Povos indígenas

Iniciativa alia plataforma digital e conhecimento em saúde indígena com foco na redução da mortalidade materna

Projeto “Telemonitoramento de Pré-Natal de Alto Risco no Estado do Amazonas” reúne profissionais do HUGV-Ufam/Ebserh e do DSEI Médio Rio Solimões e Afluentes no interior do Amazonas

28/07/2023 12:29
Iniciativa alia plataforma digital e conhecimento em saúde indígena com foco na redução da mortalidade materna

 

Compartilhar saberes com foco na redução da mortalidade materna, utilizando a tecnologia alinhada à experiência assistencial local. Esse é o objetivo de uma capacitação iniciada na quarta-feira, 26, e que segue até hoje, sexta-feira, 28, no Auditório do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Médio Rio Solimões e Afluentes. Especialistas do Hospital Universitário Getúlio Vargas da Universidade Federal do Amazonas (HUGV-Ufam), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estão no município de Tefé (localizado a 523 km da capital amazonense), levando conhecimento e tecnologia, que irão facilitar o acesso de adolescentes e mulheres das localidades da região a um pré-natal seguro.

Além de temas relacionados ao pré-natal, a capacitação tem outro importante objetivo: informar os participantes sobre a plataforma Telepnar (Telemonitoramento de Pré-Natal de Alto Risco no Estado do Amazonas) e orientar sobre seu uso no dia a dia. “Nós desenvolvemos uma plataforma digital que denominamos de Telepnar. Mediante um treinamento prévio para profissionais de saúde dessas localidades remotas, tanto médico quanto enfermeiros, eles ficam habilitados a inserir, nessa plataforma, os dados das pacientes que se enquadram nesse perfil de gravidez de alto risco. Ou seja, situações como diabetes gestacional, hipertensão na gravidez, eclâmpsia, enfim, fatores que podem agravar a gravidez e ter um desfecho desfavorável, qual seja, internação em situação grave dessa paciente ou até óbito materno-infantil, materno-neonatal”, explica o médico Pedro Elias Souza, chefe da Unidade de E-saúde do HUGV-Ufam/Ebserh.

Pedro Elias também destacou o papel da Rede Ebserh, por meio do HUGV-Ufam, nesse projeto. “O Hospital Universitário Getúlio Vargas, que integra a Rede Ebserh e é da Universidade Federal do Amazonas, tem um papel preponderante no fator saúde nessa região da Amazônia Legal brasileira há muito tempo”, afirma. Conforme o médico, recentemente, o hospital voltou o olhar, de forma definitiva, para a Amazônia que pouca gente vê: a Amazônia do interior, em que o cidadão e a cidadã mal têm acesso à saúde de qualidade. “Então, nessa lógica de que é difícil que essas pessoas consigam chegar até o hospital, o hospital pode chegar até eles tranquilamente, com esse projeto que estamos fazendo aqui hoje por meio da tecnologia”, declara o gestor.

“Só ressaltar, por fim, a importância da rede Ebserh nessa temática tão cara para a saúde pública do País, notadamente no que diz respeito a situações tão relevantes como as que foram abordadas aqui, ou seja, uso de tecnologias para o enfrentamento da mortalidade materno-infantil; necessidade de investimento em tecnologias digitais de informação e comunicação como telemedicina/telessaúde, principalmente para regiões de difícil acesso, como a Amazônia Brasileira; somar esforços para melhorar o acesso à saúde de populações ribeirinhas e povos originários e população indígena e, por fim, trabalho em rede. É a minha opinião”, conclui o médico Pedro Elias Souza, chefe da Unidade de E-saúde do HUGV-Ufam/Ebserh.

O projeto “Telemonitoramento de Pré-natal de Alto Risco para Regiões Remotas do Amazonas” (do qual a capacitação que está sendo realizada em Tefé faz parte) começou no ano passado. A iniciativa do HUGV é fruto de uma parceria entre a Universidade Federal do Amazonas e o Ministério da Saúde (MS), por meio de um Termo de Execução Descentralizada (TED) assinado em julho de 2022. Além do hospital-escola vinculado à Rede Ebserh e do MS, o projeto conta com a participação de outros atores, como o governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Saúde, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Manaus e pastas da Saúde de outros municípios.

Conhecimento que ajuda a salvar vidas

Taíssa Seixas é enfermeira na região do DSEI Médio Solimões e Afluentes. Ela ficou encantada não apenas com o treinamento dado, mas também com as possibilidades que a plataforma Telepnar oferece. “A gente vive em uma área de difícil acesso. Contamos com uma população com particularidades bem diferentes das demais vivenciadas no Brasil todo, e saber que vamos ter esse apoio, com a ajuda dessas pessoas que têm mais conhecimento, que têm mais capacidade de nos ajudar, é muito importante”, comenta. “Participar dessa capacitação, e até mesmo saber mais sobre telessaúde, com certeza, vai não apenas me ajudar como também todos os colegas que estão participando”, reforça.

Não é para menos. Taíssa sabe das dificuldades enfrentadas por gestantes de localidades remotas. Atualmente, ela atua em áreas que facilitam o deslocamento das pacientes à cidade. Mas sabe que isso não é regra. “As comunidades em que eu atuo atualmente são próximas à cidade. Então, para mim não se torna tão difícil trabalhar com elas, porque, em caso de qualquer intercorrência, a gente leva ao município. Mas eu já trabalhei em polos mais distantes e, sim, era de difícil acesso”, diz.

Se não bastasse a distância física para se chegar a um posto de saúde ou a um hospital, a cultura também pode ser uma barreira. “Como a população é indígena, principalmente os nativos não têm o conhecimento da importância da realização do pré-natal. Então, existe uma particularidade muito grande nisso de a gente trabalhar essa importância do pré-natal e saber identificar os problemas que isso pode causar. Muitas vezes, elas não seguem as orientações, elas não tomam as medicações e, quando chegam para a gente, chegam assim num estado mais grave”, relata. Para Taíssa Seixas, saber que vai haver profissionais do HUGV-Ufam/Ebserh, lá em Manaus, para auxiliar no acompanhamento do pré-natal dessas gestantes será de grande valia. “Saber que vão ajudar a gente a sanar dúvidas, a melhorar o quadro clínico delas, é muito importante”, complementa a enfermeira.

Espaço para colaborações

A capacitação promovida pelo HUGV-Ufam/Ebserh tem todo um roteiro, e os participantes que estão nos bancos como alunos também têm vez e voz. E se manifestam: fazem perguntas, tiram eventuais dúvidas e contribuem muito, inclusive para o melhor desenvolvimento da plataforma. Nessa troca de saberes, ganham todos: os profissionais de saúde, os especialistas do hospital-escola vinculado à Rede Ebserh e as gestantes que serão atendidas.

“A oficina do Telepnar está sendo bastante proveitosa para a gente. Estamos tirando bastante dúvidas. A gente fica muito feliz com essas atividades, porque, com essa qualificação, não só a gente vai ganhar, como quem está lá na ponta, que são os indígenas, que vão ganhar também”, afirma o enfermeiro Wildes José Abrahão Araújo.

Com mais de nove anos de atuação no DSEI Médio Solimões e Afluentes, Wildes José Abrahão aproveita a experiência acumulada com os povos da região para auxiliar os especialistas do HUFV-Ufam/Ebserh quando percebe alguma inconsistência na plataforma. Como exemplo, ele lembrou que há diferenças entre brancos e indígenas em relação à altura, e isso precisa ser levado em consideração. “A gente pontuou essa questão da altura uterina do indígena e do branco. Quando a gente vai comparar, as idades gestacionais vão dar divergentes porque a altura de um indígena não é igual a de um branco”, explica. Segundo Wildes, alguns indígenas da etnia katukina são muito pequenos e têm 1,30 m de altura. “Eles são muito baixinhos, então, até a questão do ganho de peso é diferente. Então a gente tem tentado passar nossa experiência e vai somando com os colegas que estão aqui, desenvolvendo essa atividade com a gente”, complementa.

O enfermeiro Wildes José Abrahão também comentou que a plataforma Telepnar deve dar uma grande contribuição na assistência às indígenas gestantes, principalmente as adolescentes. “O que a gente tem mais dificuldade é a questão da gravidez na adolescência, onde a gente tem inúmeros casos”. Ele comentou que, ao contrário da cultura branca, é comum haver casamento entre os indígenas com pessoas de 12, 13 anos. “Nos indígenas, isso é cultural deles. Então, eles casam muito jovens e engravidam muito cedo. Você sabe que aquele corpo não está preparado para uma gravidez. Então a gente tem que ter todo aquele cuidado. Se, na cidade, já é difícil a questão dos exames, o acompanhamento, agora você imagina lá na aldeia! Então, isso ( a plataforma ), para a gente vai ser um ganho muito grande”.

Na matéria disponível neste link, abordamos o impacto direto da ação na população indígena, com o depoimento de uma personalidade importante dentro da militância feminina indígena na região.

Sobre a Ebserh

O Hospital Universitário Getúlio Vargas integra a Rede Ebserh desde novembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

 

Por: Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

Link: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/iniciativa-alia-plataforma-digital-e-conhecimento-em-saude-indigena-com-foco-na-reducao-da-mortalidade-materna
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