Especial MCTI: “Temos que falar em Amazônias, no plural”, afirma cientista
Diferenças topográficas, microclimas, solos e vegetação estão entre os aspectos que demonstram que há variações importantes dentro do bioma amazônico
Quantas Amazônias existem na Amazônia? Com uma área de cerca de 6,7 milhões de quilômetros quadrados e 10% da biodiversidade do planeta, centenas de idiomas indígenas e rios que imprimem características importantes, a Floresta Amazônica não é uniforme. Ao subir a Torre Alta da Amazônia (ATTO), especialmente a partir do patamar de 100 metros, as nuances da topografia ficam mais perceptíveis.
“Quando você visita a Amazônia pela primeira vez traz no imaginário a ideia de uma região bastante uniforme. E a primeira sensação quando sobe a torre ATTO é que essa uniformidade não é verdadeira”, relata o físico e micrometeorologista, Cleo Quaresma, enquanto vencia os 1,5 mil degraus da ATTO com paradas para inspecionar os conjuntos de sensores instalados a cada 50 metros de altura.
Além das ondas geradas no horizonte pelas diferenças topográficas, há as diferenças da coloração da copa das árvores, com variadas tonalidades, o que é importante para a absorção da radiação. Outro aspecto envolve a altura das árvores e a densidade na floresta. “Essa complexidade, topografia, densidade de folhas e coloração diferente trazem desafios para o entendimento sobre como o processo acontece, mas é muito motivador para quem faz pesquisa científica”, afirma Quaresma.
Campina, um outro bioma dentro da Amazônia
Além do que se observa no horizonte, o complexo da Estação Científica do Uatumã, onde está localizado Observatório da Torre Alta da Amazônia, também guarda variações no solo e na vegetação bastante improváveis para a floresta tropical. A imagem aérea deixa visível o solo de areia branca por entre a vegetação esparsa. Apenas uma estreita estrada de terra, que liga o porto até o sítio da Atto, separa a floresta exuberante com suas árvores de quase 40 metros de altura desse ambiente chamado de campina.
“Apesar de parecer uma coisa só, a floresta tem diferenças de relevo, da topografia e também das árvores. Em São Paulo, uma elevação de 40 metros pode não fazer a menor diferença, mas, na Amazônia, observa-se que chove mais nessas regiões elevadas”, explica o pesquisador da Universidade de São Paulo e meteorologista, Luiz Augusto Machado. “Dentro dessa potencial homogeneidade do oceano verde [Amazônia], há muitas facetas que acabam gerando diferenças fundamentais”, complementa.
Segundo ele, estima-se que até 7% da Floresta Amazônica pode ter as características de campina. Esse ‘microbioma’ apresenta solo arenoso e vegetação baixa, semelhante a encontrada em restingas, que alguns chamam de caatinga da Amazônia, e temperaturas, em média, de três a cinco graus superior às registradas na floresta.
“Acredita-se que a campina [da Estação Científica de Uatumã] era um antigo leito do rio, ou seja, o rio passava lá”, explica Machado.
Há cerca de dois anos, a campina foi escolhida para abrigar um complexo de radares. Os equipamentos de sensoriamento remoto da atmosfera para medições meteorológicas aferem vento vertical; radar de chuva que mede a altura e a base das nuvens, além do tamanho e da distribuição das gotas. “Se a chuva está muito poluída, em geral, as gotas são pequenas. Se está pouco poluída, as gotas são grandes”, diz Machado.
Há ainda um complexo de instrumentos que medem a radiação, radares que avaliam a quantidade de vapor na atmosfera e micro-ondas que aferem o perfil de temperatura e umidade.
“A campina tem mostrado no nosso dia a dia é que os dados são fundamentais para interpretar os dados do ATTO, pois o fator meteorológico é fundamental para compreender a variabilidade dos gases”, destaca o pesquisador.
Por: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
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