Sala de Crise da Região Sul reúne órgãos federais e estaduais em torno das fortes chuvas e inundações que já impactaram e que ainda podem impactar a região em setembro
O encontro foi promovido com o objetivo de caracterizar a situação hidrometeorológica atual e identificar as perspectivas para os próximos dias
Nesta sexta-feira, 8 de setembro, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) realizou a 1ª Reunião Extraordinária em 2023 da Sala de Crise da Região Sul, que foi transmitida ao vivo pelo canal da Agência no YouTube . O encontro foi promovido com o objetivo de caracterizar a situação hidrometeorológica atual e identificar as perspectivas para os próximos dias, assim como os possíveis impactos para a segurança hídrica e o atendimento dos usos múltiplos da água diante das fortes chuvas e inundações ocorridas no Sul na primeira semana de setembro.
A 1ª Reunião Extraordinária foi aberta pelo diretor-presidente interino da ANA, Mauricio Abijaodi, e contou com as participações de representantes da própria Agência, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), do Serviço Geológico do Brasil (SGB) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Também foram convidados para a reunião representantes dos governos estaduais do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O diretor-presidente interino da ANA destacou que a Sala de Crise é um espaço para definição de estratégias e troca de informações entre órgãos federais e estaduais sobre diversas temáticas que envolvem o evento hidrológico crítico que acontece atualmente no Sul. “O objetivo aqui é que a gente possa, em razão da urgência, avaliar a situação hidrometeorológica atual, as perspectivas para os próximos dias, os sistemas de alerta contra cheias e a operação dos reservatórios das hidrelétricas da região”, destacou Abijaodi.
O superintendente de Operações e Eventos Críticos da ANA, Joaquim Gondim, também ressaltou o papel da Sala de Crise como ambiente para compartilhamento de informações sobre a situação hidrometeorológica do Sul. “Essa reunião tenta trazer a melhor informação disponível no sentido de que todos tenham conhecimento do que é possível que aconteça nos próximos dias e até mesmo no próximo trimestre, como foi aqui mostrado”, disse Gondim.
Em sua apresentação, o coordenador-geral de Operações e Modelagem do CEMADEN, Marcelo Seluchi, falou sobre as perspectivas de nova frente fria na região Sul a partir de 11 de setembro, que tem potencial de trazer fortes chuvas sobretudo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Seluchi também falou sobre o El Niño, que está configurado como intenso e que deve se dissipar entre abril e junho de 2024.
Já o meteorologista do INMET Marcelo Schneider abordou as chuvas muito acima da média no Centro-Norte do território gaúcho, onde houve pontos com mais de 250 milímetros, volume equivalente a um mês de precipitações e que foi registrado num intervalo de poucos dias. Schneider também informou que o INMET prevê fortes chuvas com acumulados de mais de 150 milímetros especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina entre 7 e 15 de setembro.
Já a engenheira sênior do SGB Andrea Germano falou sobre a operação dos sistemas de alerta hidrológicos das bacias hidrográficas dos rios Caí, Taquari e Uruguai. Segundo Germano, estações de monitoramento foram levadas pela correnteza e o Serviço Geológico do Brasil vem atuando em parceria com a ANA para a recuperação e instalação de novas plataformas de coleta de dados para que o monitoramento em tempo real possa ser retomado nessas bacias.
Em sua apresentação, a engenheira de estudos hidrológico e hidráulico do ONS Camila Azevedo abordou a situação do armazenamento de água dos reservatórios das hidrelétricas do Subsistema Sul após as fortes chuvas da primeira semana de setembro. A engenheira do ONS também explicou que a maioria das hidrelétricas nas bacias dos rios Iguaçu, Uruguai, Jacuí e Capivari operam a fio d’água – nelas as vazões que chegam são no mesmo patamar das que saem –, o que inviabiliza o uso dos reservatórios para o controle de cheias.
Ao término da 1ª Reunião Extraordinária, o superintendente Joaquim Gondim enfatizou o estado de atenção que a situação do Sul requer no momento e a atuação da ANA e instituições parceiras para auxiliar os estados da região. “Muita atenção. Essa é a recomendação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Nós continuamos atentos e se algum dos parceiros quiser alguma informação adicional, nós estamos à disposição para contatos. Nós podemos auxiliar nessa questão, trazendo os parceiros que contribuem, como, por exemplo, o Serviço Geológico do Brasil, o CEMADEN, o INMET, o INPE. Todos esses parceiros estão à disposição para dialogar em alguma necessidade”, concluiu Gondim.
A próxima reunião da Sala de Crise da Região Sul está inicialmente agendada para 20 de setembro, a partir das 10h, com transmissão ao vivo pelo canal da ANA no YouTube. No entanto, o encontro pode ser antecipado conforme o desenrolar da situação hidrometeorológica do Sul nos próximos dias.
Sala de Crise da Região Sul
O fenômeno climático El Niño foi confirmado em junho deste ano. Desde então, a ANA vem desenvolvendo ações para alertar os atores envolvidos no tema e promover medidas para mitigar os possíveis efeitos desse fenômeno que atinge o Brasil de diferentes formas. Enquanto no Norte e Nordeste o El Niño tem correlação com a intensificação ou prolongamento dos períodos de seca, na região Sul costumam ocorrer chuvas acima da média, ocasionando alagamentos e inundações mais frequentes e severos.
Desde junho deste ano a Sala de Crise da Região Sul passou a considerar a possibilidade de chuvas acima da média no Sul e, por isso, foram incluídos nas discussões atores relacionados à gestão de risco de inundações. Além disso, em 15 de agosto, a ANA enviou ofício alertando os governos do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina sobre os riscos decorrentes do El Niño e os convidou a participar da Sala de Crise nesse cenário.
O Plano de Contingência da ANA previu a manutenção da Sala de Crise da Região Sul em 2023, sendo que esse espaço foi criado em 2020 com foco na mitigação dos impactos da seca na região ainda provocados pelo fenômeno La Niña, registrado até o início de 2023. Além disso, o Plano determinou a instalação das Salas de Crise da Região Norte e da Região Nordeste em função das perspectivas de secas a serem provocadas pelo El Niño.
A ANA é responsável pela Rede Hidrometeorológica Nacional, que monitora os níveis e vazões dos principais rios do País – especialmente em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB). Em caráter de urgência, a Agência enviou estações automáticas e com transmissão de dados via satélite para a reinstalação de estações danificadas pelas inundações no Sul, assim como autorizou despesas para a ida de técnicos do SGB para realizar esse trabalho e para fazer medições nos locais dessas cheias extraordinárias.
A ANA também apoia a operação dos alertas de cheia do SGB na região Sul tanto financeiramente quanto com a cessão de equipamentos de monitoramento. Desse modo, a Agência tem realizado esforços para restabelecer o monitoramento automático e envio de dados das estações danificadas nos próximos dias. Os dados das estações telemétricas (automáticas) podem ser acessados por meio do aplicativo Hidroweb, disponível gratuitamente para dispositivos Android e iOS, ou pela página https://www.snirh.gov.br/hidrotelemetria/Default.html .
Diariamente também são disponibilizados boletins de acompanhamento da operação dos reservatórios das bacias do rio Iguaçu, Uruguai e do Sistema Hídrico do Rio Paranapanema em: https://www.gov.br/ana/pt-br/sala-de-situacao/todos-os-boletins-diarios . A ANA também publica dados dos principais reservatórios do Brasil, inclusive os da região Sul, por meio do Sistema de Acompanhamento de Reservatórios (SAR) .
Atuação da ANA em eventos hidrológicos críticos
Segundo a Lei nº 9.984/2000 , que criou a ANA, cabe à agência reguladora planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações. Essa atuação acontece no contexto do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) e em articulação com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) – que integra a estrutura do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e é o órgão central do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil – em apoio aos estados, Distrito Federal e municípios.
Por: Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)
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