Ipea lança documento que sistematiza ações do Brics desde o seu surgimento
O objetivo é fortalecer a governança do grupo e servir de referência para os países que passaram a integrar o bloco recentemente ou que pretendem aderir futuramente.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou, nesta quinta-feira (26), um portfólio que reúne os mais de 180 mecanismos de cooperação desenvolvidos pelos países membros do Brics desde a fundação do bloco. A apresentação do documento ocorreu durante o segundo dia do 17º Fórum Acadêmico do Brics (Fabrics), realizado na sede do Serpro, em Brasília, nos dias 25 e 26.
O documento sistematiza as principais iniciativas implementadas ao longo dos anos, com o objetivo de fortalecer a governança do grupo e servir de referência para os países que passaram a integrar o bloco recentemente ou que pretendem aderir futuramente.
De acordo com Walter Desiderá, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, a publicação consolida informações importantes para o fortalecimento institucional do Brics. “O portifólio traz uma documentação das atividades e resultados propostos pelo Brics e se propõe como referência para adesão de novos participantes do bloco. Ele também apresenta um histórico sobre quais mecanismos tiveram resultados e engajamento dos países participantes”, afirmou.
A presidenta do Ipea, Luciana Santos Servo, ressaltou o caráter contínuo da iniciativa. “A entrega do documento é simbólica, pois essa documentação continuará em desenvolvimento, servindo como uma base de dados dos mecanismos propostos e implementados”, destacou. A entrega do portfólio ocorreu após as mesas de discussões.
Além da entrega do documento, a diretora de Estudos Internacionais do Ipea, Keiti da Rocha Gomes, celebrou o sucesso do FABrics 2025. “O sentimento que fica é que a gente realmente está trabalhando em conjunto para construir um mundo melhor. Durante os dois dias, foram feitas discussões do mais alto nível sobre temas estratégicos que estão em pauta no cenário geopolítico e que também estão alinhados à presidência brasileira do Brics”, disse.
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Clima, arquitetura de segurança e desenvolvimento institucional
Sob coordenação do Ipea, o Fórum Acadêmico realizou ciclo de debates estratégicos sob a presidência brasileira do Brics. Participaram representantes de think tanks de nove países, com discussões organizadas em torno de seis eixos prioritários: saúde global, inteligência artificial, mudanças climáticas, comércio e finanças, reforma da governança internacional e desenvolvimento institucional.
A primeira mesa do segundo dia de evento abordou o tema Mudanças Climáticas. Os painelistas alertaram para os impactos desproporcionais da crise do clima nos países em desenvolvimento, como os da África Subsaariana. A discussão reforçou a urgência de buscar soluções que promovam justiça climática e tratem também das desigualdades regionais e da pobreza.
“É preciso buscar o net zero, ao mesmo tempo em que solucionem os problemas sociais de países em desenvolvimento. Temos um desafio enorme de investimento, e uma das soluções para isso pode ser a implementação de projetos sustentáveis financiados pelo New Development Bank (NDB), além do desenvolvimento de plataformas de compartilhamento de informações e tecnologias entre países”, afirmou Mulugeta Getu, pesquisador-líder e coordenador do Policy Studies Institute da Etiópia. A mesa também discutiu recomendações conjuntas para a COP 30, estratégias de transição energética justa e a reforma da governança climática global.
Na segunda mesa, o foco foi a reforma multilateral da paz e da arquitetura de segurança. Os participantes defenderam o fortalecimento do sistema multilateral, com destaque para a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja configuração atual não reflete a dinâmica contemporânea e a emergência de novas vozes do Sul Global.
O técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Rodrigo Morais destacou a perspectiva brasileira sobre segurança, baseada em confiança mútua, não intervenção e proteção não apenas estatal, mas centrada em pessoas e infraestrutura. “A manutenção da paz, o pacto de não agressão entre os membros e o estabelecimento de mecanismos de confiança são elementos centrais da visão do Brics”, afirmou.
A mesa também discutiu o papel do bloco na mediação de conflitos internacionais. Para a professora Nirmala Gopal, da Universidade de KwaZulu-Natal (África do Sul), é fundamental que o Brics vá além do discurso. “O posicionamento precisa sair do campo do debate retórico e político e passar a atitudes concretas que fortaleçam as instituições multilaterais”, disse.
O painel sobre Decelebrou a expansão recente do Brics, que passou a contar com seis novos países membros em 2024 — Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã —, mas também enfatizou os desafios para estruturar e ampliar os mecanismos de cooperação. Entre as propostas apresentadas, estão a criação de modelos institucionais mais claros, estruturas de monitoramento de resultados e até mesmo um escritório permanente que assegure a memória institucional do grupo.
“Precisamos desenvolver essa estrutura para ampliar a relevância da atuação do Brics. Sem cooperação estratégica, fica muito difícil o desenvolvimento institucional. Para isso, é preciso se organizar, definir as escolhas para entender qual o futuro pretendido, como fortalecer a unidade do bloco, avaliar possíveis reformas, além de ter uma visão clara das questões mais críticas entre os países participantes”, defendeu Haimanot Guangul, pesquisador sênior e ponto focal do Brics no Institute of Foreign Affairs da Etiópia.
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