesse aspecto da questão climática e da questão energética, o Brasil vai fazer com que as coisas aconteçam aqui", pontuou.


Ao longo da entrevista, Lula e Amanpour trataram de vários temas, como o conflito entre Rússia e Ucrânia, o G20 e a Aliança Global Contra a Fome, e a queda do desmatamento na Amazônia. O presidente brasileiro também expôs sua opinião sobre a necessidade de uma reformulação no atual modelo de gestão das Nações Unidas.

Acompanhe os principais pontos da entrevista:

RELAÇÃO COM DONALD TRUMP – A primeira coisa que nós temos que dizer ao presidente Trump é o seguinte: primeiro, eu acho que nós dois, como chefes de Estado de dois países importantes na América, nós temos que ter uma relação muito civilizada, muito democrática, porque o Brasil tem uma relação privilegiada com os Estados Unidos, nós somos parceiros há muitas e muitas décadas, e eu acho que o estoque de investimento dos Estados Unidos e do Brasil é muito grande. Eu acho que dois chefes de Estado, quando se encontram, nós temos que conversar sobre os interesses dos Estados Unidos e os interesses do Brasil, o que será importante na relação de dois chefes de Estado. E já tive uma belíssima relação com o Bush, quando eu tomei posse em 2003, diziam que eu ia ter dificuldade de ter relações com o Bush, e foi uma relação extraordinária. Eu tive uma boa relação com o Obama e tenho uma boa relação com o presidente Biden. E essa relação deve continuar, porque dois chefes de Estado, quando eles se encontram, o que prevalece é o interesse do Estado, não é o interesse pessoal. O que eu quero discutir com os Estados Unidos é o interesse da relação centenária de Brasil e Estados Unidos. O que os dois países têm que fazer para que a gente possa melhorar a qualidade de vida do povo que nós representamos. E eu quero dizer claramente ao povo americano: eu terei com o presidente Trump uma relação de respeito como chefe do Estado brasileiro. E eu espero que ele tenha uma relação de respeito com o Brasil como chefe do Estado americano. Ora, se nós estabelecemos essa linha de comportamento, de civilidade, de respeito, o resto fica tudo muito mais fácil.

COMBATE AO DESMATAMENTO – Eu tomei a decisão de anunciar que até 2030 nós iremos acabar com o desmatamento na Amazônia. É um compromisso meu da mesma forma. O Brasil vive um momento muito interessante, porque quando se trata de discutir a questão climática, a questão energética, o Brasil tem condição de ser imbatível no mundo. Na produção de energia eólica, na produção de energia solar, na produção de energia de biomassa, na edição de biocombustível, na questão de hidrogênio verde, ou seja, o Brasil tem um potencial extraordinário e nós queremos aproveitar essa chance para que o Brasil tenha, dentre todas as coisas, uma agricultura de baixo carbono. O Brasil tem 90% da sua energia energética limpa. E da matriz geral nós temos 50% de energia limpa, quando o mundo só tem 15%. Nesse aspecto da questão climática e da questão energética, o Brasil vai fazer com que as coisas aconteçam aqui. Daí porque o meu compromisso com o desmatamento na Amazônia. E eu espero que os países ricos contribuam com o dinheiro que eles têm que contribuir, porque manter a floresta em pé custa dinheiro. Porque embaixo de cada copa de árvore tem um indígena, tem um pescador, tem um camponês, e nós precisamos cuidar dessa gente porque eles são seres humanos e precisam viver. É importante que as pessoas que já desmataram nos seus países, que já se industrializaram 200 anos atrás, assumam o compromisso de pagar para os países que têm floresta em pé a preservação da floresta. Porque eu não estarei cuidando apenas da Amazônia. Eu estarei cuidando do planeta Terra, que interessa aos Estados Unidos, que interessa à China, que interessa à Rússia, que interessa ao México, que interessa ao Chile, ou seja, por isso as pessoas têm que ter consciência de que manter a floresta em pé na Amazônia da América do Sul, no Congo e na Indonésia tem um preço. E as pessoas têm que pagar e é isso que nós queremos fazer com que esse crédito de carbono volte a funcionar de verdade para ajudar os países que vão manter sua floresta em pé.

MANUTENÇÃO DO PLANETA – Cabe a todos nós assumir a responsabilidade pela manutenção desse planeta. Nós precisamos garantir que o planeta não seja aquecido a mais de um grau e meio. Nós precisamos garantir que a floresta fique em pé. Nós precisamos garantir que os rios permaneçam caudalosos e permaneçam com água limpa e purificada. Nós precisamos garantir que os biomas de todos os países sejam preservados. Esse é um compromisso que eu tenho, não apenas como presidente do Brasil. Eu tenho como ser humano que habita num planeta chamado Terra.

CONFLITOS, FOME E ANALFABETISMO – O mundo não pode continuar gastando 2 trilhões e 400 bilhões de dólares com guerras e com conflitos quando a gente deveria utilizar esse dinheiro para alfabetizar e alimentar milhões e milhões de pessoas que ainda passam fome e pessoas que são analfabetas no mundo. O que nós precisamos é aprender a cuidar do povo mais pobre para que ele deixe de ser pobre e a gente consiga criar uma economia de consumo nos países pobres que hoje não têm esse direito de consumir. Menos dinheiro com guerra e mais dinheiro com paz é a solução que a gente apresenta para o mundo

G20 E ALIANÇA GLOBAL CONTRA A FOME – Por isso é que o G20 tem como lema principal a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Vai ser um tema muito importante. Depois nós temos um tema, a transição energética e enfrentamento à questão das mudanças climáticas. Depois nós temos outro tema que é a reforma da ONU e das instituições de Bretton Woods . Depois nós temos uma coisa muito importante que é a taxação dos super-ricos. Nós temos 3 mil pessoas no mundo que têm uma riqueza acumulada de quase 15 trilhões de dólares, enquanto isso você tem 733 milhões de pessoas passando fome no mundo. Ao mesmo tempo, nós já fizemos 130 reuniões, já criamos 22 grupos de trabalho e vamos pela primeira vez ter o G20 Social com a participação de gente do mundo inteiro e temos um grupo de empoderamento das mulheres do G20. Ou seja, essas são as novidades e eu estou certo que a gente vai fazer um belo G20 e vamos tirar decisões importantes para ver se a gente torna o mundo mais humanista outra vez.

RÚSSIA X UCRÂNIA – Sós somos um dos primeiros países a criticar a Rússia. Nós dissemos para a Rússia que não era correto a ocupação de território de um outro país. Nós fizemos uma crítica à Rússia muito séria. E dissemos que nós não queríamos participar dessa guerra porque nós somos gente da paz. O Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do mundo e a gente não quer ter contencioso. Quando vieram dizer para o Brasil vender umas armas para que o Zelensky utilizasse, eu disse textualmente: “eu não quero ninguém nem na Rússia, nem na Ucrânia morto com arma brasileira”. Nós queremos a paz. Quando os dois presidentes tiverem juízo e quiserem conversar sobre a paz, o Brasil estará disposto a discutir com os dois países a retomada da paz e a tranquilidade do povo russo e do povo ucraniano. E é por isso que nós fizemos uma proposta junto com a China, que tem seis pontos, e esses pontos só poderão ser conversados efetivamente com os dois presidentes. Nós já participamos de várias reuniões, eu já encontrei com o Zelensky em Nova York, eu já conversei com o Putin por telefone. Por enquanto nenhum dos dois quer discutir paz. Quando eles quiserem discutir paz eu estarei disposto a participar em qualquer fórum para discutir a paz. O mundo precisa de paz para sobreviver pacificamente, de paz para crescer economicamente, de paz para que a gente possa melhorar a qualidade de vida dos seres humanos que estão sendo descartados nesse mundo.

VLADIMIR PUTIN – O problema não é apenas proteger o Putin para não ser preso no Brasil, que essa é a coisa mais fácil de fazer. O problema é que você tem no G20 vários presidentes da República que não ficariam na sala se o Putin entrasse na sala. Todos os países europeus que participam do G20, mais os Estados Unidos, ou seja, o que seria uma coisa muito desconfortável. O que eu acho é que nós precisamos trabalhar para que essa guerra acabe de uma vez por todas e o Putin volte a conquistar o direito, de forma civilizada, de andar no mundo e participar dos eventos. Não é importante para o mundo que quer construir democracia haver um presidente de um país importante como a Rússia isolado, porque ele tomou uma decisão e o Tribunal Internacional o julgou. Eu acho que é importante que a gente saiba que as coisas do Putin vão ser resolvidas quando acabar a guerra com a Ucrânia. Aí ele pode participar de uma reunião do G20 como pode participar o Zelensky. O Zelensky poderia ser convidado. Acontece que eu não quero discutir a guerra da Ucrânia e da Rússia no G20. Eu quero discutir a questão da Aliança Global Contra a Fome, eu quero discutir a questão climática, a questão energética, quero discutir o empoderamento das mulheres, quero discutir coisas que são importantes. Inclusive a mudança da ONU, para que a gente faça com que a ONU se adapte à realidade de 2024 e não ficar com a realidade de 1945. Eu não quero desviar os assuntos principais do G20.

NAÇÕES UNIDAS – Lamentavelmente a ONU está enfraquecida. É importante que a gente volte a valorizar a ONU, que a gente mude os componentes da ONU. Ou seja, não pode ficar só de 45 (1945). É importante que a gente tenha mais gente, que a África participe, que a América Latina participe, para que a gente possa ter uma ONU mais representativa e, quando ela tomar decisão, a gente tenha que cumprir. Porque senão não vale nada tomar decisões nos fóruns internacionais. Nós precisamos ter uma governança mundial forte para que a gente possa aprovar as coisas, decidir as coisas, e cumprir aquilo que a gente aprova e que a gente decide.

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