Tebet e o xadrez geopolítico: 'Sem biquinho, estamos fazendo a lição de casa'
Em encontro empresarial, Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, diz que mundo não será mais o mesmo após tarifas dos EUA e destaca que Brasil já está fazendo o dever de casa para não ser pego de surpresa

Em meio às incertezas provocadas por possíveis tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, reforçou a necessidade de diversificar mercados, fortalecer a integração regional e ampliar os investimentos em infraestrutura. A avaliação foi feita durante o evento “Logística no Brasil”, realizado nesta quarta-feira (30/07), em São Paulo.
Segundo ela, a principal frente de resposta está na estratégia nacional de logística e infraestrutura com horizonte de 25 anos. “Ninguém tem bola de cristal, mas, conversando com todos os setores, a gente percebe algo evidente: o mundo não será mais o mesmo [diante das novas barreiras].” afirmou a ministra.
Segundo Tebet, a taxação brasileira tem uma motivação diferente de casos como União Europeia e Japão, em que a economia americana apresenta déficit comercial. A ministra questionou qual seria, de fato, o interesse dos Estados Unidos nas recentes discussões comerciais com o Brasil, sugerindo que as motivações envolvidas vão além do desequilíbrio na balança comercial.
Nesse cenário da geopolítica mundial absolutamente diferenciada, nós não podemos ficar fazendo biquinho, nem chorar, nós temos que fazer o dever de casa. E nós já estamos fazendo dever de casa preparando o Brasil para o futuro”, disse Simone Tebet
“O Ministério do Planejamento e Orçamento, junto com o Ministério dos Transportes, o Ministério de Portos e Aeroportos e outros ministérios, está elaborando, dentro da Estratégia Brasil 2050, um plano de longo prazo que será entregue este ano na COP 30 pelo Governo do presidente Lula. Esse plano traz um capítulo fundamental para o desenvolvimento econômico sustentável do Brasil, voltado à infraestrutura e à logística”, explicou.
Tebet destacou que o plano vai além das rodovias, integrando modais ferroviário, portuário, aeroportuário e hidroviário. “O Governo do presidente Lula não fala de transporte único e exclusivamente no que se refere a rodovias, fala de ferrovias, portos, aeroportos, cabotagem dentro de uma estrutura nacional de planejamento. E falar que nós temos sim um plano nacional de logística pros próximos 25 anos só me dá motivo de orgulho”, disse durante o evento na capital paulista.
Segundo a ministra, um dos pilares do plano é ampliar a inserção internacional do Brasil por meio de corredores logísticos mais ágeis e competitivos. Nesse contexto, o programa Rotas de Integração Sul-Americana desempenha papel central. “Elas são fundamentais. A gente precisa chegar mais rápido, de forma mais eficiente pelo Pacífico, à Ásia. O caminho mais curto [para acessar novos mercados] é pelo Pacífico”, afirmou.
Saiba mais sobre as ações do Governo Federal para enfrentar o tarifaço de Trump
Ela citou como exemplo o projeto ferroviário que ligará Ilhéus (BA) ao Peru, com apoio técnico da China. “Vamos fazer pela primeira vez rasgar esse Brasil numa ferrovia de leste a oeste […] ligando Ilhéus, passando pela Bahia, passando por Goiás, passando por Rondônia, Acre, chegando ao Peru, no porto de Chancay, para chegar à Ásia. São 6.000 km no total, 4.000 e pouco no Brasil e 2.000 km no Peru.”, explicou. Para a ministra, todos esses esforços demonstram que o Brasil está se preparando para o futuro, com uma visão estratégica de longo prazo.
Comércio regional precisa aumentar
Nesse novo cenário de reconfiguração comercial, a ministra destacou a importância de ampliar e aprofundar as relações do Brasil com diferentes blocos econômicos, como Mercosul, União Europeia e BRICS, a fim de diversificar parcerias e fortalecer a posição do país no comércio internacional. Tebet ressaltou que a América do Sul representa uma oportunidade imediata de expansão comercial.
“Quando a gente olha, a relação comercial do Brasil com a América do Sul e vice-versa é de 14%. Então, aí tem uma janela de oportunidade […] na área inclusive do turismo […], mas também na comercial que se refere a serviços e a produtos e produtos elaborados, não só semielaborados, explicou.
Nesse contexto, a ministra também defendeu o fortalecimento das relações com os BRICS. “Embora seja sabido que um dos grandes complicadores dessa equação geopolítica é a preocupação dos Estados Unidos com a China e a proximidade do Brasil com os países do BRICS, é importante lembrar que os BRICS não são o problema. Para o Brasil, eles são hoje parte da solução.”, ressaltou a ministra.
Tebet reforçou que o Brasil depende desses países tanto para importação de insumos estratégicos quanto para a exportação de commodities e produtos da agroindústria. “Nós não vivemos sem os fertilizantes da Ucrânia e da Rússia e nós não vivemos sem exportar as nossas commodities e a agroindústria em especial para os países da Ásia.”, disse.
De acordo com a ministra, o país precisa construir bases sólidas para enfrentar futuros desafios com autonomia e resiliência. “A gente não pode ficar sujeito a intempéries como a que acabou de acontecer pegando um mundo de surpresa”, afirmou.
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte