Embrapa e parceiros realizam estudos sobre sistemas agrários em comunidades da Amazônia
Os participantes do curso pretendem dar continuidade nos estudos na Embrapa e na consolidação do aprimoramento das pesquisas com a abordagem de Sistema Agrários
Pesquisadores da Embrapa e de universidades parceiras estão realizando um estudo da dinâmica da agricultura em comunidades na Amazônia, por meio da abordagem teórico-metodológica de sistemas agrários. Nessa perspectiva, cientistas que atuam no Amazonas, Pará, Rio Grande do Sul e Paraná vêm realizando um intercâmbio de conhecimentos sobre o tema. Ao longo de 2022 houve encontros on-line e, no período de 7 a 11 de agosto, foi realizada uma semana de curso teórico-prático, em modo presencial, para aplicação da metodologia em uma comunidade rural amazônica.
O local escolhido foi a região do Lago do Janauacá, município de Careiro da Várzea (AM), onde agricultores familiares desenvolvem a cultura da mandioca, a partir da qual produzem farinha, e outros cultivos agrícolas, além da pesca.
Participaram do curso sobre sistemas agrários, nos módulos 1 e 2, pesquisadores e analistas da Embrapa Amazônia Ocidental, Embrapa Amazônia Oriental e Embrapa Clima Temperado e professores da Universidade Federal Fronteira Sul, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Federal de Santa Maria.
A abordagem de sistemas agrários tem embasamento teórico-científico e considera os espaços agrários como sistemas complexos e dinâmicos, que têm influências econômicas, históricas, ambientais, sociais e culturais, com isso se diferenciam grupos de agricultores em determinados contextos. “Compreender esse processo dinâmico e as necessidades dos agricultores em cada contexto, amplia as possibilidades de planejamento e de contribuição mais efetiva no desenvolvimento rural”, explica o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Gilmar Meneghetti. O pesquisador considera que a teoria de sistemas agrários e a metodologia de análise podem contribuir e qualificar os diagnósticos, análises e a ação da Embrapa no que diz respeito ao desenvolvimento rural.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Lindomar Silva, que realiza atividades de avaliação de impacto de tecnologias da Embrapa junto aos produtores no Amazonas, conta que este curso sobre Sistemas Agrários veio responder a uma necessidade de ampliar a visão e ir além do diagnóstico com dados quantitativos e econômicos. O pesquisador considera que “a metodologia traz respostas sobre uma série de informações e condições para visualizar não só aspectos quantitativos, mas também qualitativos da produção, e como o resultado dessa produção tem sido ou não eficaz no decorrer do processo”. Após a participação no curso, o pesquisador conta que a ideia é aperfeiçoar mais o diagnóstico sobre a realidade amazônica, com a abordagem de sistemas agrários e “identificar como o agricultor manejando a várzea, terra-firme e floresta pode alcançar uma renda econômica e ter nível de satisfação para suas necessidades pessoais e familiares”, comenta Lindomar.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Everaldo Almeida, que trabalha com avaliação de impacto das tecnologias da Embrapa no Sudeste do Pará, participou dos dois módulos do curso, on line e presencial, e em sua opinião, “a metodologia apresentada no curso Sistemas Agrários oferece uma forma de avaliação e análise mais próxima da realidade dinâmica da agricultura familiar”. Everaldo conta que trabalha há mais de 20 anos com agricultura familiar e uma das questões intrigantes é entender como funciona o sistema produtivo dessas famílias. “A metodologia aplicada no curso servirá para dar mais qualidade à avaliação econômica, uma vez que trará novos elementos, novos fatores, para explicar a dinâmica de uma propriedade rural”, comenta, acrescentando que a abordagem de Sistemas Agrários ajudará a encontrar os ‘ga ps’ que dificilmente são encontrados em outras ferramentas de avaliação de impacto econômico.
Para o analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa Clima Temperado, Alberi Noronha, o curso de Sistemas Agrários trouxe reflexões e contribuições ao trabalho que realiza, tanto pelos aspectos técnico-científicos, quanto na articulação político-institucional e nas priorizações em termos de conteúdo e modo para a formação de agentes multiplicadores, na avaliação de impactos de tecnologias e na definição de estratégias em termos de políticas públicas. Alberi destaca que essa teoria e método possibilitam a análise,a partir de uma perspectiva científica, sobre a diversidade, a complexidade e a dinâmica das realidades agrícolas, rurais e agrárias, onde coexistem e coevoluem estilos de agricultura e de modos de vida, que muitas vezes se colocam em contraste. E reforça que a abordagem de Sistemas Agrários “é essencial para o (re)conhecimento da agricultura familiar em sua diversidade de categorias sociais e de sistemas de produção, ou ainda, em termos do diagnóstico de estratégias de apropriação social da natureza”.
O professor Benedito Silva Neto, da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo (RS), observa que o método de análise da agricultura em termos de sistemas agrários é ainda pouco aplicado no Brasil. O professor Benedito observa que este método começou a ser desenvolvido há mais de 50 anos no Instituto Agronômico de Paris-Grignon (INA-PG, hoje incorporado ao AgroParisTech - Instituto das ciências e das industrias dos seres vivos e do ambiente de Paris), tendo sido concebido especificamente para a análise de situações agrárias complexas. Neste sentido, o professor salienta que o método de análise baseado em sistemas agrários pode se mostrar de grande relevância para o enfrentamento dos grandes desafios que se colocam à agricultura amazônica, a qual deverá conjugar a melhoria das condições de vida dos agricultores com a sua sustentabilidade ecológica. O professor, que ministrou o curso no módulo on line e na etapa presencial no Amazonas, destaca que alguns esses desafios ficaram claros nos resultados obtidos pelo estudo de campo, ainda que realizado em um curto período, na comunidade da região do Lago Janauacá, permitindo verificar tendências de transformações em curso na atividade agrícola da comunidade.
Grupo de estudos
Os participantes do curso pretendem dar continuidade nos estudos na Embrapa e na consolidação do aprimoramento das pesquisas com a abordagem de Sistema Agrários. Alberi relembra que a formação e atualização nessa abordagem por profissionais da Embrapa contou com eventos anteriores, de referência: um curso realizado em 2013 que contou com a participação dos professores Marc Dufumier e Benedito Silva Neto; e o XI Congresso da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção, em Pelotas-RS, em julho de 2016, que teve a participação de uma das maiores referências da abordagem teórico-metodológica de Sistemas Agrários, que é Marcel Mazoyer, professor emérito de Agricultura Comparada e de Desenvolvimento Agrícola do Instituto Nacional Agronômico Paris-Grignon (França) e autor, entre outras obras, do livro “História das Agriculturas do Mundo: do Neolítico à crise contemporânea”.
Por: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
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