Embrapa e Banco Mundial discutem uso sustentável de pastagens em degradação
O objetivo do evento foi construir um documento com indicações técnicas e recomendações para políticas e programas que visem à recuperação e reintegração produtiva de pastagens
Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) representando os diferentes biomas e regiões, representantes de setores de produção do agro, especialistas de universidades, representantes do setor financeiro, de ministérios ligados ao tema, instituições ligadas à infraestrutura e meio ambiente participaram da primeira oficina técnica organizada pela Embrapa e Banco Mundial para discutir as políticas públicas para otimização do uso sustentável de áreas de pastagens em degradação. A partir das discussões e dos resultados apresentados pelos grupos de trabalho, será elaborado um documento técnico com recomendações para as políticas públicas e os programas voltados para a transformação dessas áreas em produtivas. O evento aconteceu na Embrapa, em Brasíia, no dia 4 de outubro.
Segundo levantamento do Mapbiomas – iniciativa do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (rede colaborativa composta por organizações não-governamentais, empresas de tecnologia e universidades)–, a área de pastagens naturais e plantadas no Brasil equivale a cerca de 160 milhões de hectares e representa 45% da extensão total dos estabelecimentos agropecuários, com variação em termos de qualidade. Desse total, 58 milhões de hectares estão em boas condições, 66 milhões em qualidade intermediária e 35 milhões em degradação severa. Oito milhões de pastagens estão em áreas protegidas (unidades de conservação, áreas indígenas e militares)
No anúncio do Plano Safra 2023/2024, o governo federal informou a redução de taxas de juros para os produtores rurais que incluírem em seus projetos a recuperação de áreas de pastagens degradadas.
O Banco Mundial, parceiro do evento, anunciou que está no momento de repensar os objetivos da instituição, ampliando o foco de sua atuação de combate à pobreza para a sustentabilidade ambiental, onde o enfrentamento à pobreza também faz parte. A economista agrícola sênior do Banco Mundial, Marie Paviot, destacou o papel fundamental do Brasil para a produção de alimentos, sobretudo no contexto atual, com o aumento de pessoas em situação de insegurança alimentar. Em sua opinião, o sucesso da agricultura brasileira teve conseqüências para o meio ambiente, como a degradação de áreas produtivas. “O Governo Lula quer aumentar a produção agrícola e para isso fazer uso das áreas degradadas com sua recuperação, evitando assim mais devastação ambiental. E nós do Banco Mundial podemos ser parceiros nessa política pública”, destacou.
Recuperação de pastagens e produção sustentável de alimentos
O diretor de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Clenio Pillon, disse que o futuro da agricultura brasileira deve ter como foco a redução da dependência de fertilizantes, investimentos em bioinsumos e a transição energética, de uma produção de energia fóssil para a bioenergia.
Segundo ele, a recuperação de pastagens é uma agenda que se associa diretamente à pauta dos bioinsumos, na qual a Embrapa vem apresentando uma série de tecnologias, fortalecendo a convicção de que o futuro da agricultura é ser de base biológica. “A expectativa é que até 2050 os países aumentem em 70% a produção de alimentos e o Brasil será protagonista de quase metade desse esforço global. Por isso, o País precisa ampliar sua capacidade de produção, sem desmatar um hectare, um desafio imenso que passa por esse processo de restauração das áreas [abertas] que já existem”, afirmou.
“Não adianta incorporamos áreas degradadas ao processo de produção se não garantirmos inclusão social das famílias que lá existem. Esse é um compromisso de uma Embrapa pública, plural onde o processo de recuperação de pastagens pode também promover fortemente acesso a mercado, a partir de formulação de boas políticas públicas”, anunciou o diretor.
Estabelecendo conceitos
Patrícia Santos, presidente do Portfólio de Pastagens da Embrapa, destacou a importância do alinhamento de conceitos quando se estuda ou pesquisa o tema pastagens degradadas. “Existem vários conceitos na literatura que seguem caminhos diferentes, o que dificulta a comunicação. Por conta disso, a Embrapa promoveu um projeto que aplicou técnicas e propôs conceitos para organizar a informação sobre pastagens no Brasil, com foco especial em degradação de pastagens”, explicou a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste. O projeto segundo ela, propôs dois conceitos, um para degradação de pastagens e outro para pastagens degradadas.
“Quando falo em degradação de pastagens, estou falando de um processo gradativo de perda do potencial produtivo da pastagem, bem como de sua capacidade de recuperação natural ao longo do tempo. Quando falo em pastagem degradada, estou falando da condição final do processo, quando a pastagem perde sua capacidade de regeneração natural em função do baixo vigor das plantas forrageiras ou da infestação elevada por plantas invasoras”, especificou a pesquisadora.
E acrescentou: “quando falamos em números maiores, estamos nos referindo à degradação de pastagem e em números menores, à pastagem degradada. Um pasto em processo de degradação pode se caracterizar por degradação leve, intermediária ou severa”. De acordo com a presidente do Portfólio, o Brasil tem feito um esforço grande para resolver o problema, inclusive com a regeneração natural dessas áreas ou com sua conversão para agricultura. Porém, segundo Santos, só políticas públicas, como o Programa ABC, não são suficientes. O analista em geotecnologia da Embrapa Territorial, Rafael Mingoti, destacou aos participantes que existem pastagens em degradação e degradadas em diversos estados, em todos os biomas brasileiros e o desafio é garantir a acurácia do mapeamento. O primeiro passo em um mapeamento é estabelecer o padrão para aquela região específica, considerando as características do bioma. De acordo com o bioma, as respostas spectris são diferentes.
Mingoti considera um grande desafio identificar as pastagens degradadas usando imagens de satélites, porém possível. Mas para garantir o nível de acurácia é preciso estabelecer padrões e variáveis e considerar a complexidade do bioma, a partir de muita ciência. “A partir do mapeamento, que é um produto muito importante, partimos para o ordenamento territorial, ou seja, o que fazer com aquela área. Selecionamos fatores, tais como logística, produção, socioeconômico, sociais, ambientais, entre outras informações, e depois selecionamos o método, para fazer o zoneamento territorial correto”, afirmou, lembrando que são o método e os fatores selecionados que definirão as estratégias para o uso da terra nas áreas de pastagens degradadas ou em degradação.
Após o nivelamento conceitual, os participantes realizaram trabalhos em grupos temáticos. A orientação metodológica escolhida foi o World Café e, ao final, os grupos apresentaram propostas técnicas para políticas públicas que visem à recuperação de pastagens com foco em questões ligadas aos sistemas de produção, regularização ambiental, infraestrutura e socioeconomia. Visando ao melhor aproveitamento do tempo, o intervalo para o almoço foi na própria Embrapa. Os participantes puderam interagir entre si e contaram com a visita da presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.
Os dados coletados irão compor o relatório final que a Embrapa e o Banco Mundial devem entregar ao governo federal até o fim deste ano. “Nosso objetivo com esse seminário é obter dados e informações técnicas para compor um documento que possa ser oferecido ao governo federal com a finalidade de contribuir para políticas públicas, entre elas, aquelas que visam a transformação de pastagens em degradação em sistemas agrícolas sustentáveis”, explicou o Eduardo Matos, chefe da Superintendência de Estratégia (Suest) da Embrapa Sede.
A coordenação da oficina e a produção do relatório esta sob a responsabilidade da Suest com a colaboração dos especialistas da Embrapa Pecuária Sudeste e Embrapa Territorial. Na foto, da esquerda para a direita, a equipe que organizou o evento: Rafael Mingoti (Embrapa Territorial), Marie Paviot (Banco Mundial) Vanessa Pereira (Suest), Patrícia Santos (Embrapa Pecuária Sudeste) e Pedro Abel (Suest).
Por: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte