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Especial MCTI: LBA - A origem do conhecimento científico sobre o papel da Amazônia na regulação do clima

Programa científico do MCTI é o principal responsável pela formação de novas gerações de pesquisadores sobre clima da Amazônia

07/08/2023 15:34
Especial MCTI: LBA - A origem do conhecimento científico sobre o papel da Amazônia na regulação do clima
Bruce Forsberg - Coordenador científico do LBA - Foto: Rodrigo Cabral/Ascom MCTI

 

O Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA, na sigla em inglês) teve papel central na formação das novas gerações de pesquisadores sobre a região. É o que revela dados divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ao longo de 25 anos de existência, mais de 850 mestres e doutores concluíram estudos nos programas do Inpa e de instituições parceiras. Isso significa dizer que, a cada ano, pelo menos 34 novos especialistas profissionais foram formados.


“Na área de estudos de clima, meio ambiente e ciclos biogeoquímicos e hidrológicos, o LBA foi a principal força no país para a formação dessas pessoas. São brasileiros que vão fazer todo o trabalho voltado para o desenvolvimento regional e nacional”, avalia o coordenador do programa LBA, Bruce Forsberg.


Ele lembra que, desde a concepção, o LBA tem como meta compreender a Floresta Amazônica e o seu papel na regulação do clima, em escala regional e global. Os estudos envolvem a interação entre floresta e atmosfera por meio da troca de gases, formação das chuvas e outros aspectos relacionados ao clima na região. Para executar o trabalho, foi construída uma rede de torres de baixa altitude. “Isso levou muito tempo, montamos muitas torres na região amazônica, que mantemos até hoje para medir esses fluxos e que têm documentado esses processos”, explica.


Atualmente, a rede de torres ativas é composta por 16 infraestruturas, incluindo a Torre Alta da Amazônia (ATTO) e o AmazonFACE. Os dois programas científicos, que são mais recentes, podem ser considerados spin-offs do LBA, pois aprofundam as pesquisas anteriores sobre a Amazônia.


Os dados gerados pelo LBA formam bancos de dados, que são de livre acesso. As informações coletadas periodicamente e por mais de duas décadas alimentam os modelos climáticos, utilizados para prever os impactos das mudanças climáticas nos níveis local, regional e global.


Criado há 25 anos, o LBA teve início no momento de discussão global sobre as mudanças climáticas, entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. “Precisávamos entender como os grandes sistemas, como é o caso da Amazônia, funcionavam e seu papel em relação ao clima”, relata. “Era um projeto que tinha que ser feito. Inicialmente, havia mais norte-americanos e europeus trabalhando aqui. Agora, são mais brasileiros do que estrangeiros. É muito importante essa transformação da matriz científica, continuando focada nessa questão muito importante e crítica que são as mudanças climáticas”, explica.


O LBA é considerado um dos maiores projetos de cooperação científica internacional. Teve início em 1998 liderado pelo Brasil em cooperação com Estados Unidos, por meio da Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa), União Europeia e países amazônicos em torno de sistemas de observação da Terra. Inicialmente era liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e, a partir de 2003 passou a ser executado pelo Inpa. Em 2010, o LBA foi instituído como um programa do MCTI, sendo incorporado ao orçamento da União.


Segundo informações do programa, foram registradas 62 colaborações internacionais com nove países. No Brasil, o programa reuniu 49 instituições de 13 estados. As ações empreendidas contribuíram com a criação e o fortalecimento de um programa de doutorado, quatro cursos de mestrado, e dois cursos de bacharelado e licenciatura. Mais de 5 mil pessoas foram capacitadas.
A produção científica também é relevante. Consideradas apenas as revistas de prestígio internacional mais conhecidas, como Science e Nature, os estudos realizados no âmbito do LBA foram publicados em cerca de 80 artigos científicos. Em revistas indexadas, são 2,3 mil publicações. Há ainda 11 livros e 126 capítulos de livros.


Os pesquisadores também acompanham o desmatamento, por meio de sensoriamento remoto, para avaliar o impacto sobre o clima. Para Forsberg, nos últimos anos, as condições mudaram com mais intensidade em função do avanço do desmatamento. “Chegamos em um ponto crítico. Estamos em um limiar, um precipício, em relação às mudanças climáticas. Se não frear o desmatamento, haverá mudanças muito grandes no clima que vai prejudicar as pessoas da região amazônica e também o fluxo de vapor de água gerado pela floresta que vai em direção ao Sul do país, que sustenta a chuva e a produção agrícola que ocorre lá. Essa é uma questão importante para todo o Brasil”, afirma.


Ele destaca a importância do monitoramento contínuo para verificar como as mudanças globais estão interferindo no funcionamento da floresta. “As mudanças globais, que independem da quantidade de floresta, que dependem de quanto aumentam as emissões na China e na Europa, estão fora do nosso controle. Precisamos monitorar esses impactos gerais das mudanças do clima, ver se essas mudanças derivam do desmatamento da floresta ou em função de mudanças fora do Brasil. Isso requer uma visão global”, explica.


Nova fase incorpora desenvolvimento sustentável
Para a próxima década, as novas diretrizes do plano científico do LBA incorporaram aspectos de desenvolvimento sustentável. A motivação decorre dos riscos e impactos das mudanças climáticas sobre a maior floresta tropical. “Nossa ideia é fazer tudo o que pudermos para manter a floresta em pé, evitar essa mudança climática de maior impacto que é prevista, aproveitando melhor as áreas que foram desmatadas em prol de uma bioeconomia de baixo impacto de carbono. Queremos também continuar estudando a floresta e o impacto sobre o clima, monitorando as mudanças do uso da terra para garantir a floresta em pé funcionando da mesma forma.”


Entre as iniciativas propostas, está a utilização de áreas que atualmente estão degradadas por meio de reflorestamento e de produção de baixo impacto de carbono. Um exemplo é a exploração da piscicultura. Segundo Forsberg, estudos iniciais realizados no Acre demonstraram que a produção de peixe emite 30 vezes menos gases de efeito estufa por quilo comparada à produção de gado em pasto extensivo.


Também há sugestões de cooperação com países amazônicos para estudos de solo e inclusão de iniciativas de ciência cidadã, com a participação das comunidades ribeirinhas, tradicionais e indígenas.

 

Por: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação


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