Meio ambiente

Especial MCTI: Distâncias, custos e alta umidade desafiam a produção científica de ponta na Amazônia

Equipamentos de alta precisão necessitam de ambiente controlado; abastecimento de energia e longas distâncias estão entre as prioridades de atenção das equipes de apoio e manutenção

08/08/2023 08:25
Especial MCTI: Distâncias, custos e alta umidade desafiam a produção científica de ponta na Amazônia
Foto: Rodrigo Cabral/Ascom MCTI

 

“Chegar aqui é nosso maior desafio”. Essa é a resposta imediata do supervisor operacional da Torre Alta da Amazônia (ATTO), Antônio Huxley do Nascimento, quando perguntado sobre o principal desafio que envolve a logística da infraestrutura científica de 325 metros de altura estrategicamente localizada no meio da maior floresta tropical do mundo. Para compreender a afirmação de quem trabalha no meio da floresta há mais de dez anos, é importante conhecer o percurso.  

A Estação Científica do Uatumã, onde está instalada a ATTO, fica a 150 quilômetros ao norte de Manaus, considerando uma linha reta. A viagem é feita por terra e água, e tem duração estimada de seis horas, se tudo correr bem.

Uma equipe responsável pela logística faz o percurso três vezes por semana levando e trazendo materiais e pessoal de apoio, pesquisadores e absolutamente tudo o que é necessário, de combustível a alimentos, para que a Estação Científica funcione.

A rota começa na sede do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. São 100 km pela BR-174, depois outros 80 km pela AM-240 – conhecida como Estrada de Balbina por conta da represa, e mais 39 km de estrada de terra, que regionalmente é chamado de ramal, até chegar ao Porto Morena – onde, literalmente, a estrada acaba nas águas do rio Uatumã, um afluente do Amazonas. Ali, passageiros e cargas são transferidos das caminhonetes para uma lancha. O percurso continua por mais 1h30 contra a correnteza até o porto da Estação Científica. Para vencer o trecho final até o acampamento, são mais 30 minutos de estrada de terra. Na época de chuvas, o percurso ganha a adição de lama, atoleiros, buracos, e, às vezes, árvores na estrada.

A escolha da localização seguiu critérios técnicos. A Torre Alta da Amazônia foi construída em um local cientificamente chamado de ‘atmosfera limpa’. Posicionada sobre um extenso platô a mais de 120 metros acima do nível do mar, o ponto é estratégico para receber os ventos alísios, que sopram do Oceano Atlântico a partir da região Nordeste, sem nenhuma grande fonte de poluição no caminho. Os mais de cem sensores de alta precisão instalados na torre conseguem efetuar as medidas antes que os ventos passem por uma grande cidade. 

Antônio Huxley do Nascimento lembra que os desafios de realizar a operação já foram muito maiores. Há alguns anos, essa mesma viagem levava mais de 12 horas. Mesmo com as melhorias, ele destaca que operar na Amazônia sempre é um desafio “porque tudo pode acontecer no caminho”. “Tem que estar preparado para resolver. E se não puder resolver, estar preparado para solicitar ajuda”, conta o supervisor.

Hoje, as equipes da ATTO possuem telefones via satélite para falar com as bases de apoio. É também por satélite que a comunicação on line funciona entre a Estação e a sede do Inpa.

Abastecimento de energia é primordial

Ao menos dez pessoas divididas em duas equipes se revezam no apoio e manutenção no complexo da ATTO.  Experientes na lida em meio à floresta e com apoio de comunidades locais, eles foram preparados para resolver de tudo: dirigem carros, conduzem lancha, consertam equipamentos e estão sempre de prontidão para o abastecimento de energia. “A energia é primordial, tem que estar 100% 24 horas por dia. É o que faz funcionar todos os sensores e equipamentos”, explica Nascimento.

Além disso, os laboratórios instalados na base das torres são ‘salas limpas’. Temperatura, umidade e ar são controlados.

As torres são instrumentadas com sensores de alta precisão. Para que a coleta de dados aconteça, os equipamentos precisam funcionar ininterruptamente. Mas estamos falando de uma floresta tropical, quente e úmida, e nem sempre equipamentos testados em outras regiões do mundo respondem da mesma maneira às condições amazônicas. “A umidade aqui é muito alta, tanto durante o dia como durante à noite”, lembra Nascimento.

Temos camadas de dificuldades

Os custos anuais de operação do programa ATTO estão na ordem de R$ 4 milhões, divididos igualmente entre Brasil e Alemanha. Boa parte desse valor se deve às peculiaridades de toda operação logística e de manutenção.

De acordo com o coordenador científico brasileiro do ATTO, Carlos Alberto Quesada, considerando os aspectos logísticos e operacionais, fazer ciência na Amazônia é complicado pelas longas distâncias, as condições do bioma e os custos. “Qualquer coisa que se faz aqui é muito mais difícil do que em outras regiões do país. O bioma amazônico em si já é um adicional de dificuldade. Por ser remoto, as distâncias amazônicas são muito grandes”, descreve Quesada.

Ele exemplifica as dificuldades com o transporte. Se houver necessidade de levar um equipamento grande ou um trator para melhorar a estrada da Estação Científica, é preciso alugar uma balsa. O clima também impõe restrições. Obras podem sofrer atrasos durante o período das chuvas e nem sempre há fornecedores locais dos materiais necessários.  “Temos camadas de dificuldades para trabalhar na Amazônia. Tudo aqui é mais difícil”, resume.

 

Por: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação


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