Diante de “catástrofe humanitária” no Oriente Médio, Lula cobra trégua determinada por resolução da ONU
Em discurso, presidente ressalta necessidade de preservar crianças, mulheres e idosos, critica deslocamento forçado de mais de 1,6 milhão de pessoas em Gaza e defende solução de dois Estados
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou nesta terça-feira, 21 de novembro, a aplicação da resolução aprovada pela Organização das Nações Unidos há quase uma semana que determina uma trégua humanitária no conflito entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza.
» Confira a íntegra do discurso do presidente
O discurso se deu durante a Cúpula Virtual Extraordinária do BRICS, diante de outros chefes de Estado e Governo e chamceleres dos paises integrantes do bloco (Rússia, Índia, China e África do Sul) e de representantes dos países convidados este ano a integrá-lo: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã.
Lula lembrou que, desde o início da guerra, teve a oportunidade de conversar bilateralmente com diversos líderes da região. Reforçou a posição do Brasil de condenar veementemente os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro, que fizeram inclusive três vítimas brasileiras. Reiterou o chamado pela liberação imediata e incondicional de todos os reféns, e enfatizou que os atos bárbaros não justificam o uso de força indiscriminada e desproporcional contra civis.
“Estamos diante de uma catástrofe humanitária. Os inocentes pagam o preço pela insanidade da guerra, sobretudo mulheres, crianças e idosos. O elevado número de mortos — mais de 12.000 pessoas, sendo 5.000 crianças — nos causa grande consternação. Como bem disse o Secretário-Geral da ONU, Gaza está se tornando um cemitério de crianças”, afirmou o presidente.
Lula criticou uma das consequências imediatas do conflito, que foi o deslocamento forçado de cerca de 1,6 milhão de pessoas (70% da população de Gaza), sem que eles tenham perspectivas de retorno. Deslocamento que se torna ainda mais complexo diante da falta de água potável, de energia elétrica e de acesso cotidiano a alimentos e gás para cozinhar na Faixa de Gaza.
CREDIBILIDADE – Para o presidente brasileiro, as dificuldades para que o Conselho de Segurança da ONU chegasse a uma resolução, em particular devido à prática da instituição do veto pelos membros permanentes, demonstra a urgência da reforma das instituições multilaterais e coloca a credibilidade das Nações Unidas em jogo. Ele lamentou também que mais de uma centena de funcionários da ONU tenham perdido a vida desde o início do conflito.
“O Brasil não poupou esforços em favor do tratamento da emergência humanitária, da contenção da atual escalada e da retomada de uma solução duradoura para o conflito. Propusemos uma Resolução que contou com apoio da maioria dos membros, mas que infelizmente foi objeto de veto de um dos membros permanentes. A paralisia do Conselho é mais uma demonstração da urgência da sua reforma”, citou.
Lula lamentou ainda que só em 15 de novembro, mais de 40 dias depois do início dos conflitos, o Conselho de Segurança tenha aprovado uma Resolução que foca em um dos objetivos essenciais: a proteção de crianças. “Neste momento, o desafio é fazer com que a trégua humanitária determinada pela Resolução seja implementada imediatamente”.
DOIS ESTADOS – Além de criticar o contexto atual da guerra, o presidente Lula cobrou dos parceiros do BRICS uma atuação para evitar que a guerra se alastre para os países vizinhos. “O Brasil não acredita que a paz seja criada apenas pela força das armas. Temos longa experiência que reforça nossa fé na paz criada por uma justa negociação diplomática”, disse.
Por último, o presidente lembrou que a guerra atual é consequência de “décadas de frustração e injustiça representada pela ausência de um lar seguro para o povo palestino”. Para o líder brasileiro, o reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível. “O Brasil seguirá pronto a apoiar todas as iniciativas que levem a uma solução política para esse conflito”.
Por: Planalto
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte