Lula: “A ONU é da humanidade. É preciso reformular a ONU para que ela tenha força”
Em entrevista ao fim da série de compromissos em Nova York, presidente enfatiza a necessidade de reforma na instituição para que ela represente a geopolítica atual

Ao fim de mais uma passagem do líder brasileiro pela Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Lula concedeu uma entrevista coletiva. Na conversa com jornalistas brasileiros e estrangeiros, fez um balanço dos diversos compromissos de que participou e reforçou a tese de que a ONU precisa estar conectada à geopolítica de 2025 para exercer o potencial para o qual foi criada há 80 anos.
Combate à fome e à pobreza, promoção do desenvolvimento econômico, mediação nos conflitos e enfrentamento dos efeitos da mudança do clima. A ampla maioria dos desafios atuais para alcançar um mundo mais justo passa, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela defesa do multilateralismo. “Todos vocês sabem que defendo uma governança mundial mais forte. É por isso que temos brigado há muito tempo para que a ONU seja reformulada, desde o estatuto até a composição, porque está mal representada", disse
A fotografia de 2025 do mundo não é mais a de 1945. Os países evoluíram, a humanidade evoluiu. É preciso ter mais países, é preciso acabar com o direito de veto. Quando a gente tomar uma posição, que tiver uma votação, é preciso que todos cumpram”, defendeu o presidente.
Para Lula, boa parte dos conflitos recentes no planeta ocorrem e se estendem, também, pela ausência de uma mediação efetiva que conduza as partes a um diálogo.
“A ONU é da humanidade, então é preciso que a gente reformule a ONU para que ela tenha força de evitar guerras como em Gaza, como na Ucrânia. De evitar essa quantidade de conflitos espalhados pelo mundo hoje, e, ao mesmo tempo, a gente tomar decisão para resolver a questão do clima, que pode levar o ser humano a se transformar no primeiro animal vivo capaz de destruir o seu habitat natural”, completou.
Embora essa nova representatividade ainda seja uma meta a ser enfrentada pelo conjunto dos 193 países que compõem as Nações Unidas, Lula avalia que volta ao Brasil com motivo para celebrar. “Eu penso que essa reunião tem uma importância gratificante para o Brasil. Nós queríamos reforçar na ONU a ideia do multilateralismo, da democracia e a nossa COP30, em Belém, na Amazônia, no meio de novembro”, listou.
Ao longo dos três dias em Nova York, Lula participou participou de eventos para divulgar o Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), para discutir a definição das NDCs, debateu caminhos para as democracias e contra o extremismo com líderes de 16 países, teve bilaterais com a presidenta do Peru e com o secretário-geral da ONU, recebeu o rei e a rainha da Suécia, esteve num evento para discutir a solução de dois Estados para o conflito entre Israel e o povo palestino e debateu caminhos para a paz entre Rússia e Ucrânia com o presidente Volodymir Zelensky.
“Todo mundo sabe da minha tenacidade de comportamento na questão de encontrar a paz. Eu não consigo entender por que o mundo quer destruir quando precisamos construir. Não é normal o que está acontecendo na Rússia e na Ucrânia. Não é normal o que está acontecendo em Gaza. Não é normal a quantidade de conflitos que temos, o maior desde 1945”, comentou o presidente.
Lula criticou a quantidade de países gastando trilhões de dólares em armamentos diante do desafio de acabar com a fome, que ainda aflige 670 milhões de pessoas.
“Não é normal a quantidade da desigualdade que ainda existe, de gênero, de raça, de comida, de oportunidades. Cabe à gente usar os recursos que conseguirmos produzir em cada economia para fazer do planeta um habitat para todos os seres humanos, e não apenas para alguns privilegiados”, completou Lula, que celebrou o fato de o Brasil ter saído pela segunda vez do Mapa da Fome em sua gestão.
“É uma demonstração de que se todos os governantes colocarem o pobre dentro do orçamento, a gente acaba com a pobreza rapidamente”, concluiu.
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