Exposição de fotógrafo brasileiro no Chile resgata os 50 anos do golpe
Mostra destaca registros emblemáticos da história das ditaduras no Chile e no Brasil
Na véspera do dia que o golpe de estado no Chile completa 50 anos, foi inaugurada no Museu da Memória e de Direitos Humanos (MMDH), em Santiago, a exposição “Fotojornalismo e Ditadura: Brasil 1964/ Chile 1973”, que celebra a arte do fotojornalista brasileiro Evandro Teixeira, autor de registros emblemáticos que contam a história das ditaduras chilena e brasileira. A mostra é considerada a maior atividade promovida pelo Governo Federal e uma das principais ações que marcam as celebrações em memória deste obscuro e violento período iniciado em 11 de setembro de 1973.
O secretário executivo do MinC, Márcio Tavares, participou da abertura da exposição que é uma realização do Ministério, em parceria com o Itamaraty e o Instituto Moreira Salles (IMS). "Evandro Teixeira traz novas luzes para essa história trágica. A lente talentosa de Evandro captou momentos decisivos da história chilena e hoje estão aqui apresentadas no Museu da Memória e dos Direitos Humanos como um enunciado: sem história, memória e verdade não se constrói democracias”, afirmou o secretário.
Ditadura nunca mais
“Estar aqui hoje, um dia antes de completar os 50 anos desse marco, é de extrema importância. Estamos ajudando a contar a história como ela deve ser contada, estamos deixando um recado para o futuro sobre as mazelas e as atrocidades de um período, para que não deixem isso se repetir. Não podemos permitir que o avesso ardente da alegria, o sofrimento, se instrumentalize e se articule, para se fazer presente. Há qualquer vestígio de seu ressurgimento, precisamos combater e denunciar”, reforçou Márcio Tavares.
Também presente, o ministro da Justiça e Segurança Pública brasileiro, Flávio Dino, falou sobre a importância do fortalecimento da democracia, não apenas no Brasil e no Chile, mas em todo mundo. Dino classificou a exposição como elemento importante para reflexão do passado e do futuro. Lembrou os ataques aos Poderes, em 8 de janeiro deste ano; elogiou e defendeu a coragem de Evandro Teixeira em “olhar nos olhos do fascismo e pegá-lo pelas orelhas”. “Estamos aqui falando de ditadura e para lembrar que o fascismo é aliado indissociável da violência”, sintetizou.
O local onde são expostas imagens icônicas para a história do Brasil e do Chile, Museu da Memória e dos Direitos Humanos, marcou a vida do ministro de Direitos Humanos do Brasil, Silvio Almeida, outra autoridade do governo brasileiro acompanhando a inauguração da exposição. Ele recordou, em discurso, ter visitado o local há cerca de 13 anos e despertado para uma consciência sobre a importância da exposição de elementos históricos. “Eu me dei conta do que significa pensar a questão dos direitos humanos, foi crucial para minha trajetória”, afirmou, confessando-se emocionado, especialmente ao ler cartas de crianças órfãs do regime ditatorial no Chile.
Evandro Teixeira, por sua vez, descreveu a emoção de “marcar” novas gerações com suas imagens e a importância da democracia. Aos 87 anos, erguendo sua Leica como troféu, foi celebrado e aplaudido quando discursou e homenageou seu instrumento de trabalho: “Assim combati as ditaduras”, afirmou sob efusivos aplausos.
Participaram ainda da abertura da exposição o embaixador o Brasil no Chile, Paulo Roberto Soares Pacheco; a ministra das Culturas, das Artes e do Patrimônio, Carolina Arredondo; a diretora do Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile, María Fernanda García; a presidente do Diretório do MMDH, Marcia Scantlebury; o secretário chileno dos Direitos Humanos, Xavier Altamirano e a caravana Viva Chile, de ex-exilados brasileiros no território chileno.
A mostra, que traz registros inéditos no Chile das prisões políticas no Estádio Nacional e da destruição do Palacio de La Moneda, ficará aberta até 15 de outubro, com visitação gratuita ao público de terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
Agenda no Chile
No sábado (09/09), Márcio Tavares participou do lançamento do livro do jornalista Roberto Simon, “O Brasil de Pinochet. A ditadura brasileira, o golpe no Chile e a guerra fria na América do Sul”. O secretário-Executivo do MinC refletiu sobre a importância da obra para o fortalecimento da democracia e valorização da memória. “O Ministério da Cultura está muito comprometido a construir condições para uma cultura de memória, de fortalecimento da democracia, e da diversidade e sua relação com os direitos humanos. E sabemos que isso não se faz sem a memória histórica, sem olhar o passado, porque o futuro não se constrói com o esquecimento ou silenciamento do passado histórico”.
A agenda em Santiago incluiu uma reunião com a ministra das Culturas, das Artes e do Patrimônio, Carolina Arredondo, quando foi debatida a retomada dos acordos de cooperação na área cultural entre Brasil e Chile. Ações como a política de base comunitária desenvolvida através dos pontos de cultura, a regulação dos streamings e parcerias na produção audiovisual foram alguns dos temas tratados. O secretário executivo convidou a ministra chilena para participar do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBr) que será realizado entre os dias 8 e 12 de novembro, em Belém (PA).
Leia também: Ministro Silvio Almeida vai ao Chile por ocasião dos 50 anos do golpe
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte