Litoral brasileiro, águas interiores e gelo da Antártica: foi navegando nesses diferentes cenários durante a carreira que o suboficial Bruno Viana dos Santos completou, neste ano,  3 mil dias de mar, tempo correspondente a 8 anos e 3 meses. Atualmente, o militar especializado em mergulho atua em Belém (PA), no Comando do Grupamento de Patrulha Naval do Norte.

O desejo de ingressar na Marinha começou ainda na infância, quando residia em Arraial do Cabo (RJ); foi observando navios e submarinos que patrulhavam a costa do município que nasceu o “sonho de navegar”.

“Desde pequeno, eu mergulhava com amigos e parentes nos barcos pesqueiros de Arraial do Cabo, para ajudar no sustento da minha família. Muitas vezes, me deparei com enormes navios da Marinha do Brasil fundeados na região após exercícios no local. Certo dia quando regressávamos para o Porto da praia dos Anjos percebi que estavam realizando uma operação de mergulho no submarino que se encontrava fundeado na Enseada do Forno, me aproximei discretamente para melhor observação e desde então passei a sonhar com o dia que me tornaria um mergulhador da Marinha.”

Ao finalizar o Ensino Médio, o suboficial Bruno vislumbrou na Escola de Aprendizes-Marinheiros a oportunidade que precisava para se tornar parte da Força.

Desde então, passaram-se 28 anos, mas para o militar, o sentimento de servir à Marinha permanece o mesmo daquele menino que, da praia, admirava os meios navais. Apesar das dificuldades impostas pelas constantes viagens, o mergulhador considera essa missão um propósito de vida. “A vida a bordo é baseada numa rotina de exercícios e adestramentos. Temos algumas privações, como espaço reduzido e comunicação limitada com o continente, mas a satisfação de cumprir nosso dever nos faz superar cada dificuldade”, comentou o militar.

De todas as missões que vivenciou, dois momentos marcaram sua trajetória de forma especial: as viagens a bordo dos Navios de Assistência Hospitalar (NAsH) da Marinha e os dias que realizou atividades de mergulho no continente gelado, a Antártica. Para Bruno, parte da nobreza da profissão está em “levar cidadania para a população ribeirinha. Navegar por lugares inóspitos, correndo riscos de encalhes e abalroamentos (colisões) nas margens, para levar saúde a essas pessoas”, comentou.

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A Antártica também foi fundamental para a conquista desse marco histórico. O suboficial teve a oportunidade de pisar, navegar e mergulhar em um continente ainda desconhecido por muitos. Ele conta: “o mergulho foi muito complexo, por se tratar de águas tão geladas. Nós fizemos coletas de materiais para pesquisa e cooperamos no abastecimento da nossa base e transporte de militares e pesquisadores. Além dos mergulhos, somos responsáveis pelas embarcações que salvaguardam os militares e pesquisadores”, completou.

Com o sentimento de “missão cumprida”, o mergulhador citou a importância da família para compreender a ausência de casa: “minha família e meus filhos compartilham do mesmo orgulho que eu em relação à minha carreira e história. Sempre tive uma esposa que além de me dar muito respeito se comportou como mãe e pai, suprindo assim minha ausência. Nos momentos em que eu estava em casa, sempre tentei fazer com que fossem especiais”, expressou o militar.

Esse mesmo orgulho também toma conta do Suboficial quando ele olha para sua carreira na Marinha. A marca dos 3 mil dias de mar vem com um somatório de experiências, desafios e amizades feitas durante a trajetória. Apesar das dificuldades da vida a bordo, o militar garante: “tenho a certeza de que, se hoje fosse meu primeiro dia no mar, eu faria tudo de novo.”