Guia do Capacitista em Desconstrução reforça o compromisso do Governo do Brasil com o paradesporto
Transformar o modo como o esporte fala, enxerga e se relaciona com as pessoas com deficiência consolida a inclusão como política pública e prática cotidiana
A frase surge sem alarde, quase automática. “Ele é um exemplo de superação.” Dita à beira da quadra, na arquibancada ou diante de uma câmera, a intenção parece positiva. Mas, por trás do elogio, esconde-se uma armadilha: ao reduzir a trajetória esportiva à deficiência, a fala desloca o foco do treino, da técnica e da estratégia para uma narrativa de sofrimento permanente e heroísmo obrigatório. É assim que o capacitismo se instala — não no ataque direto, mas naquilo que se repete como costume.
Foi para romper com esse tipo de naturalização que o Ministério do Esporte lançou, em 1º de setembro de 2025, o Guia Capacitista em Desconstrução , um dos principais legados da pasta neste ano. Para o ministro do Esporte, André Fufuca, enfrentar o capacitismo é parte indissociável da construção de políticas públicas comprometidas com a cidadania. “O esporte precisa ser um espaço onde todas as pessoas sejam respeitadas em sua integralidade. O guia nos convida a rever palavras, atitudes e práticas que, muitas vezes sem intenção, reforçam exclusões. Estar atento a isso é fundamental para garantir direitos e promover inclusão”, afirmou o ministro.
A publicação integra o conjunto de ações do Ministério voltadas à promoção da inclusão, da diversidade e da acessibilidade, somando-se à expansão de programas como o TEAtivo . Com linguagem acessível e exemplos do cotidiano, o guia propõe um processo de letramento anticapacitista, começando pela forma como nos expressamos.
Ao tratar do capacitismo linguístico, o material orienta a substituição de termos ultrapassados por expressões corretas e respeitosas, explicando por que palavras como “portador de deficiência”, “deficiente mental” ou “surdo-mudo” desumanizam e reforçam estigmas históricos. Mais do que listar o que não deve ser dito, o guia convida à reflexão sobre o impacto das palavras na construção de relações e ambientes.
No esporte, o guia é direto ao afirmar que o desempenho de atletas com deficiência não deve ser narrado como exceção ou superação pessoal. O esporte, destaca o material, é resultado de trabalho, treino, talento e estratégia. Colocar a deficiência como elemento central da narrativa distorce o sentido da prática esportiva e reforça estereótipos.
O conteúdo também aborda situações recorrentes no ambiente de trabalho e no convívio social, como a infantilização de adultos com deficiência, a exclusão de processos decisórios, a presunção de incapacidade para liderar projetos ou a desigualdade de reconhecimento e remuneração. Em todos esses casos, o capacitismo se manifesta de forma estrutural, indo além de atitudes individuais.
Interseccionalidade
Outro eixo central da publicação é a interseccionalidade. O guia reconhece que o capacitismo se entrelaça a outros preconceitos, como racismo, sexismo, LGBTQIAPN+fobia, classismo, etarismo e xenofobia, ampliando desigualdades e barreiras. Enfrentá-lo exige, portanto, um olhar atento à complexidade das experiências e ao protagonismo das pessoas com deficiência.
Para o secretário Nacional do Paradesporto, Fábio Araújo, o guia representa um passo decisivo na transformação cultural necessária para garantir inclusão efetiva no esporte e na sociedade.“O Guia Capacitista em Desconstrução é essencial porque transforma consciência em ação. Ele mostra como o capacitismo aparece no dia a dia e como isso cria barreiras que afastam pessoas com deficiência do esporte e da vida em sociedade. O desafio é cultural e diário. É rever práticas, linguagem, estruturas e a forma como acolhemos as pessoas. O esporte é uma das ferramentas mais poderosas para essa mudança, mas só cumpre esse papel quando a inclusão é real”.
“O recado presente no Guia é simples: respeito e acessibilidade não são favor. São direitos. E o guia é um passo concreto para acelerar essa transformação”, complementou.
Em 2025, o Ministério do Esporte também lançou o Guia de Atividade Física para Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) , que reúne bases conceituais, orientações para avaliação, planejamento de intervenções e monitoramento de resultados, ampliando o acesso à prática esportiva em diferentes contextos.
Ao lançar o Guia Capacitista em Desconstrução , o Ministério do Esporte consolida um marco na promoção do letramento anticapacitista e reafirma que acessibilidade não é favor, mas direito. No esporte e fora dele, mudar a linguagem é o primeiro passo para transformar práticas e garantir que a diversidade seja reconhecida como parte essencial da vida em sociedade.
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