Dia Nacional do Livro: políticas públicas e a importância do livro e do material didático
Pedro Bandeira, escritor consagrado e com diversas obras que compõe o acervo do PNLD, fala sobre o programa e sua relevância
Neste domingo, 29 de outubro, é comemorado o Dia Nacional do Livro, uma data que homenageia o dia em que foi fundada oficialmente a Biblioteca Nacional do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, ainda em 1810.
Por meio do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), o Ministério da Educação (MEC) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) executam um dos programas federais mais longevos da história do Brasil e que promove o acesso a livros para milhões de crianças, jovens e adultos do ensino público. Neste sentido, o trabalho executado pelo MEC e pelo FNDE são partes fundamentais no fomento à leitura em todo o país.
O PNLD compreende um conjunto de ações voltadas para a distribuição de obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, destinados a alunos e professores das escolas públicas de educação básica do Brasil.
Com 85 anos de atuação, 30 milhões de alunos atendidos e 130 milhões de livros entregues de forma sistemática, regular e gratuita para escolas participantes do programa, o PNLD contempla instituições comunitárias, confessionais e filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o poder público.
Além disso, o programa possui ações voltadas à acessibilidade, com materiais para estudantes com deficiência visual, com baixa visão ou disléxicos. Já os livros que são destinados aos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e Médio estão disponíveis também no formato de livro digital (ePUB) e podem ser acessados por todas as escolas que demandam esse tipo de atendimento.
Pedro Bandeira e a importância do PNLD
Para falar um pouco sobre sua experiência como escritor que integra o acervo do PNLD, convidamos o autor premiado Pedro Bandeira, conhecido por seus livros voltados para público infanto-juvenil. Segundo Pedro é preciso empoderar essa próxima geração por meio da educação, oferecendo-lhes uma rica exposição à própria língua e incentivando a leitura o máximo possível. Assim poderemos aumentar a riqueza vocabular dos nossos alunos e, portanto, a sua capacidade de pensar, de compreender e de criar.
Considerado o autor com o maior número de livros vendidos no Brasil na área em que atua, atualmente as obras de Pedro Bandeira integram o acervo do PNLD, inspirando milhares de crianças por todo o país. “No começo da minha carreira, dava vontade de chorar quando eu visitava escolas públicas onde não havia biblioteca, um livro sequer, e sabia que a professora comprava algum livrinho, ou trazia algum de casa que havia lido em seu tempo de estudante, e lia histórias para seus alunos em voz alta. Imaginem então a minha alegria ao voltar hoje, 40 anos depois, a uma dessas escolas, e visitar uma sala de leitura, abarrotada de livros, à disposição de todos, sem exclusão! Imaginem minha alegria quando vejo um livro meu muito manuseado, quase aos pedaços por ter passado por muitas mãozinhas, por tantos olhinhos arregalados! O que seria da minha esperança se não houvesse o PNLD? ”, enfatizou o autor.
1. Sendo um autor premiado e reconhecido internacionalmente, como vê o papel da literatura na educação?
Usamos a linguagem, a principal capacidade que nos diferencia de todas as outras espécies, muito mais para pensar em silêncio, conosco mesmos, do que para nos comunicar. Assim, indivíduos que tiveram durante a vida pouco contato com a linguagem, que leram pouco, que possuem um sofrível armazenamento de vocábulos e de associação entre estes vocábulos, além de possuírem uma sofrível capacidade de comunicação, terão também uma precária capacidade de pensar, de especular, de criar. Portanto, para empoderamos nossa próxima geração, temos de oferecer-lhes uma rica exposição à própria língua, levando-os a ler o máximo possível, para aumentar sua riqueza vocabular e, portanto, sua capacidade de pensar, de compreender, de criar. E que melhor material temos a oferecer-lhes desde cedo senão a Literatura de prazer, para que eles possam ter um contato agradável com a língua de modo a enriquecerem sua compreensão vocabular, seu letramento, enquanto se divertem?
2. O que representa ter suas obras integrando os acervos do PNLD?
Nosso país ainda está longe de ter uma divisão de riqueza que permita que qualquer família compre livros. Por isso, um autor como eu, que sonha com o empoderamento de todos os brasileiros através da Educação, com o fim da exclusão, não pode satisfazer-se sabendo que apenas uma pequena camada de nossa população possa ter acesso ao que escreve. Quero falar com todos os meus netinhos do Brasil, não só com os mais ricos.
3. Sua experiência com crianças e jovens tem sido notável. Como entende que o livro pode impactar na vida desses meninos e meninas?
O melhor exemplo que tenho sou eu mesmo. Meu pai morreu pouco antes do meu nascimento, minha mãe era uma fofa senhora que me contava histórias de fadas, mas de muito pouco estudo. Assim, sozinho que eu era, preenchia meu tempo brincando e lendo. Histórias em quadrinhos, livros de Lobato aos traduzidos Dickens, Twain, Stevenson, Dumas, Hugo, Burrougs, Carrol... Fui feito pelos livros de ficção, lidos para me divertir, sem qualquer consciência de que eu estivesse me preparando para viver da minha língua. Se a mim o livro construiu, por que não haveria de construir todos os meus netinhos? Disso tenho provas, pois antes da informática, sempre fui atolado de cartas de leitores que me diziam originalmente não ter gostado de ler, mas que, depois de algum livro meu, tornara-se um leitor. A muitos deles acompanhei continuando a troca de cartas, logo mais de e-mails, e acompanhei-os tornando-se educadores, advogados, gente de escola, um deles hoje dando aulas na Sorbonne, uma juíza, todos meus filhotes, que já produziram alguns dos meus netinhos, em todo o Brasil. Tenho uma que até já é bailarina do Municipal do Rio. Ah, quantas paixões!
4. Qual a experiência mais marcante em sua carreira?
Difícil escolher dentre tanto amor que tenho recebido dos meus leitores, mas destaco um que até hoje me abala: uma leitora minha estudou Direito, prestou concurso para juíza e certo dia me enviou um e-mail dizendo que, cada vez que lhe cai nas mãos algum processo mais cabeludo, ela pensa: “O que faria um Kara nessa hora?”. Só para informar, “Kara” é o nome de uma turminha de adolescentes que, em suas aventuras, age sempre pela justiça, pela liberdade e pela democracia. Tremo ao lembrar que uma juíza de direito usa a ética que esses jovens “Karas” revelam em suas ações. Isso não é maior do que qualquer prêmio Nobel?
Para o escritor, que acumula leitores por todo o Brasil, é uma honra poder transformar a realidade daqueles que antes até chegavam a dizer que não apreciavam a leitura. Hoje, aos 81 anos, Pedro fala da satisfação que é envelhecer sabendo que suas histórias servem para melhorar o nosso país, pelo menos um pouquinho.
Por: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte