Relações exteriores

Investimentos bilionários, cultura, ambiente, segurança: o saldo do Brasil na França

Visita de Lula foi a primeira de um chefe de Estado brasileiro à França em 13 anos e representa a retomada das relações entre as duas nações, iniciada em 2023 e estreitada a partir da visita do presidente francês Emmanuel Macron ao Brasil, em 2024

Agência Gov | Via Planalto
10/06/2025 08:40
Investimentos bilionários, cultura, ambiente, segurança: o saldo do Brasil na França

Foram quatro dias de compromissos, reuniões, agendas culturais e políticas, e de discussões fundamentais para o presente e o futuro das relações entre Brasil e França. A terceira visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país foi relevante sob vários aspectos. A Torre Eiffel iluminada com a bandeira do Brasil demonstrou a dimensão dos encontros de Lula com o presidente da França, Emmanuel Macron. E o maior resultado da visita virá ao longo dos próximos cinco anos: 15 dos maiores investidores franceses que já operam no Brasil anunciaram a intenção de investir R$ 100 bilhões até 2030 no país .

“É preciso que a gente aprenda que um dos papéis do presidente é fazer com que as coisas aconteçam”, disse o presidente Lula ao anunciar os investimentos franceses no Brasil. “[O papel] não é negociar, é criar condições para que nossos empresários, os empresários dos países que a gente visita, possam se encontrar, se conhecer, trocar ideias, construir parcerias.”

Encerrada nesta segunda-feira, 9 de junho, esta foi a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro à França em 13 anos. Desde 2023, as relações entre os dois países passam por amplo processo de retomada, estreitada pela visita do presidente Emmanuel Macron ao Brasil em 2024, quando ele conheceu a Amazônia, e ratificada por esta visita de Lula.

Anteriormente, Lula havia visitado a França em 2005 e em 2009, durante as presidências de, respectivamente, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.

VISÃO CONJUNTA – A agenda em território francês teve início na quinta-feira, 5 de junho, quando os presidentes Lula e Emmanuel Macron reforçaram, após reunião bilateral no Palácio do Eliseu, em Paris, o compromisso de Brasil e França de trabalharem em conjunto para fortalecer relações em áreas como proteção à biodiversidade, comércio exterior, cultura e defesa da democracia e da paz . A declaração à imprensa integrou um dos primeiros compromissos oficiais de Lula na visita de Estado. Foram reforçadas as relações bilaterais e a necessidade do humanismo a serviço do progresso.

Ainda no dia 5 de junho, o presidente Lula ressaltou seu otimismo para firmar acordo entre Mercosul e União Europeia em declaração após reunião com Macron e defendeu que agricultores discutam termos que ainda são desafio ao aval francês e enfatizou que o acordo entre Mercosul e União Europeia será referendado durante a presidência do Brasil no bloco regional, no segundo semestre de 2025.

Lula reforçou seu intuito de assinar um acordo igualmente benéfico para pequenos produtores brasileiros e franceses, por exemplo. “O que eu quero é que os pequenos produtores franceses se juntem com os pequenos produtores brasileiros para a gente saber qual é a diferença, qual é a similaridade que existe entre nós”, disse. 

“Vou repetir ao meu querido companheiro Macron: eu tenho seis meses de mandato no Mercosul. Quero dizer que deixarei a presidência do Mercosul com o acordo União Europeia e Mercosul firmado. E com o companheiro Macron participando da assinatura, para que seja uma boa fotografia”, disse o líder brasileiro. “Abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul. É a melhor resposta que nossas regiões podem dar diante do cenário de incertezas criado pelo retorno do unilateralismo e protecionismo tarifário”, disse Lula.

CONSELHO EUROPEU E PRÍNCIPE — Em Mônaco, no domingo, 8 de junho, Lula participou de almoço de trabalho com o presidente do Conselho Europeu, António Costa , para reforçar a convicção brasileira na aprovação do acordo Mercosul - União Europeia. Eles também trataram da parceria para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA), no fim do ano. Antes de discursar no encerramento do Fórum de Economia e Finanças Azuis , ele se encontrou com o Príncipe de Mônaco, Alberto II, para também tratar do acordo entre os dois blocos econômicos.

GAZA — Em Paris, o presidente brasileiro fez discurso emocionado ao falar sobre a situação dos palestinos e disse que a humanidade precisa se indignar diante da morte de crianças e mulheres inocentes. Lula voltou a dizer que é preciso uma reformulação do Conselho de Segurança da ONU. “A ONU de hoje não pode ser a ONU de 1945. A ONU de hoje tem que ter o continente africano participando, o continente sul-americano participando, o continente latino-americano. Tem que ter países importantes, como a Alemanha, como o Japão. Por que a Índia está fora?”

LEGITIMIDADE - Para o líder brasileiro, a Organização das Nações Unidas precisa ter força para determinar a legitimidade do território palestino. “É preciso que a mesma ONU que teve autoridade para criar o Estado de Israel tenha autoridade para preservar a área demarcada em 1967 (para a Palestina). É importante que as potências mundiais deem logo um basta nisso. Não pode a ONU ficar falando sobre um cessar-fogo e não se respeita o cessar-fogo”, defendeu Lula.

UCRÂNIA — Os dois presidentes também se posicionaram sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e defenderam as negociações para encerrar o conflito . “O Brasil, desde o começo dessa guerra, se posicionou contra a ocupação territorial no território ucraniano e, ao mesmo tempo, se posicionou contra a guerra. A guerra não constrói nada. Ela destrói. A parte mais sagrada que é destruída não volta, que são os seres humanos que morreram. Então, eu continuo com essa posição”, afirmou Lula.

“Há um agressor, a Rússia, um agredido, a Ucrânia. Todos queremos a paz, mas os dois não podem ser tratados em pé de igualdade. Americanos, brasileiros, chineses, indianos, devemos todos fazer pressão sobre a Rússia para que ela ponha um termo a esta guerra, a este conflito, que possa ser negociada uma paz robusta e que a guerra não possa voltar”, declarou Emmanuel Macron.

 


ACADEMIA FRANCESA – Lula foi recebido e homenageado, na quinta-feira, 5 de junho, em Paris, pelos Imortais da Academia Francesa. Durante o encontro, o presidente Lula recebeu uma medalha de honra concedida a apenas 19 chefes de Estado ao longo de 400 anos, entre eles o imperador Dom Pedro II, em 1872 . “A ligação entre a ABL e a Academia Francesa é testemunho da comunhão de mentalidades entre dois países que entendem que a palavra, para seguir plena e viva, precisa de instituições que a cultivem, a promovam e a defendam”, afirmou o presidente Lula durante seu discurso oficial.

PREFEITA DE PARIS E COMUNIDADE BRASILEIRA – O presidente Lula participou de encontro com a comunidade brasileira na prefeitura de Paris no mesmo dia, acompanhado da prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo . Ao discursar para um grupo formado por parte dos 90 mil brasileiros que vivem na França, Lula reforçou a sua dedicação à promoção de políticas públicas que beneficiem a todos.

TORRE EIFFEL VERDE E AMARELA – O primeiro dia de visita de Estado de Lula à França foi encerrado com uma homenagem com o principal cartão postal de Paris, a Torre Eiffel , iluminada em verde e amarelo em referência à presença do presidente brasileiro e de sua delegação.

DOUTOR HONORIS CAUSA – Lula também enfatizou o potencial emancipador da educação ao receber título de Doutor Honoris Causa na França , durante homenagem na Universidade Paris 8, conhecida pelo propósito de democratizar o acesso ao ensino superior e com forte vínculo com a classe trabalhadora, com públicos marginalizados e imigrantes.

LIVRE DA AFTOSA – Lula celebrou ainda a classificação aguardada pelos produtores brasileiros há seis décadas: o título que certifica o Brasil como país livre da febre aftosa sem vacina . O documento foi entregue a Lula e ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, pela diretora da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), Emmanuelle Soubeyran. Com ele, o Brasil, maior exportador de proteína animal do planeta, pode ampliar ainda mais as exportações e reforçar sua posição de destaque no setor.

INTERCÂMBIO CULTURAL – Acompanhado do presidente Macron, Lula visitou, na manhã do dia 6, a exposição Nosso Barco Tambor Terra, do artista visual carioca Ernesto Neto, e exposta no Grand Palais, em Paris , de 6 a 23 de junho.

Ao lado do presidente Macron, Lula visitou, a exposição Nosso Barco Tambor Terra, do artista carioca Ernesto Neto, e exposta no Grand Palais, em Paris
Ao lado do presidente Macron, Lula visitou, a exposição Nosso Barco Tambor Terra, do artista carioca Ernesto Neto, e exposta no Grand Palais, em Paris

O ano de 2025 é o Ano do Brasil na França e, até setembro, serão reunidos trabalhos de jovens artistas brasileiros contemporâneos. Ao todo, cerca de 300 eventos brasileiros estão sendo realizados em 50 cidades francesas dentro da temporada de intercâmbio cultural.

FÓRUM EMPRESARIAL – Na sexta-feira, 6 de junho, o presidente participou do encerramento do evento empresarial em que foram anunciados investimentos de R$ 100 bilhões no país nos próximos cinco anos . Lula reafirmou estar determinado a elevar a parceria estratégica com a França. “Esse é um momento extraordinário para a gente fortalecer as relações democráticas, as relações comerciais, as relações políticas, as relações econômicas e as relações culturais”, frisou.

Lula participou do encerramento do evento empresarial em que foram anunciados investimentos de R$ 100 bilhões no país nos próximos cinco anos
Lula participou do encerramento do evento empresarial em que foram anunciados investimentos de R$ 100 bilhões no país nos próximos cinco anos

BALANÇO EM COLETIVA – Em coletiva de imprensa concedida pelo presidente Lula no sábado, 7 de junho, em Paris, ele apresentou um balanço das agendas cumpridas no país parceiro e celebrou que empresários franceses tenham anunciado R$ 100 bilhões em investimentos no Brasil nos próximos cinco anos.

A França é a terceira maior origem de investimentos diretos no Brasil, com US$ 66,34 bilhões em estoque. Em 2024, a corrente comercial entre Brasil e França atingiu US$ 9,1 bilhões, crescimento de 8% na comparação com o ano anterior. Estima-se que mais de mil empresas francesas atuem no Brasil, sendo diretamente responsáveis pela geração de cerca de 500 mil postos de trabalho no mercado brasileiro. Para Lula, há muita margem para ampliar esse fluxo.

Ainda durante a coletiva, Lula reafirmou que o acordo Mercosul – União Europeia reforça o multilateralismo beneficiaria uma população de 722 milhões de pessoas e um PIB em torno de US$ 22 trilhões. Além disso, reassegurou que a COP30, em Belém (PA), será um espaço sério para discussão focada na construção efetiva de formas de financiamento internacional que permitam ao planeta evitar o aumento de 1,5 graus celsius de temperatura, patamar considerado pela comunidade científica como limite para evitar os impactos mais drásticos da mudança do clima.

PRESERVAÇÃO DE OCEANOS — No Dia Mundial dos Oceanos (domingo, 8 de junho), o presidente Lula discursou no encerramento do Fórum de Economia e Finanças Azuis, em Mônaco, mencionando a omissão dos países ricos com o financiamento do desenvolvimento sustentável e apontou caminhos para a preservação dos oceanos . O evento se conecta à Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, que está sendo realizada em Nice, na França . O presidente Lula enfatizou a necessidade de a comunidade internacional se voltar para a efetiva conservação e uso sustentável dos recursos marinhos, prevista no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 da Agenda 2030. “Ou agimos ou o planeta corre risco”, resumiu, durante sua participação no evento, na segunda-feira, 9 de junho, quando apresentou sete compromissos voluntários do país relativos à proteção de áreas marinhas.

INTERPOL – O último compromisso da visita foi uma visita à sede da Interpol, em Lyon, onde o presidente Lula fez história duas vezes. Ele foi o primeiro presidente brasileiro a visitar a instituição, e também foi recepcionado pelo primeiro brasileiro a liderar a mais antiga organização policial do mundo, Valdecy Urquiza, secretário-geral da Interpol . Acompanhado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o presidente Lula firmou uma Declaração de Intenções para o combate ao crime organizado.

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