Amazônia

Especial MCTI: “Temos que falar em Amazônias, no plural”, afirma cientista

Diferenças topográficas, microclimas, solos e vegetação estão entre os aspectos que demonstram que há variações importantes dentro do bioma amazônico

09/08/2023 17:54
Especial MCTI: “Temos que falar em Amazônias, no plural”, afirma cientista
Fotos: Rodrigo Cabral/Ascom MCTI

 

Quantas Amazônias existem na Amazônia? Com uma área de cerca de 6,7 milhões de quilômetros quadrados e 10% da biodiversidade do planeta, centenas de idiomas indígenas e rios que imprimem características importantes, a Floresta Amazônica não é uniforme. Ao subir a Torre Alta da Amazônia (ATTO), especialmente a partir do patamar de 100 metros, as nuances da topografia ficam mais perceptíveis.

“Quando você visita a Amazônia pela primeira vez traz no imaginário a ideia de uma região bastante uniforme. E a primeira sensação quando sobe a torre ATTO é que essa uniformidade não é verdadeira”, relata o físico e micrometeorologista, Cleo Quaresma, enquanto vencia os 1,5 mil degraus da ATTO com paradas para inspecionar os conjuntos de sensores instalados a cada 50 metros de altura.

Além das ondas geradas no horizonte pelas diferenças topográficas, há as diferenças da coloração da copa das árvores, com variadas tonalidades, o que é importante para a absorção da radiação. Outro aspecto envolve a altura das árvores e a densidade na floresta. “Essa complexidade, topografia, densidade de folhas e coloração diferente trazem desafios para o entendimento sobre como o processo acontece, mas é muito motivador para quem faz pesquisa científica”, afirma Quaresma.

Campina, um outro bioma dentro da Amazônia

Além do que se observa no horizonte, o complexo da Estação Científica do Uatumã, onde está localizado Observatório da Torre Alta da Amazônia, também guarda variações no solo e na vegetação bastante improváveis para a floresta tropical. A imagem aérea deixa visível o solo de areia branca por entre a vegetação esparsa. Apenas uma estreita estrada de terra, que liga o porto até o sítio da Atto, separa a floresta exuberante com suas árvores de quase 40 metros de altura desse ambiente chamado de campina.

“Apesar de parecer uma coisa só, a floresta tem diferenças de relevo, da topografia e também das árvores. Em São Paulo, uma elevação de 40 metros pode não fazer a menor diferença, mas, na Amazônia, observa-se que chove mais nessas regiões elevadas”, explica o pesquisador da Universidade de São Paulo e meteorologista, Luiz Augusto Machado. “Dentro dessa potencial homogeneidade do oceano verde [Amazônia], há muitas facetas que acabam gerando diferenças fundamentais”, complementa.
Segundo ele, estima-se que até 7% da Floresta Amazônica pode ter as características de campina. Esse ‘microbioma’ apresenta solo arenoso e vegetação baixa, semelhante a encontrada em restingas, que alguns chamam de caatinga da Amazônia, e temperaturas, em média, de três a cinco graus superior às registradas na floresta.

“Acredita-se que a campina [da Estação Científica de Uatumã] era um antigo leito do rio, ou seja, o rio passava lá”, explica Machado.

Há cerca de dois anos, a campina foi escolhida para abrigar um complexo de radares. Os equipamentos de sensoriamento remoto da atmosfera para medições meteorológicas aferem vento vertical; radar de chuva que mede a altura e a base das nuvens, além do tamanho e da distribuição das gotas. “Se a chuva está muito poluída, em geral, as gotas são pequenas. Se está pouco poluída, as gotas são grandes”, diz Machado.

Há ainda um complexo de instrumentos que medem a radiação, radares que avaliam a quantidade de vapor na atmosfera e micro-ondas que aferem o perfil de temperatura e umidade.

“A campina tem mostrado no nosso dia a dia é que os dados são fundamentais para interpretar os dados do ATTO, pois o fator meteorológico é fundamental para compreender a variabilidade dos gases”, destaca o pesquisador.

 

Por: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

 


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