Presidentes do Brasil e de Portugal entregam Prêmio Camões à poesia de Adélia Prado
A poeta mineira, representada por seu filho Eugênio Prado, recebe o mais importante prêmio da língua portuguesa em cerimônia no Palácio Itamaraty
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou, na noite desta terça-feira (18/2), o Prêmio Camões 2024 à poeta mineira Adélia Prado, representada por seu filho Eugênio Prado, em cerimônia no Palácio Itamaraty. A solenidade contou com a presença do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, que está no Brasil em visita oficial.
Em seu discurso, Lula exaltou a obra da poeta como um reencontro do Brasil consigo mesmo. "A obra de Adélia Prado é uma janela para o coração de todos os brasileiros e brasileiras, e todos os amantes da língua portuguesa. Uma língua com palavras tão belas e únicas, tão especiais e singelas como saudade, coragem e resistência. Palavras que descrevem a potência de Adélia e a força do Brasil", destacou.
"Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia. As pessoas estão no cerne da sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo. Com a presença e o cuidado com que a mãe prepara o café para o pai que faz ‘cerão’. Ou, com que um marido limpa um peixe ao lado da esposa. É também com presença e cuidado que se governa, presença na forma de políticas públicas e serviços públicos de qualidade. Cuidado com os mais vulneráveis e com o meio ambiente. A matéria prima dos poemas de Adélia Prado é a experiência do cotidiano, que se vive nas cozinhas, nas varandas e nos quintais", afirma Lula.
O prêmio é considerado a maior honraria de reconhecimento do mérito literário em língua portuguesa do mundo e foi concedido à poeta em junho de 2024. Em texto lido por Eugênio Prado na cerimônia, Adélia agradeceu a homenagem e destacou a importância da poesia para o povo.
“A celebração da poesia é e será sempre sinal de que um povo preserva o tesouro inestimável de sua língua. Como afirmei certa vez, toda compreensão é poesia. Fiel ao chamado da poesia, qualquer povo encontrará a porta que se abre para a realidade", afirmou Adélia, que não pode comparecer à solenidade por uma fragilidade de saúde.
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Sobre Adélia
Mineira de Divinópolis, Adélia Prado tem 89 anos. Além de poeta, leva os ofícios de professora, filósofa, romancista e contista. Os primeiros poemas foram publicados em jornais da cidade natal e Belo Horizonte. A sua estreia individual só aconteceu em 1975, quando remeteu para Carlos Drummond de Andrade os originais de seus novos poemas. Impressionado com a sua escrita, enviou os poemas para a Editora Imago. Publicado com o nome "Bagagem", o livro de poemas chamou atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo.
Em 1976, o livro foi lançado no Rio de Janeiro, com a presença de importantes personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant'Anna, Clarice Lispector, entre outros. Em 1978 escreveu O Coração Disparado, com o qual conquistou o Prémio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro. Nos dois anos seguintes, dedicou-se à prosa, com Solte os Cachorros em 1979 e Cacos para um Vitral em 1980. Volta à poesia em 1981, com Terra de Santa Cruz. Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prémio Jabuti de Literatura, com o livro Coração Disparado, escrito em 1978.
Sobre o Prêmio Camões
O Prêmio Camões foi instituído pelos Governos do Brasil e de Portugal em 1988, com o objetivo de estreitar os laços culturais entre as nações que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e enriquecer o património literário e cultural da língua portuguesa. Com o nome do maior escritor da história da língua portuguesa - o poeta português Luís Vaz de Camões - o prêmio é atribuído aos autores, pelo conjunto da obra, que contribuíram para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa.
O valor da premiação é de € 100 mil, um dos maiores valores do mundo entre os prêmios literários. A premiação é concedida por meio de subsídio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) e do Governo de Portugal.
Honraria já foi atribuída, por ordem cronológica, a Miguel Torga (Portugal), João Cabral de Mello Neto (Brasil), José Craveirinha (Moçambique), Vergílio Ferreira (Portugal), Rachel de Queiroz (Brasil), Jorge Amado (Brasil), José Saramago (Portugal), Eduardo Lourenço (Portugal), Pepetela (Angola), António Cândido (Brasil), Sophia de Mello Breyner Andresen (Portugal), Autran Dourado (Brasil), Eugénio de Andrade (Portugal), Maria Velho da Costa (Portugal), Rubem Fonseca (Brasil), Agustina Bessa-Luís (Portugal), Lygia Fagundes Telles (Brasil), Luandino Vieira - recusado (Angola), António Lobo Antunes (Portugal), João Ubaldo Ribeiro (Brasil), Arménio Vieira (Cabo Verde), Ferreira Gullar (Brasil), Manuel António Pina (Portugal), Dalton Trevisan (Brasil), Mia Couto (Moçambique), Alberto da Costa e Silva (Brasil), Hélia Correia (Portugal), Radouan Nassar (Brasil), Manuel Alegre (Portugal), Germano Almeida (Cabo Verde), Chico Buarque (Brasil), Vítor de Aguiar e Silva (Portugal), Paulina Chiziane (Moçambique), Silviano Santiago (Brasil) e João Barrento (Portugal).
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