Brasil comandará o G20 com o compromisso de construir um mundo justo e um planeta sustentável, diz ministro da Fazenda
No Marrocos, onde participa de reunião do FMI, Fernando Haddad falou sobre recuperação da economia brasileira e os desafios da ‘policrise’ global
A recente reestruturação da economia brasileira e os impactos e desafios impostos pela atual “policrise” global foram os pontos destacados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em discurso sobre a presidência brasileira do G20 realizado em Marrakech, no Marrocos, onde representa o Brasil na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com atividades até sábado (14/10), Haddad também participará de agendas bilaterais e de reuniões preparatórias para a organização do G20, evento que terá o Brasil como país anfitrião em 2024, após o país ter assumido a presidência do grupo este ano. O ministro afirmou que o lema da atuação brasileira para a presidência do G20 será “Construir um mundo justo e um planeta sustentável”.
“Em 2023, colocamos a nossa casa em ordem depois de alguns anos turbulentos”, afirmou o ministro, ao falar sobre o cenário doméstico. Ele mencionou um conjunto de medidas implementadas desde o início do ano: o novo arcabouço fiscal, os avanços na reforma tributária e outras reformas estruturais.
“Reduzimos o desmatamento, renovamos e expandimos programas sociais reconhecidos internacionalmente, como o Bolsa Família, e acabamos de lançar um ambicioso plano de transformação ecológica. Agora, o Brasil está pronto para se voltar aos desafios globais e promover um diálogo construtivo e produtivo em direção ao multilateralismo do século XXI”, destacou Haddad.
G20
A atuação do Brasil na presidência do G20 (sob o lema “Construir um mundo justo e um planeta sustentável”) contará com três linhas prioritárias. A primeira linha de ação será trabalhar para promover a inclusão social e combater a fome em todo o mundo. Em segundo lugar, explicou o ministro, o Brasil vai propor um foco específico sobre os desafios da transição energética e do desenvolvimento sustentável, considerando os pilares social, econômico e ambiental. Por fim, a presidência brasileira no G20 vai atuar para avançar na reforma das instituições de governança global.
Especificamente sobre a “trilha financeira”, Haddad disse que o Brasil aproveitará o legado de sucesso da presidência indiana no G20, com foco renovado em cinco áreas críticas e o estabelecimento de duas novas forças-tarefa: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra as Mudanças Climáticas. “Talvez digam que a agenda proposta pelo Brasil para o G20 é ambiciosa demais. Acreditamos que ela é realista e necessária”, afirmou o ministro da Fazenda. Ele citou, ainda, que “o G20 seja talvez o único fórum global com capacidade para promover o multilateralismo do século XXI que o Brasil e muitos outros países estão propondo”.
Cenário mundial
O ministro da Fazenda alertou que a economia mundial enfrenta um momento crítico, em um cenário que exige respostas urgentes e decididas de vários governos e da comunidade internacional, como um todo. “Em vez do triunfo da globalização e de uma ordem mundial liberal centrada no livre comércio, em instituições internacionais baseadas em regras e na promessa de prosperidade para todos, o que vemos hoje é uma crescente fragmentação geoeconômica e um multilateralismo ineficaz, para não falar de uma nova crise da dívida no Sul Global e uma catástrofe ambiental iminente”, apontou.
Ao comentar o panorama de “policrise” global, Haddad afirmou haver várias crises em curso, operando em diferentes níveis, reforçando-se e amplificando-se mutuamente. “Desde a crise financeira de 2008, passando pela Covid-19, até a guerra na Ucrânia, esperamos ansiosamente por tempos melhores e por grandes soluções globais, que infelizmente continuam a fugir de nossas mãos”, declarou.
Fernando Haddad alertou também que 23 anos após a Declaração do Milênio, 10% da população mundial ainda passa fome, enquanto os 10% mais abastados controlam mais de metade do rendimento e 76% da riqueza mundial. O ministro destacou também que as mudanças climáticas são incontestáveis, com efeitos críticos, como o verão mais quente já registrado no hemisfério norte, em 2023. Advertiu, ainda, que gênero, raça e classe social continuam a determinar em grande parte as oportunidades econômicas disponíveis para cada indivíduo ao redor do mundo.
No discurso, o ministro também manifestou “profunda solidariedade” ao povo do Marrocos e ao governo marroquino, em relação ao terremoto que atingiu o país em setembro.
FMI
Fernando Haddad também informou que a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, manifestou decidida inclinação de apresentar um calendário para a revisão das cotas com que cada país emergente contribui para a instituição (inclusive em relação ao Brasil). “Só o fato de ela ter aberto a possibilidade de apresentar um cronograma rígido, que não vai mais ser adiado, é algo bastante positivo”, afirmou o ministro, em conversa com jornalistas.
Ele argumentou que o Brasil, historicamente, tem posição de defesa da proporcionalidade nas contribuições ao fundo. “Questões conjunturais não deveriam [afetar a proporcionalidade], pois quando você rompe com um princípio que está entre as razões de ser da própria instituição, este organismo vai perder legitimidade e apoio no médio e longo prazo”, concluiu o ministro. Debates sobre a revisão das cotas dos países-membros é um dos temas da pauta da reunião anual do FMI.
Programação
Na agenda desta quinta-feira (12/10), o primeiro compromisso de Haddad é uma reunião bilateral com Nirmala Sitharaman, ministra das Finanças da Índia. O encontro é um dos últimos compromissos da indiana frente à trilha financeira do G20, cuja presidência será assumida por Haddad.
Ainda nesta quinta-feira haverá uma sessão plenária do Development Committee , seguida por reuniões bilaterais com Bruno Le Maire, ministro da Economia e Finanças da França, e Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI. Também está programada uma reunião com Dilma Rousseff, presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, antecedendo a reunião de bancada com o FMI. O dia se encerra com um jantar ministerial do G20.
Na sexta-feira (13/10), Haddad terá um encontro bilateral com Amina Mohammed, secretária-geral adjunta da ONU. Em seguida, há um compromisso com Sri Mulyani, ministra das Finanças da Indonésia, e uma sessão do Finance Ministers and Central Bank Governors (FMCBG) G20. À tarde, a agenda do ministro contará com um encontro com Jeremy Hunt, chanceler do Tesouro do Reino Unido, Ajay Banga, presidente do Grupo Banco Mundial e Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O sábado (14/10) será marcado pela plenária do International Monetary and Financial Committee (IMFC). Para o mesmo dia está programado o retorno de Fernando Haddad ao Brasil.
Por: Ministério da Fazenda
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