Equipes especializadas da Ebserh atuam 24 horas para fazer captação de órgãos de forma humanizada
Profissionais revelam as estratégias para abordar famílias de potenciais doadores e explicar sobre o direito e a importância de doar órgãos
Uma das fases mais delicadas e talvez uma das mais importantes no processo de captação de órgãos é o momento de abordar a família de um paciente recém-falecido para conversar sobre a possibilidade de doação. Mas, para isso, existem equipes que são capacitadas, garantindo o acolhimento humanizado da família no momento de perda e, ao mesmo tempo, explicando sobre o processo e importância de doar órgãos. Saiba mais nesta reportagem especial da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) sobre doação de órgãos.
Um dos destaques deste processo são as Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTTs), formadas por equipe multiprofissional da área de saúde, com a finalidade de organizar no âmbito da instituição rotinas e protocolos que possibilitem o processo de doação de órgãos e tecidos para transplante.
O coordenador da Central de Transplantes de Santa Catarina, o médico Joel de Andrade, disse que o estado é considerando um exemplo de sucesso na captação de órgãos para transplante, com 24,7% de não aceitação das famílias após a identificação do doador e abordagem da equipe especializada, contra uma taxa nacional de 47%. “A principal estratégia é justamente a constituição, fortalecimento e treinamento constante dessas comissões hospitalares, que fazem girar esta roda”, disse.
Segundo ele, a roda do processo começa na detecção de potenciais doadores, passando pela manutenção clínica deste doador, pelo diagnóstico correto de morte encefálica até chegar à etapa que ele considera mais delicada: a entrevista com os familiares. “A base do desenvolvimento deste processo foi a educação. Em todas as etapas temos uma ferramenta educacional voltada para estes profissionais”, disse.
Izabelle de Freitas Ferreira, da Comissão Hospitalar de Transplantes do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC), vinculado à Ebserh, disse que, na verdade a família é informada que tem o direito de fazer a doação. “Não existe obrigação, não existe nenhuma insistência. A doação é apresentada como um direito que a família pode exercer”, explicou a enfermeira.
Segundo ela, a equipe fica em plantão permanente, segue todo um protocolo e faz trabalhos de conscientização com os demais profissionais do hospital, além de passar por cursos e reciclagem para fazer esta abordagem de uma forma humanizada. “Conversamos em um local reservado, sempre respeitando a vontade da família, explicamos que o corpo não fica deformado, que é um grande temor de alguns parentes e, se a família concordar, fazemos o contato com os responsáveis pela captação no Estado. O importante é o respeito à família neste momento”, complementou.
Um trabalho especial nesta área está sendo desenvolvido pelo médico Ilidio Antunes de Oliveira Junior, no Hospital de Clínicas do Triângulo Mineiro (HC-UFTM/Ebserh), coordenador da CIHDOTT da instituição, onde são realizados transplantes de tecidos oculares (córnea, esclera e limbo), renais, de tecidos ósteo-tendino-ligamentares, de medula óssea autólogo e de válvula cardíaca, num total de 1.357 cirurgias de transplantes desde 1981.
Ele implantou, em janeiro de 2001, o projeto Vida pela Vida, que motiva e conscientiza a população de 27 cidades brasileiras, por meio de visitas e atenção, acolhimento e apoio humanizado às famílias. “Estamos com 65% de doações autorizadas de múltiplos órgãos e tecidos para transplantes, contra uma média nacional de 43%, e aproximadamente 30 mil doadores voluntários de medula óssea cadastrados”, disse.
O consentimento
De acordo com a legislação vigente com relação a ser um doador de órgãos ou tecidos para transplante, somente a família pode autorizar o processo. Nenhuma declaração em vida é válida ou necessária, não há possibilidade de deixar em testamento, não existe um cadastro de doadores de órgãos e nem são mais válidas as declarações nos documentos de identidade/carteiras de habilitação e nem mesmo as carteirinhas de doador.
O médico explicou que, por essa razão, a única forma de ser um doador pós-morte é discutir o assunto, em vida, com os seus familiares, o que permitirá também a todos que participarem dessa conversa, revelarem-se doadores ou não de órgãos. “Essa simples conversa permitirá aos familiares tomarem uma decisão rápida e consciente, caso a situação se apresente”, acrescentou, ao afirmar que a principal estratégia para ter sucesso nesta abordagem consiste em dois passos: “Acolher e respeitar”.
A psicóloga hospitalar do Hospital Universitário de Brasília (HuB-UnB/Ebserh), Narjara Pedrosa, explica que a CIDHOTT é acionada em caso de morte encefálica e morte por parada cardiorrespiratória (em caso de possível doação de córnea) e analisa os exames para saber se o paciente está em condições de doar. As equipes do hospital oferecem um tratamento humanizado durante todo o processo. “Em geral, quando a família se sente bem atendida aumenta a chance de doar”, explica. “Esse tema é estimulado em ações para pacientes, acompanhantes e profissionais, pois qualquer um pode ser doador.
A médica intensivista da UTI do Hospital Universitário de Santa Maria da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM/Ebserh), Luciana Borges Segala, coordenadora da CIHDOTT, disse que a taxa de aceitação neste ano está em torno de 50%, com 30% de efetivação, considerando que às vezes o doador não é elegível para o processo.
Segundo ela, as estratégias adotadas pela equipe para garantir a doação e aumentar a taxa passam, principalmente, pelo esclarecimento da população e por campanhas de doação. “O acolhimento, o treinamento e a transparência no processo também são muito importantes”, disse, esclarecendo que o principal motivo para recusa é o desconhecimento da família do desejo do falecido em fazer a doação. “Um doador pode beneficiar até oito pessoas, com possibilidade de captação de pulmões, fígado, rins, pâncreas, córneas e tecidos”, explicou a médica.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por: Rede Ebserh
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte