Rota que vai ligar Sul, Sudeste e Centro-Oeste ao Pacífico deve começar a operar em 2026, diz Tebet
Obras da Rota 4, conhecida como Bioceânica de Capricórnio, estão em fase final; infraestrutura deve reduzir custos logísticos, ampliar comércio com a Ásia e fortalecer a integração

A Rota Bioceânica de Capricórnio, que vai ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico atravessando o Brasil, Paraguai e o Chile, está prestes a ser concluída. É o que garante a ministra do Planejamento e Orçamento (MPO), Simone Tebet. Ela participou nesta quarta-feira (23/4), ao lado do presidente chileno Gabriel Boric, da mesa redonda “Oportunidades de Negócios e Investimentos Brasil-Chile”, realizada no auditório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília (DF).
Segundo a ministra, as obras estratégicas no lado brasileiro já estão previstas no Novo PAC e têm orçamento assegurado. A principal delas, a ponte binacional entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta (Paraguai), estará pronta até maio de 2026. “Acredito que este seja um momento histórico. Um dia na história. Esta fotografia se fará presente como um dos inúmeros passos que estamos dando rumo a um sonho muito antigo, que talvez, há 100 anos, seria uma utopia distante”, declarou a ministra.
O evento na capital federal contou ainda com a participação do ministro da Economia chileno, Nicolás Grau, além de representantes dos setores público e privado dos dois países que tiveram a oportunidade de trocar informações e firmar parcerias. A proposta do encontro foi discutir as oportunidades logísticas, comerciais e industriais abertas com a conclusão do trajeto que integra o programa Rotas de Integração Sul-Americana.
Serão mais de dois mil quilômetros de estradas que ligarão os portos brasileiros de Santos, Paranaguá e Itajaí aos terminais chilenos de Iquique, Mejillones e Antofagasta. Segundo Tebet, a conclusão das obras representará não apenas mais integração entre os países da região, mas um novo canal de comércio entre o Brasil e a Ásia. Com aduanas integradas e logística racionalizada, disse Tebet, os custos com transporte poderão cair até dez vezes em relação ao modelo atual.
“Não há como erradicar a miséria e diminuir a pobreza sem reduzir a desigualdade regional e promover a integração sul-americana. O Brasil não pode continuar de costas para a América do Sul, e a América do Sul não pode seguir de costas para o Brasil”, disse a ministra. Para viabilizar o lado estrangeiro da rota, o Brasil articulou US$ 10 bilhões em financiamentos junto ao BNDES, CAF, BID e Fonplata, voltados à infraestrutura rodoviária, ferroviária, portuária e aduaneira dos países vizinhos.
Em 2024 as exportações brasileiras somaram US$ 337 bilhões. Do total, os países que compõem a América do Sul comercializaram com o Brasil US$ 37 bilhões, 11% do total — o segundo principal destino das exportações brasileiras, com o Brasil vendendo mais para o Chile, Paraguai, Colômbia e Uruguai do que para países como Alemanha, Portugal, Reino Unido e Rússia. O diferencial está no perfil industrial: 85% dos produtos exportados à região têm alto valor agregado, contra apenas 2% das exportações para a China, por exemplo.
“Nós temos condições de dobrar nossas exportações e dobrar nossas importações. Isso significa carne mais barata na mesa do trabalhador chileno e salmão mais barato no prato do brasileiro. Significa integração real, econômica e social”, disse a ministra.
Prioridade chilena
O presidente chileno, Gabriel Boric, destacou a importância do corredor para reduzir prazos e ampliar a competitividade. Segundo ele, seu governo deu prioridade máxima à rota. “Mais importante que falar sobre integração é realizar obras. Estamos muito perto de concluir todas as etapas relevantes para que esse corredor funcione plenamente”, afirmou.
O Chile, disse Boric, identificou gargalos para o funcionamento do corredor, dos quais alguns são considerados indispensáveis, como a aquisição de uma nova grua para o porto de Iquique e o início das obras do molhe de abrigo no porto de Antofagasta, que deve reduzir o tempo de inatividade de 60 para 5 dias por ano. “Estamos muito perto de concluir todas as etapas relevantes para que esse corredor funcione plenamente”, disse. Ele mencionou que o tempo de trânsito pode cair em até 12 dias, se comparado às rotas tradicionais.
O ministro da Economia chileno também participou da mesa redonda. Nicolás Grau afirmou que o plano de ação para a rota bioceânica do lado chileno está estruturado em cinco eixos: segurança, infraestrutura, logística portuária, articulação institucional e oportunidades privadas. O objetivo é tornar o corredor competitivo frente a rotas tradicionais, como o Canal do Panamá e o Estreito de Magalhães. “Queremos que os caminhões saiam carregados do Brasil e voltem carregados do Chile. Há uma enorme oportunidade de complementaridade entre os dois países”, disse.
A rota também abre caminho para o uso estratégico dos tratados de livre comércio chilenos, que cobrem mais de 80% do PIB mundial. Segundo Grau, produtos brasileiros poderão ser processados no Chile e exportados como mercadoria chilena, ganhando competitividade global. O plano inclui ainda incentivos à agroindústria, ao turismo e à geração de empregos com base em cadeias produtivas binacionais.
A integração entre Brasil e Chile pela Rota Capricórnio é uma das cinco frentes do projeto Rotas de Integração Sul-Americana, lançado em 2023 após o Consenso de Brasília. A iniciativa já resultou na criação de uma Comissão Interministerial e na inclusão de 190 obras de infraestrutura no Novo PAC — com destaque para rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e linhas de transmissão.
Se as previsões se cumprirem, até o fim deste governo os oceanos Atlântico e Pacífico estarão ligados por uma via moderna, segura e eficiente, capaz de redesenhar o mapa do comércio sul-americano. Um projeto de Estado que, segundo Tebet, “não é apenas sobre infraestrutura, mas sobre desenvolvimento compartilhado e protagonismo regional”.
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