Abertura da Marcha das Margaridas contou com encaminhamento de propostas pelo direito das agricultoras
Ministro Wellington Dias considera as reivindicações que serão apresentadas ao presidente Lula, nesta quarta-feira (16/08), pautas essenciais para o desenvolvimento do Brasil e pelo direito das mulheres, em especial as do campo
Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver é o lema em torno do qual mulheres do campo, da floresta e das águas de todo o país uniram-se para construir a pauta da 7ª Marcha das Margaridas, que acontece em Brasília nesta semana. A abertura do evento, nesta terça-feira (15.08), reuniu cerca de 150 mil pessoas, segundo a organização. O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, esteve ao lado de outras ministras e ministros do atual governo.
A coordenadora-geral da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, expressou sobre a força da união dessas mulheres. “Somos a continuação dos enfrentamentos que incansavelmente fazemos em defesa dos povos do campo, da floresta e das águas. Somos as pessoas que trabalham a terra, alimentam os nossos povos, construímos os movimentos para mudar o mundo. Como disse Carolina de Jesus, preta, periférica, filha de trabalhadores lavradores e brilhante escritora”.
Mazé Morais reforçou a importância das trabalhadoras como um dos pilares da sociedade. “Se estamos aqui é porque nós não queremos viver à margem da vida, por isso nos colocamos terminantemente em marcha em defesa dos direitos, para garantir a nossa existência, enraizada em uma diversidade territorial, rural, e que se materializa nos nossos corpos”, definiu.
A agricultora ainda destacou o importante papel das mulheres do campo na produção de alimento saudável, baseado em uma cultura ancestral. “Trazemos para Brasília os nossos saberes ancestrais e uma bagagem de resistência, resiliência e militância política para contribuir com a reconstrução do Brasil, pelo bem viver, lema da nossa marcha, mas também para protagonizarmos as nossas vozes diversas e romper os silêncios, que constantemente nos é imputado”, apontou.
Cida Gonçalves, ministra das Mulheres relembrou as lutas pela democracia. “Nós estamos aqui porque nós não paramos. Nós estamos aqui porque nós lutamos, nós resistimos e nós garantimos durante todos esses anos que, de fato, a democracia voltasse. Nós não aceitamos que nos matassem. Nós não aceitamos o ódio, não aceitamos vingança. Durante esses anos todos, fomos nós mulheres que resistimos”.
Quanto às propostas que serão entregues ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nessa quarta-feira (16.08), a ministra afirmou: “Esse presidente e esse governo respeitam as mulheres. E é por isso que nós estamos efetivamente lutando e dando apoio. Porque nós queremos o bem viver na nossa terra, na nossa vida, na nossa casa, na nossa área rural. E nós queremos viver. Não queremos ser mortas pelo feminicídio”, completou a ministra.
O ministro do Desenvolvimento Social reforçou o teor construtivo e social dos eixos apresentados. “São mulheres que trazem uma pauta que é do Brasil. Cuidar da fome, a pauta de se reduzir a pobreza, a pauta para que a gente não aceite violência contra as mulheres. As mulheres querem cultura, querem esporte. As mulheres querem também a oportunidade de emprego, de empreender, querem garantir os seus direitos básicos para si, para seus filhos e filhas, para sua família”, frisou.
A ministra da saúde, Nísia Trindade, avaliou que saúde é bem viver e anunciou que será retomado o grupo da terra na pasta. “Nós estaremos também criando uma estratégia para o enfrentamento da violência contra as mulheres, contra crianças, contra os adolescentes, com o acolhimento, com atenção primária em saúde. E nós estaremos, a partir das reivindicações que o movimento apresentou, trabalhando para a reconstrução do comitê de plantas medicinais e fitoterápicos num trabalho conjunto com o ministro Paulo Teixeira (do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar)”, concluiu.
O Movimento
A Marcha das Margaridas tem sido um caminho coletivo de construção de um projeto de sociedade que propõe um Brasil sem violência, onde a democracia e a soberania popular sejam respeitadas, a partir de relações justas e igualitárias, para a construção de novas relações sociais pautadas nos valores da ética, solidariedade, reciprocidade, justiça e respeito à natureza.
A Marcha das Margaridas é uma ampla ação estratégica das mulheres do campo e da floresta, promovida pela Contag, Federações e Sindicatos que se consolidou na agenda do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de diferentes organizações parceiras, movimentos e organizações feministas e de mulheres trabalhadoras e centrais sindicais e organizações internacionais que articulam e mobilizam mulheres em torno de diferentes questões.
Os 13 eixos políticos da pauta das Margaridas em 2023 são:
• Democracia participativa e soberania popular
• Poder e participação política das mulheres
• Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética
• Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios
• Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional
• Direito de acesso e uso da biodiversidade, defesa dos bens comuns e proteção da natureza com justiça ambiental e climática
• Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda
• Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo
• Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária
• Universalização do acesso à internet e inclusão digital
• Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo
• Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade
Margarida Maria Alves (Alagoa Grande/PB, 5 de agosto de 1933 — Alagoa Grande/PB, 12 de agosto de 1983) foi uma sindicalista e defensora dos direitos humanos brasileira, e teu nome é hoje um símbolo da luta pela igualdade de direitos para as mulheres do campo através da Marcha das Margaridas, que assim é chamada por homenagear essa mulher, que foi também uma das primeiras a exercer um cargo de direção sindical no país.
Caçula de nove irmãos e natural da periferia paraibana, Margarida Alves teve na história de sua própria família a experiência de ser expulsa de suas terras por latifundiários, episódio que vivenciou ainda na infância. Durante o período em que esteve à frente do sindicato local de sua cidade, foi responsável por mais de cem ações trabalhistas na justiça do trabalho regional, tendo sido a primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas no estado da Paraíba durante a ditadura militar.
Por: MDS
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