Lula: 'Devemos o que somos, nossa cor, nossa arte, cultura e jeito de ser, ao continente africano'
Presidente participou, ao lado de ministros de Agricultura da União Africana, do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta segunda-feira (19/5) no Palácio Itamaraty, em Brasília, com ministros da Agricultura da União Africana, da abertura do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, que acontece até a próxima quinta-feira (22).
O evento visa fortalecer as relações do Brasil com países africanos e promover a cooperação baseada na solidariedade e no desenvolvimento sustentável, e reúne delegações oficiais de países africanos, além de representantes de organizações internacionais, bancos multilaterais de desenvolvimento, instituições de pesquisa, organizações e cooperativas da agricultura familiar e entidades do setor privado. O encontro busca, ainda, identificar oportunidades de investimento no setor agropecuário e discutir políticas públicas eficazes contra a fome e a pobreza.
Durante seu discurso, Lula destacou a prioridade da política externa brasileira em relação à África, refletindo laços históricos e interesses convergentes. “Precisamos produzir alimentos e sensibilizar o resto do mundo, criando um processo de indignação na mente das pessoas. Não é possível a gente se conformar que, na primeira metade do século 21, existam 730 milhões de pessoas passando fome. É uma marca que não podemos esquecer”, ressaltou o presidente.
De acordo com Lula, muitas vezes a fome é causada porque aqueles que governam o país não colocam seu combate como prioridade. “Temos condições de mudar isso e determinar uma prioridade: para quem eu quero governar, quem eu preciso atender, a quem o Estado deve servir? Essa é uma decisão que somente nós, governantes, precisamos tomar”, disse.
É triste saber que o mundo gastou US$ 2,4 trilhões em armamentos, no ano passado, e não teve a coragem de gastar isso ensinando as pessoas a acabar com a fome”, lamentou Lula
Em relação à África, o presidente disse que o Brasil tem uma dívida histórica com o continente. “Devemos o que nós somos, a nossa cor, a nossa arte, a nossa cultura, o nosso jeito de ser, ao continente africano. O Brasil não pode pagar isso em dinheiro, isso não pode ser mensurado em dinheiro. Mas podemos pagar em solidariedade e em transferência de tecnologia, para que vocês possam produzir parte daquilo que nós produzimos”, declarou aos ministros da Agricultura presentes à abertura do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural.
“O Brasil pode ajudar, tem como ajudar. Basta que a gente assuma a responsabilidade de tratar vocês com o carinho e respeito que merecem. E saibam que, com a existência das mais modernas técnicas, não tem mais terra improdutiva em lugar nenhum do mundo. Sejam bem-vindos, tirem proveito da visita. Desse momento tem que sair algo diferente”, aconselhou.
COOPERAÇÃO – O embaixador Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, concluiu seu discurso dizendo que para o Brasil as questões africanas não são observadas à distância. “Temos reforçado os vínculos com cada um dos países africanos, em uma cooperação orientada pela solidariedade e respeito mútuos. A expressiva participação de representantes do continente africano no II Diálogo exemplifica a força do Sul Global, num cenário impactado pelas mudanças climáticas”, salientou.
O ministro afirmou, ainda, que espera que as visitas de campo em Brasília e Petrolina (PE) possam inspirar novas iniciativas de cooperação entre o Brasil e os países africanos. “Nos últimos anos, por meio da Agência [Brasileira] de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores, fomos para países africanos em diversas frentes. E temos incentivado a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que já reuniu mais de 180 membros, dos quais 20 são países africanos. Reafirmo a disposição do Brasil em cooperar com os países africanos, de acordo com a realidade de cada país”.
DELEGAÇÃO AFRICANA – A vice-primeira-ministra do reino de Essuatíni, Thulisile Dladla, representou as delegações africanes e afirmou que a convocação para o II Diálogo reflete o compromisso duradouro do Brasil com o Sul Global. “Agradeço a hospitalidade do governo brasileiro ao receber nossas delegações desde que aterrissamos em seu bonito país. O evento aborda a cooperação Sul-Sul, numa história compartilhada entre Brasil e África, com solidariedade pós-colonialismo e a busca constante por justiça. Compartilhamos um legado que mostra nossa resiliência”, disse.
“A necessidade de fortalecer a agricultura familiar e a agricultura de subsistência é urgente, já que sofremos com mudança climática e crise econômica, que afetam nossos agricultores. Quero reafirmar nosso compromisso em torno desse diálogo, testemunho do engajamento e da liderança do Brasil contra a fome e por uma agricultura sustentável. Assumo o compromisso da nossa cooperação para garantir que toda família tenha comida e abrigo. Que isso renda resultados positivos para o nosso povo e planeta”, garantiu Dladla.
INTERCÂMBIO DE CONHECIMENTOS - O Diálogo ocorre após o sucesso da primeira edição, realizada em 2010, e tem como objetivo principal promover o intercâmbio de conhecimentos e experiências bem-sucedidas para aprofundar a cooperação do Brasil com a África e fortalecer a produção alimentar local nos países africanos. Busca, além disso, favorecer a reflexão sobre as experiências brasileiras no setor agrícola à luz das observações das delegações africanas.
O encontro reunirá mais de 40 delegações de países africanos, além de representantes de organismos internacionais, de bancos multilaterais de desenvolvimento, instituições de pesquisa, organizações e cooperativas da agricultura familiar e entidades do setor privado.
PROGRAMAÇÃO - A programação prevê visitas de campo no entorno de Brasília (20/5), abordando temas como agricultura familiar, sistemas de integração, saúde do solo, acervo genético de hortaliças, bioinsumos, reuso de esgoto e comercialização, e em Petrolina, no Vale do São Francisco (21/5), sobre tecnologias para convivência com a seca, rebanho resistente, agricultura irrigada e fruticultura tropicalizada.
Em 22/5, será realizado o “Diálogo de Alto Nível”, com painéis sobre sistemas agroalimentares sustentáveis e resilientes, pesquisa, desenvolvimento e inovação, Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e políticas públicas, e financiamento.
OBJETIVOS - Entre os principais objetivos do II Diálogo estão incluídos: o compartilhamento de experiências em produção agropecuária e aquícola; a troca de conhecimentos e tecnologias; o debate sobre o papel das políticas públicas eficazes, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar); a discussão sobre pesquisa e inovação; a valorização da agricultura familiar e da sustentabilidade; a identificação de novas oportunidades de cooperação técnica; a exploração de alternativas de financiamento e investimentos; a apresentação dos objetivos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
O evento propiciará fortalecimento da cooperação bilateral e multilateral, promoção do compartilhamento de conhecimentos adaptáveis e fomento de parcerias sustentáveis entre o Brasil e os países africanos.
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