COP30

‘Cuidar de seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas, é cuidar das florestas’

Presidente Lula conclama países e setor privado e adotar Fundo Florestas Tropicais Para Sempre como forma de investir em justiça climática. "Os lucros gerados serão repartidos entre os países de florestas tropicais e os investidores."

Paulo Donizetti de Souza | Agência Gov
06/11/2025 15:35
‘Cuidar de seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas, é cuidar das florestas’
Bruno Peres/Agência Brasil

O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) é uma iniciativa encabeçada pelo Brasil para viabilizar pagamentos para países que garantam a conservação das florestas. A iniciativa visa a fortalecer a manutenção das florestas em pé, demonstrando que sua proteção vale mais que a derrubada.

No total, mais de 70 países em desenvolvimento com florestas tropicais podem receber os recursos deste que seria um dos maiores fundos multilaterais já criados no planeta. Em almoço com líderes presentes à Cúpula do Clima, nesta quinta-feira (6/11), em Belém, o presidente Lula apresentou oficialmente a proposta do Governo do Brasil de criação do TFFE, e conclamou países e setor privado a investirem no fundo.

Pela primeira vez na história os países do Sul global terão um protagonismo em uma agenda de florestas. Quando a destruição das florestas atingirem pontos irreversíveis, serão sentidos nos quatro cantos do mundo. As florestas valem mais em pé do que derrubadas", alertou Lula.

O presidente destacou que a construção do projeto do TFFF teve participação de diversas nações e de organizações sociais para suprir uma carência não contemplada pelos fundos já existentes. E explicou: "Os fundos verdes e climáticos internacionais não estão à altura dos desafios que a mudança climática nos coloca. Foi com esse senso de urgência que, desde a COP 28 (Dubai, 2023), reunimos um grupo de países de florestas tropicais e países investidores para desenhar esse mecanismo."

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Lula observou ainda que os ganhos decorrentes das aplicações de investidores no fundo serão destinados aos país detentores de florestas. E parte desses recursos irão para a proteção de povos originários:

Cuidar dos seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas, é cuidar das florestas. A bioeconomia permite conciliar conservação e uso sustentável."

Assista à apresentação e confira a seguir a íntegra do pronunciamento

O Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) que estamos lançando hoje é uma iniciativa inédita.

Pela primeira vez na história os países do Sul global terão um protagonismo em uma agenda de florestas. 

As florestas tropicais cumprem uma função essencial para o enfrentamento à mudança climática.

Elas retêm carbono, garantem fluxos hídricos e protegem a biodiversidade.

Sem elas não temos água para beber e nem para plantar.

Quando a destruição das florestas atingirem pontos irreversíveis, serão sentidos nos quatro cantos do mundo.

As florestas valem mais em pé do que derrubadas.

Elas deveriam integrar o PIB dos nossos países.

Os serviços ecossistêmicos que prestam para a humanidade precisam ser remunerados, assim como as pessoas que protegem as florestas.

Os fundos verdes e climáticos internacionais não estão à altura dos desafios que a mudança climática nos coloca.

Foi com esse senso de urgência que, desde a COP 28, reunimos um grupo de países de florestas tropicais e países investidores para desenhar esse mecanismo.

Contamos com o apoio de organizações internacionais e da sociedade civil.

O TFFF não é baseado em doação.

Seu papel será complementar aos mecanismos que pagam pela redução de emissões de gases de efeito estufa.

Investimentos soberanos de países desenvolvidos e em desenvolvimento vão alavancar um fundo de capital misto.

O portifólio vai se diversificar em ações e títulos.

Os lucros gerados serão repartidos entre os países de florestas tropicais e os investidores.

Os recursos irão diretamente para os governos nacionais, que poderão garantir programas soberanos de longo prazo.

Um quinto dos recursos poderá ser destinado aos povos indígenas e comunidades locais.

Cuidar dos seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas, é cuidar das florestas. 

A bioeconomia permite conciliar conservação e uso sustentável.

O TFFF inova também em sua governança.

Suas instâncias decisórias vão corrigir antigas assimetrias e contarão com a presença, em pé de igualdade, de países investidores e de países de florestas tropicais.

A participação social e de especialistas agregará valor à avaliação e ao aprimoramento do mecanismo.

Todo os anos, o monitoramento por satélite tornará possível identificar se os países estão respeitando a meta de manutenção do desmatamento abaixo de 0,5%.

Reflorestamentos serão contabilizados com o tempo.

A meta é que cada país possa receber até 4 dólares por hectare preservado.

Parece modesto, mas estamos falando de um bilhão e cem milhões de hectares de florestas tropicais distribuídos em 73 países em desenvolvimento.

No evento que organizamos em setembro, em Nova Iorque, o Brasil anunciou que será o primeiro a investir 1 bilhão de dólares nesse fundo.

O Conselho do Banco Mundial aprovou que irá hospedar o mecanismo financeiro e o Secretariado Interino do TFFF, com base em uma nova filosofia.

Em breve, esperamos contar também com o engajamento do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, do Banco Africano e outros bancos regionais.

O TFFF obteve apoio de países das bacias do Amazonas, do Congo e de Bornéu-Mekong.

O Fundo de Florestas Tropicas será um dos principais resultados concretos no espírito de implementação da COP 30.

É simbólico que a celebração do seu nascimento seja feita aqui em Belém, rodeada de sumaúmas, açaizeiros, andirobas e jacarandás.   

Em poucos anos, poderemos ver os frutos desse fundo. Teremos orgulho de lembrar que foi no coração da floresta amazônica que demos esse passo juntos.

Como nos disse o ambientalista brasileiro Chico Mendes: “No começo pensei que estava lutando para salvar as seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”.

Muito obrigado.


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