Pesquisadores defendem expansão do monitoramento genômico de arbovírus
Para os pesquisadores, os vírus da dengue, zika e chikungunya deveriam ser os primeiros a receber esse enfoque devido ao alto impacto mundial
Pesquisadores de 54 países se reuniram para defender a necessidade de implantar uma vigilância genômica mundial para arbovírus endêmicos de alto impacto. A proposta do grupo é que seja utilizado o modelo e a infraestrutura de monitoramento que foi implementada com sucesso para o Sars-CoV-2, o causador da pandemia de Covid-19. A carta, assinada por 74 estudiosos, foi publicada na conceituada revista científica The Lancet Global Health nesta terça-feira (1º/8). A carta inclui pesquisadores do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Segundo os autores, os vírus da dengue, zika e chikungunya deveriam ser os primeiros a receber esse enfoque, devido ao seu impacto mundial e ao fato de que eles causam uma pesada carga de doença com sintomas de leves a potencialmente fatais, resultando no curto e longo prazo em substancial morbimortalidade. “Estimativas epidemiológicas destacam o impacto desses vírus, com metade da população mundial em risco de infecção pelo vírus da dengue e cerca de 100 a 400 milhões casos e 20.000 mortes registradas a cada ano”, destacam os autores na publicação. A expansão dos principais vetores – os mosquitos Aedes aegypit e Aedes albopictus – para novas áreas, em função da urbanização, globalização, mobilidade humana e mudanças climáticas é mais um fator de preocupação apontado.
A qualidade dos dados genômicos disponibilizados atualmente sobre os arbovírus e a falta de agilidade com que essas informações chegam aos cientistas e gestores da saúde são outros aspectos abordados na carta. Apesar do compartilhamento rápido de dados genômicos ter sido implementado durante a epidemia do vírus zika, a realidade atual é bem diferente para este e outros arbovírus como dengue e chikungunya. A prevalência e expansão desses vírus está aumentando ao redor do globo e, apesar disso, a maioria dos dados genômicos somente são compartilhados após o processo de revisão por pares, que muitas vezes é demorado.
Com esta carta, pesquisadores de vários países ao redor do mundo ressaltam que é necessário utilizar plataformas de compartilhamento de dados para permitir análises rápidas e oportunas de novos surtos. Uma dessas ferramentas, já implementada dentro da Global Data Science Initiative (Gisaid) , se chama EpiArbo. “Trata-se de uma plataforma de compartilhamento rápido de dados genômicos, que segue o modelo bem-sucedido do EpiCov para o Sars-CoV-2 e fomenta a colaboração nacional e internacional para estudar esses vírus, que não respeitam fronteiras. Além disso, essa plataforma estimula a proteção dos direitos dos autores sobre o dado gerado, mesmo antes da publicação formal em uma revista científica, incentivando assim uma maior adesão à partilha de resultados”, explica o pesquisador da Fiocruz Pernambuco e autor principal do artigo, Gabriel Wallau, que ajudou a desenvolver a EpiArbo.
“A ideia é que as pessoas possam depositar dados rapidamente, de uma forma muito similar ao que foi feito para o Sars-CoV-2. O que permite fazer análises de forma global e tomar decisões para tentar conter mais efetivamente o espalhamento desses arbovírus”, complementa.
Entre os signatários da carta estão ainda Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia; Rafael Maciel de Freitas, do Instituto Oswaldo Cruz; e Constância Ayres, da Fiocruz Pernambuco.
Por: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocuz)
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