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Brasil e Índia podem ser motores de novo modelo de desenvolvimento, afirma Lula

Presidente destacou parcerias com país asiático em visita oficial do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em Brasília

Agência Gov
08/07/2025 15:49
Brasil e Índia podem ser motores de novo modelo de desenvolvimento, afirma Lula
Ricardo Stuckert /PR
Presidente Lula durante cerimônia oficial de chegada do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, realizou visita oficial a Brasília nesta terça-feira (8/7), logo após a Cúpula do Brics, a convite do presidente Lula. A visita reforça o compromisso do Brasil em ampliar o diálogo político e aprofundar a cooperação com a Índia, parceira diplomática do país há quase 80 anos.

Lula destacou que desde 2006, Brasil e Índia mantêm parceria estratégica e compartilham posições convergentes em temas centrais da agenda multilateral, como combate à fome, reforma da governança global e desenvolvimento sustentável.

A Índia é atualmente o décimo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o comércio bilateral totalizou US$ 12 bilhões, com crescimento de 24% nos cinco primeiros meses de 2025. As exportações brasileiras chegaram a US$ 5,26 bilhões, com destaque para açúcar, petróleo bruto, óleos e aviões. As importações somam US$ 6,8 bilhões, fazendo da Índia a sexta maior origem de importações para o Brasil.


Declaração à imprensa do presidente Lula durante visita do primeiro-ministro da Índia

É uma enorme satisfação receber o primeiro-ministro Modi.

Dois países superlativos como a Índia e o Brasil não podem permanecer distantes.

A solidez das nossas democracias, a diversidade das nossas culturas e a pujança das nossas economias nos atraem.

Estive à frente da celebração da Parceria Estratégica Brasil-Índia em 2006.

Muita coisa mudou desde então.

As ameaças à paz, à prosperidade e ao planeta se avolumam.

Reiterei ao primeiro-ministro Modi minhas condolências pelo recente atentado na Caxemira, reafirmando nosso repúdio a todas as formas de terrorismo.

A negociação de um cessar-fogo entre Índia e Paquistão é exemplo de sensatez para o mundo.

Como membros do G20 e do BRICS, atuamos em defesa do multilateralismo e em prol de uma governança global mais inclusiva.  

O Primeiro-Ministro Modi afirmou corretamente, na Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, que é impossível rodar um software do século 21 em velhas máquinas de escrever do século 20.

É inaceitável que países do porte da Índia e do Brasil não ocupem assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU.

Somos aliados naturais na resposta a um dos maiores desafios do nosso tempo: a erradicação da fome e da pobreza e o enfrentamento à mudança do clima.

Agradeci ao primeiro-ministro Modi a participação indiana na Aliança Global contra a Fome a Pobreza.

Nossa pecuária deve muito à Índia. 90% do rebanho zebuíno brasileiro é resultado de 60 anos de intensa cooperação bilateral em melhoramento genético.

O Estado natal do Primeiro-Ministro, Gujarat, é de onde provêm essas matrizes.

O acordo entre a Embrapa e o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola estimulará projetos de inovação na produção de alimentos.

Chegaremos à COP 30 como líderes da transição energética justa.

Mostraremos que é possível aliar redução nas emissões de gases de efeito estufa e crescimento econômico e inclusão social.

Em agosto, o Brasil e a ONU realizarão em Nova Délhi a segunda rodada do Balanço Ético Global, para mobilizar a sociedade civil de todo o mundo em preparação à COP30.

A candidatura da Índia para sediar a COP 33 fortalece o protagonismo dos países emergentes no enfrentamento à mudança do clima.

Brasil e Índia podem ser os motores de um novo modelo de desenvolvimento baseado em energias limpas. 

Já somos parceiros da Aliança Global para Biocombustíveis, lançada na presidência indiana do G20.

A Índia é o mercado de bioenergia que mais cresce no mundo.

O país estabeleceu como meta ampliar para 20% a mistura de etanol na gasolina e para 5% a proporção de biodiesel no óleo diesel.

O Brasil tem meio século de experiência com biocombustíveis e é pioneira em motores flex.

Já adicionamos 30% de etanol à gasolina e 15% de biodiesel ao diesel.

Convidei a Índia a se somar ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que vai remunerar países que preservam suas florestas.

O futuro da nossa relação também se assentará em dois outros importantes pilares: desenvolvimento tecnológico e defesa.

As políticas indianas de infraestruturas públicas digitais, baseadas em dados, códigos e modelos abertos, se contrapõem à dinâmica concentradora de empresas privadas.

Queremos criar com a Índia um centro de excelência para trazer esse potencial ao Brasil.

Temos interesse em colaborar no desenvolvimento e na produção de vacinas e medicamentos, a fim de fortalecer o complexo industrial da saúde brasileiro.

Com suas missões à Lua, a Índia firmou-se como exemplo de sucesso na exploração espacial.

Tivemos o apoio indiano para o lançamento do Amazônia 1, o primeiro satélite projetado e operado inteiramente pelo Brasil.

Em um mundo cada vez mais polarizado, a busca por autonomia aproxima nossas políticas de defesa.

Os três comandantes das Forças Armadas brasileiras visitaram a Índia desde o início do governo.

Expus ao Primeiro-Ministro Modi a disposição da EMBRAER de consolidar sua presença na Índia em parceria com empresas locais, com transferência de tecnologia e formação profissional.

Os aviões da empresa podem ajudar o país a concretizar o plano UDAN para que “todos os indianos possam voar”.

Assinamos hoje um Acordo sobre Combate ao Terrorismo e ao Crime Organizado Transnacional que ampliará nossa cooperação.

Como parte desse esforço, a Polícia Federal abrirá uma adidância em Nova Délhi.

O aprofundamento da nossa parceria também depende do adensamento das relações econômicas.

Nosso fluxo comercial de 12 bilhões de dólares não está à altura das nossas economias.

Quando estive na Índia, há 20 anos, tínhamos como perspectiva chegar a 15 bilhões de dólares.

Estamos determinados a acelerar essa meta, triplicando esse valor em curto prazo.

Desde a cúpula do G20 em Nova Délhi, em setembro de 2023, mais de 70 missões brasileiras de promoção comercial e de investimentos foram à Índia.

No mesmo período, recebemos aqui 40 visitas técnicas indianas.

O Conselho Empresarial que criamos nesta visita vai multiplicar canais entre empresários e conexões entre cadeias produtivas.

Agradeci ao primeiro-ministro Modi a recente abertura do mercado indiano para o frango e o algodão brasileiros.

A ampliação do acordo MERCOSUL-Índia pode contribuir para reduzir as barreiras tarifárias e não-tarifárias que ainda obstruem nosso comércio.

Atualmente, apenas 14% das exportações brasileiras para a Índia estão cobertas pelo acordo.

Caro amigo Modi,

Em um mês, será comemorado o “Raksha Bandhan”, tradição indiana que celebra o vínculo entre irmãos.

Que o simbolismo dessa festividade nos inspire a aprofundar os laços que juntos construímos hoje.


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