Fiocruz parte em nova expedição para a Antártica com protocolo contra H5N1
Quatro anos após chegar pela primeira vez à Antártica, o Fioantar iniciou nesta quarta-feira (21/11) as últimas expedições previstas no edital 2019-2024 do CNPq / Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Os pesquisadores Adriana Marcos Vivoni, Maithê Magalhães e Lucas Machado Moreira embarcaram em um avião da Força Aérea Brasileira, junto com o jornalista Matheus Cruz, da Coordenação de Comunicação Social (CCS/Fiocruz), e também os engenheiros Armando Carlos Lopes e Carlos Roberto Tavares de Miranda, da Coordenação Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz) que farão a manutenção do Fiolab – o laboratório de biossegurança, equipado e mantido pela Fiocruz na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF).
Essa expedição será dividida em três fases. Este primeiro grupo partiu no início da manhã desta quarta da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino a Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde a Marinha fornecerá as roupas apropriadas para as baixas temperaturas da Antártica. Na manhã de quinta (23/11), eles partem para Punta Arenas, cidade no Sul do Chile onde embarcarão no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel. De lá, seguem para a EACF, atravessando o Estreito de Drake, famoso pelas condições meteorológicas marítimas adversas. Este grupo deverá ficar na estação, na Península Keller, na Baía do Almirantado, Ilha Rei George. Adriana, Matheus, Armando e Carlos devem voltar na semana de 22 de dezembro. Lucas e Maithê só retornarão no final de janeiro.
No início de janeiro parte mais um grupo composto por Marcia Chame e Roberto do Val Vilela, retornando no final do mesmo mês. Antes de janeiro acabar, Martha e Harrison partem para a Antártica, regressando em fevereiro. Estes dois últimos grupos permanecerão embarcados, ou seja, a bordo do navio visitarão vários pontos antárticos para colherem amostras. Através do material coletado em água, solo, degelo, líquens, carcaças e fezes é possível fazer uma vigilância em patógenos que já rendeu vários estudos científicos.
Protocolo de conduta
Com a participação da Fiocruz, a Marinha e o Ministério da Saúde elaboraram para esta Operantar um protocolo de conduta em relação ao H5N1, um vírus de gripe aviária que já foi detectado na costa brasileira, argentina e chilena. Ele pode provocar a morte de aves e animais marinhos ou até mesmo chegar ao ser humano. O objetivo é reduzir ao máximo os riscos de contaminação. “Discutimos bastante os protocolos de conduta, como a descontaminação de roupas e botas, para impedir contaminação entre áreas, pessoas e da própria estação”, conta Wim Degrave, coordenador do Fioantar.
A primeira expedição ocorreu em 2019, mas foi interrompida em 2020 devido à pandemia de Covid-19. Em 2021, ela foi retomada, ainda que cercada de cuidados, como uma quarentena no navio antes de zarpar, para evitar casos de Covid-19. A interrupção no programa foi superada pela boa quantidade de amostras coletadas nas expedições seguintes. “Elas são relevantes para analisar os ecossistemas de fungos, bactérias e vírus na região. Já conseguimos publicar vários artigos científicos sobre as águas dos lagos e isolamento de fungos. As pesquisas com bactérias também estão avançando também”, disse Wim. “Estamos compondo um quebra-cabeças do ecossistema do entorno da EACF, o que nos dará uma ideia do que esperar, de como ele é composto, se já estavam presentes ou se foram introduzidos pelos seres humanos e se conseguem sobreviver lá”, acrescentou.
Mesmo com a pandemia, os trabalhos nos laboratórios no Rio de Janeiro não pararam e rederam artigos, entre eles a detecção inédita do fungo que causa a histoplasmose e do vírus influenza A em pinguins nas Shetland do Sul .
O grupo de laboratórios e coleções científicas da Fiocruz, participantes do projeto Fioantar, aplicou para um novo projeto, de mais quatro anos, junto ao MCTI, para estender e aprofundar as pesquisas tão relevantes.
Primeira viagem
Se os pesquisadores já são veteranos na ida à Antártica, por outro lado, Matheus, Armando Carlos e Carlos Roberto viajam pela primeira vez ao continente. “Os equipamentos foram testados na Cogic antes da montagem do Fiolab, e agora é preciso fazer a avaliação periódica. Estamos empolgados”, disse Armando Carlos. É necessário, por exemplo, avaliar a cabine de segurança biológica, que garante tanto a segurança dos pesquisadores quanto das amostras, fazer testes de performance e manutenção preventiva em equipamentos, por exemplo, como o ultra freezer, que permite conservar amostras em temperatura de -80º C.
“É um momento ímpar para mim, pela possibilidade de fazer uma viagem tão incrível, quanto pela de realizar a divulgação científica das ações da Fiocruz na Antártica”, contou o jornalista Matheus.
Por: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
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