69 anos da Ensp/Fiocruz: Indígenas falam sobre os impactos das mudanças climáticas
Para celebrar seus 69 anos, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) realizou, na segunda-feira (4/9), um amplo debate sobre a percepção indígena das mudanças climáticas e saúde. A temática, considerada de suma importância para a construção de um país justo e democrático (tema do aniversário da Escola) foi debatida com a participação dos indígenas no painel Mudanças Climáticas e Saúde. Nativos do Território Indígena do Xingu (TIX), os indígenas falaram sobre os impactos trazidos pelas mudanças climáticas em seus territórios e consequentemente para a saúde dos seus povos. A mesa foi coordenada pela pesquisadora da Ensp/Fiocruz, Sandra Hacon, que atualmente coordena um projeto de avaliação do impacto dos incêndios florestais no meio ambiente e na saúde dos povos indígenas da Amazônia, desenvolvido no TIX.
O cacique de Topepeweke e historiador, Akari Waura, que participou da mesa de boas-vindas que antecedeu o painel Mudanças Climáticas e Saúde, destacou a importância da Fiocruz trazer os povos indígenas para o debate sobre eles e reforçou que precisamos cuidar da nossa sociedade e não destruí-la. “Temos indígenas que vivem nas cidades, outros que vivem nas aldeias, mas temos todos os mesmos direitos. Indígenas podem trabalhar, estudar, e tem direitos como todos os seres humanos. Nós somos os donos na terra, os primeiros donos deste país, e até hoje vivemos o sofrimento de 500 anos atrás quando descobriram o Brasil”, lamentou o cacique.
A mesa também contou com a participação do vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAS/Fiocruz), Hermano Castro; do assessor da Coordenação de Saúde em Ambiente da VPAAS/Fiocruz, Guilherme Franco Neto, representando a Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030; do diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes; além do cacique da aldeia Topepeweke, Akari Waura; e da pesquisadora do Departamento de Endemias (Densp/Ensp/Fiocruz), Sandra Hacon. Na ocasião, foi apresentado um vídeo teaser do projeto coordenado pela pesquisadora.
O vice-presidente Hermano Castro parabenizou a Escola pelo aniversário e pela escolha do tema, que para ele, traz muitas reflexões importantes. Castro citou a interferência do homem branco nas questões ligadas as políticas indígenas, como a discussão do Marco Temporal, que está em votação no STF. “O debate desta mesa traz muitas reflexões importantes e a Ensp tem um papel muito importante nesta temática. Temos muitos desafios, mas acredito que o principal deles é deixar os povos indígenas viverem. É fundamental dar voz aos povos tradicionais do nosso país. Está na hora da gente discutir a política indígena pelo próprio indígena”, ressaltou Hermano.
O diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes, celebrou com imensa alegria a presença dos povos do Xingu nas comemorações dos 69 anos da Escola. “Esse é um momento muito importante de construção de um país justo e democrático e falar sobre os direitos dos povos indígenas é falar sobre isso. Esse é o momento de fazer com os povos indígenas e para os povos indígenas”, afirmou ele. Representando a Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, Franco Neto deu boas-vindas aos presentes e destacou a honra de estar participando de uma mesa tão importante, parte das comemorações pelos 69 anos da Escola.
Saúde a partir dos territórios indígenas
O painel Mudanças Climáticas e Saúde contou com a participação da pesquisadora e biomédica da Universidade Federal do Pará, Putira Sacuema; do historiador e cacique, Akari Waura; do cientista tradicional, Ayakanukala Waura; e do cineasta e professor, Pirata Waura. Akari, Ayakanukala e Pirata são da Aldeia Topepeweke, localizada no Território Indígena do Xingu (TIX). Dando início a mesa, Putira Sacuema abordou a saúde a partir dos territórios indígenas trazendo um questionamento muito importante sobre o que é saúde de fato? Segundo ela, para os povos indígenas, saúde é, também, a garantia de territórios. “Será que nós, como instituição, estamos realmente falando de saúde? Precisamos discutir a saúde a partir dos nossos territórios e da nossa territorialidade”, apontou ela.
Pirata Waura, que participa da pesquisa coordenada por Sandra Hacon sobre o impacto dos incêndios florestais no meio ambiente e na saúde dos povos indígenas da Amazônia, participou do debate representando o projeto. Em sua fala, ele reforçou a importância da Escola dar voz aos povos indígenas, pois, desde a colonização a história que contam sobre os povos indígenas é mentirosa. Pirata falou brevemente sobre o Território Indígena do Xingu (TIX), que atualmente abriga mais de 5,5 mil indígenas, de 16 etnias diferentes. Pirata contou ainda sobre como a Covid-19, por exemplo, atingiu a população indígena de sua aldeia e sobre as ameaças na base da alimentação do seu povo.
Segundo ele, a biodiversidade está sendo ameaçada pelo desmatamento, que impacta, por exemplo, no ritual sagrado desenvolvido pela aldeia, pois falta peixe para a comemoração. “O agronegócio em nossa volta contamina o rio atingindo nossa segurança alimentar”, lamentou . O cacique de Topepeweke e historiador, Akari Waura, afirmou que o agronegócio está destruindo o território. “Atualmente estamos cada vez mais doentes. Temos diabetes, hipertensão, doenças que quando eu era jovem não existiam. Hoje comemos os alimentos produzidos pelos brancos e procuramos por remédios, pois não temos mais floresta e os remédios que vem dela”, contou o cacique.
O cientista tradicional Ayakanukala Waura, demostrou imensa alegria em estar na Fiocruz passando conhecimento e experiência indígena. Ayakanukala abordou em sua fala o perfil de saúde dos povos indígenas do Xingu e destacou que não sabe o que significa saúde, mas ela está m tudo. “O que falta para que a medicina indígena seja reconhecida como a tradicional?, questionou ele. Por fim, o cientista falou sobre os efeitos das mudanças climáticas no ambiente, destacando as questões de alimentação e cultura do seu povo.
Por: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz)
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