Ciências

Especial MCTI: Conhecimento produzido pela Torre Alta da Amazônia põe em xeque teorias sobre futuro do clima no planeta

Com mais de 10 anos de funcionamento, infraestrutura de pesquisa permite avançar na fronteira do conhecimento científico climático sobre a interação da floresta com a atmosfera

05/08/2023 12:40
Especial MCTI: Conhecimento produzido pela Torre Alta da Amazônia põe em xeque teorias sobre futuro do clima no planeta
Foto: Divulgação/ MCTI

 

O monitoramento dos processos de troca entre a Floresta Amazônica e a atmosfera, realizado pela Torre Alta da Amazônia (ATTO), tem permitido à comunidade científica avançar na fronteira do conhecimento. De acordo com o físico e coordenador do grupo de pesquisa em micrometeorologia da ATTO, Cleo Quaresma, entre as descobertas está a constatação de que teorias clássicas da micrometeorologia não funcionam para as camadas acima da floresta.

“Essa torre tem trazido informações que contribuem decisivamente para o conhecimento científico na região amazônica”, avalia. 

Além disso, os sensores de precisão da torre permitiram detectar que grande parte de partículas que alimentam a Floresta Amazônica, cujo solo é pobre em nutrientes, vem do outro lado do Oceano Atlântico, a mais de 6 mil km de distância, como a poeira do deserto do Saara. Outro entendimento foi o de que a floresta cria sua própria chuva reciclando vapor d’água. 

Esses conhecimentos são considerados relevantes em um cenário de mudanças climáticas. A floresta é apontada como um dos tipping points globais pela importância na regulação do clima e por isso tem papel-chave. “É super importante entender perfeitamente como essa floresta se comunica com a atmosfera acima dela, quantos gases são emitidos e absorvidos, como a formação de nuvem acontece e, consequentemente, os processos de precipitação”, explica Quaresma. “Isso tudo é fundamental para ter uma precisão de como será o clima no futuro do planeta.”

A infraestrutura científica no meio da floresta também permitiu descrever melhor como ocorre a liberação de compostos voláteis orgânicos (VOCs), microscópicas partículas que são elevadas até a atmosfera e contribuem para a formação das nuvens. Os dados são importantes para entender o ciclo hidrológico da precipitação na floresta e outras regiões do país.

 Decifrando os estágios da ATTO

Os 325 metros ATTO podem ser subdivididos em três grandes estágios. No primeiro, até cerca de 80 metros de altura, as medidas utilizadas são as aferidas pela torre Instant, que está integrada à floresta. Primeira a ser construída, essa torre tem barras de alumínio que estão literalmente estão entre os galhos das árvores. “Onde tem mais folhas, é onde há maior absorção solar e emissão de calor. Por isso, à medida que subimos e nos aproximamos dessa parte, a temperatura aumenta”, detalha o físico Cleo Quaresma.

Mas a ideia da torre ATTO é conseguir ter um monitoramento detalhado para medir fluxos ou trocas entre a floresta e a atmosfera, especialmente da altura de 81 metros para cima. “A torre nos dá a possibilidade de investigar com detalhe as características de cada camada acima da floresta. São informações muito úteis para entender melhor como os modelos de simulação estão bem ou não representados”, ressalta.

Além disso, de acordo com os pesquisadores, a ATTO está modificando o limiar da fronteira da ciência sobre o que se sabe sobre a Amazônia e a interação da floresta com a atmosfera. Entre as descobertas também está a demonstração de que leis tradicionais da micrometeorologia clássica não se aplicam para a estimativa de fluxos e modelos futuros da Amazônia. “A gente não consegue perceber a validade de teorias clássicas de estimativas de fluxos entre atmosfera e floresta, por exemplo. Nós já sabemos que algumas teorias clássicas utilizadas em modelos de previsão de cenários futuros não valem para a Floresta Amazônica”, afirma Quaresma.

O próximo desafio da ciência é encontrar teorias mais adequadas para estudar os processos de troca entre a floresta e a atmosfera. Esses indícios têm impacto nos modelos de simulação. “A torre ATTO é um patrimônio do Brasil e um orgulho que devemos ter, pois é com ela que levamos o conhecimento científico de ponta em uma área da ciência altamente relevante para a sociedade global, que é entender os processos climáticos, meteorológicos, biofísicos da floresta, da atmosfera acima da floresta”, conclui.

 

Por: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação


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