Combate à desinformação e atenção ao meio ambiente nas favelas
As ações movimentaram crianças e jovens que participaram da oficina de combate às fake news
Organizações e projetos parceiros da Coordenação de Cooperação Social da Presidência promoveram atividades na Feira de Ciência, na Tenda da Ciência e na sala de vídeo da Recepção da Fiocruz durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia no campus Manguinhos, no Rio de Janeiro. As ações movimentaram crianças e jovens que participaram da oficina de combate às fake news, da oficina literária para conscientização sobre o destino do lixo, visitaram a exposição virtual Existe meio ambiente nas favelas e o jogo sobre ações cidadãs de proteção ao meio ambiente.
Oficina de combate à desinformação
Realizada na sala de vídeo do Centro de Recepção da Fiocruz, a oficina de “Combate à Desinformação - Ferramentas para desafiar fake news e outras mentiras sobre saúde e ciência” é uma iniciativa da Agenda Jovem Fiocruz criada especialmente para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. No dia 20, Eric Andriolo e Daniela Araujo receberam 40 estudantes de 12 a 14 anos do Centro Educacional Novo Mundo, de Padre Miguel, para um papo com objetivo de refletir sobre a manipulação e falsificação de notícias e oferecer alternativas para reconhecer informações verdadeiras ou não.
Para Eric, assessor de comunicação da Agenda Jovem Fiocruz e cientista político, o tema da desinformação afeta não apenas a saúde, mas a própria ciência através do negacionismo científico. “O que queremos não é só reforçar a autoridade da ciência ou da imprensa e provocar a rejeição de fake news. Queremos influenciar a construção de conhecimento em relação à credibilidade das notícias: os adolescentes podem e devem saber reconhecer as características da notícia e das pesquisas científicas para poder comparar com o que recebem de notícias nas redes sociais”, afirmou.
Para tanto, os mediadores, além de promoverem atividades de engajamento dos jovens, fizeram jogos como o do telefone sem fio em duas rodadas. Na primeira delas, uma frase com palavras e um contexto familiar aos alunos, na segunda, palavras e um contexto político distante do conhecimento dele. A conclusão da atividade era que criar e propagar informações falsas sobre política, saúde e ciência é mais fácil do que fazê-lo sobre coisas mais cotidianas: não conhecer o assunto dificulta o entendimento do que é ou não verdade.
“Se elas entendem como o conhecimento da ciência e do jornalismo funcionam, aumentam a chance de elas poderem reconhecer quando o que vem é diferente disso, mesmo que não conheçam o contexto das informações”, diz Eric. Chama atenção que, na oficina, ao serem perguntados qual era a fonte de um vídeo que circulou das redes sociais, os estudantes apontaram a plataforma como a fonte. “O mais importante é que vocês saiam daqui sabendo que não podem tratar uma plataforma de rede social como se fosse um veículo de notícias. Elas não se importam com o conteúdo que está lá como um canal de televisão, por exemplo. Elas não podem ser consideradas como fonte”, disse a educadora popular e pesquisadora de comunicação Daniela Araújo. O objetivo da oficina é ensinar os adolescentes a identificarem as características de uma notícia falsa e que possam, pelo menos, parar o ciclo de propagação.
Jogo interativo: Ecotroca
Na dinâmica, um tabuleiro gigante com um caminho, um dado com seis cores diferentes, cores que indicam ações de avançar e retroceder a depender da forma de se relacionar com o meio ambiente. Na proposta pedagógica, as atitudes de educação ambiental e promoção da saúde levavam crianças e adolescente a avançar e vencer o jogo. E então, voltar duas casas porque o dado apontou que “você jogou lixo no chão” ou avançar cinco casas porque o dado perguntou e você confirmou que se vacinou. Esses eram alguns dos movimentos de sorte e conteúdo cidadão que mobilizavam o jogo.
Outro assunto abordado foi a importância do voto e da influência que essa decisão exerce para as políticas ambientais. A carta “Você escolheu um presidente que não preserva o meio ambiente” leva o participante a voltar todas as casas e começar novamente. “O jogo é uma forma de realizarmos esse trabalho de consciência ambiental de várias formas, com foco nas questões políticas, sociais, do dia a dia”, disse Fábio Monteiro, engenheiro ambiental, morador de Manguinhos e criador do jogo.
O projeto Ecotroca realiza educação ambiental em escolas e projetos sociais atuantes no território de Manguinhos, orientando sobre o descarte adequado de materiais como óleo de cozinha e tampas plásticas de garrafas e organizando a coleta desses materiais. Em seu estande na SNCT na Fiocruz, a iniciativa, que tem o apoio da Coordenação de Cooperação Social da Presidência e da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp), propôs esse jogo de tabuleiro gigante que recebeu os participantes nos dias 19 e 20 de outubro na Feira da Ciência.
Além da Feira da Ciência na SNCT, o projeto também realiza essas ações nos territórios de favelas. Nesses locais, no entanto, se não há coleta seletiva, por exemplo, o foco da ação se volta para aquilo que as crianças e adolescentes conseguem praticar. “Nesses casos, trabalhamos com reciclagem de tampinhas ou descarte de óleo de cozinha usado – ou qualquer outra coisa que seja do dia a dia delas. E isso é ótimo, mas se os órgãos públicos não comparecerem vai ser insuficiente todo esse esforço de educação ambiental dos educadores e das famílias”.
No território de Manguinhos, para a parceira com Estrelas do Mandela, que atua incentivando a prática de esporte para meninas, quando a organização junta uma quantidade específica de materiais que serão entregues para a reciclagem, o valor arrecadado pela Ecotroca custeia a compra de chuteiras e bolas de futebol. “Sem condições de ter seus próprios tênis, as crianças revezam, mesmo quando não são do mesmo tamanho, para que as colegas possam jogar. Entendemos que, ao pagar os equipamentos com o valor arrecadado da reciclagem, não estamos apenas fazendo educação ambiental, estamos incentivando que elas continuem se desenvolvendo no esporte”, apontou Fábio.
Exposição virtual: Existe meio ambiente em favelas
O título da exposição virtual apresentada pelo Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha , através da parceria entre a Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), responde a uma dúvida de grande parte da população.
Quando o recorte é o território de favela, é evidente a falta de acesso aos quatro componentes essenciais: água potável chegando nas casas, coleta efetiva de resíduos sólidos, tratamento de esgoto sanitário e limpeza de águas pluviais. Por isso, acredita-se que não há meio ambiente ali, mas a exposição virtual apresentada no estande, mostra 11 fotos de Rejany Ferreira com registros de nascentes, cachoeiras, vegetação e rios localizados nos territórios do Complexo do Alemão, Lins, Jacarezinho e Manguinhos. As imagens apresentam ao público o olhar sobre o meio ambiente nesses quatro territórios localizados na bacia hidrográfica do Canal do Cunha, com suas diferenças e similaridades. As imagens registram espaços construídos e naturais, olhando para suas potências, possibilidades e problemas.
A exposição “Existe meio ambiente em favelas” representa uma quebra do imaginário social de que meio ambiente é só onde tem vegetação, floresta e reserva ambiental e traz dados sobre saneamento no local. "Todo espaço é um meio ambiente transformado. Quando falamos de favela, tratamos de um meio ambiente aonde os serviços não chegam de forma qualificada, por isso, em sua maioria, não podemos considerá-lo um ambiente saudável, mas não deixa de ser meio ambiente por isso. Meio ambiente é tudo", afirmou Rejany Ferreira, geógrafa, integrante do Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha e pesquisadora bolsista da Cooperação Social.
Ao falar sobre os quatro componentes essenciais do saneamento, ela cita o verso "Lata d'água na cabeça, lá vai Maria", da música que cita a vida da população que carrega água de áreas mais baixas para as áreas mais altas do morro. Ali até hoje se depende da solidariedade da vizinhança para que a água chegue, afinal, quem não tem bomba (às vezes é preciso duas) não recebe nada nas torneiras. "Após esse processo de privatização, o acesso à água segue precário. O Santa Marta ficou quinze dias sem, enquanto Botafogo tinha água", destacou Rejany.
Oficina ecoliterária da Rede CCAP
- O que a árvore oferece pra nós? - Frutos, papel, oxigênio. - E o que nós oferecemos pras árvores? - Destruição, queimada. O diálogo foi parte da oficina socioambiental Ecoliterária com Ecotrocas da Rede CCAP com apoio da Cooperação Social que aconteceu no dia 18 de outubro à tarde na Tenda da Ciência da Fiocruz pela SNCT. Grace Ellen, mediadora literária da oficina e estudantes do sexto e do nono ano da Escola Municipalizada de Inoã, Maricá, conversaram sobre separação de objetos que seriam jogados no lixo considerando seus materiais e tempo de decomposição completa.
Parceira da Cooperação Social, a Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático e Sustentável, a Rede CCAP está presente nas articulações com moradores, conselhos comunitários e instituições na construção de políticas que favoreçam um ambiente saudável e promotor de direitos em Manguinhos. Um de seus programas, o Espaço Casa Viva, abriga a biblioteca que promoveu a oficina da SNCT.
"Somos uma biblioteca, então buscamos através do livro, da arte e da leitura promover uma conscientização sobre sustentabilidade, principalmente o destino que damos para o lixo. O paradoxo é que estamos na comunidade de Manguinhos e lá não tem seleta coletiva, mal tem coleta normal. Então a criança aprende a teoria, mas pode não ter meios de colocar em prática", disse Grace Ellen.
SNCT nos territórios
A Feira da Ciência e outras atividades da SNCT na Fiocruz foram encerradas no dia 20, mas o evento e a atuação da Cooperação Social não acabaram. As atividades de promoção da saúde, divulgação científica e educação ambiental seguem esta semana no território de Manguinhos. Hoje, dia 24, ocorre no Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro, das 9h às 14h, as ações territorializadas da snct. A Cooperação Social apoia a oficina de percussão com ritmos brasileiros apresentados pelo grupo Música na Calçada, realizada pela Escola de Música de Manguinhos/Rede CCAP, e a oficina "Cordel e Território" realizada pelo coletivo Experimentalismo Brabo que surgiu no Complexo de favelas de Manginhos, Rio de Janeiro, e realiza um trabalho de provocação artística propondo a reflexão sobre arte, afeto, cultura, solidariedade e paz. Também realizam as atividades territoriais a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Museu da Vida Fiocruz.
As ações no território da Maré foram adiadas por conta do contexto de segurança pública que o local tem atravessado. As atividades da Cooperação Social pela SNCT na Maré estão previstas para o mês de novembro.
Por: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
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