Inclusão financeira do brasileiro avança, mas letramento financeiro ainda pode melhorar
O Banco Central e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) entrevistaram dois mil brasileiros para medir o nível de letramento financeiro da população
Pix, cartão de crédito e conta corrente ou conta salário são os produtos e serviços financeiros mais conhecidos e utilizados pela população, sendo o Pix o principal deles, com 91,6% dos brasileiros afirmando conhecer esse meio de pagamento e 64% informando que o utilizam. Um total de 64% dos brasileiros enfrentou um desequilíbrio financeiro nos últimos anos. Por outro lado, 81,8% afirmam sempre ou frequentemente pagar as contas em dia, mas somente 14,3% conseguem fazer um cálculo de juros simples.
Os resultados fazem parte da pesquisa para medir o nível de letramento financeiro da população, que é um conjunto de conhecimentos, atitudes e comportamentos que ajudam a fazer boas escolhas no uso do dinheiro no dia a dia. Em uma escala que varia de 0 a 100, o nível médio de letramento financeiro foi de 59,6, sendo maior para jovens de 16 a 24 anos (64,5) e homens (61,8); caindo entre os maiores de 60 anos (53,6) e para aqueles com renda familiar de até dois salários mínimos (56). O estudo foi realizado pelo Banco Central em parceria com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e os resultados completos estão disponíveis aqui.
“Os números indicam que o letramento financeiro dos brasileiros ainda pode melhorar, especialmente para alguns grupos específicos, como mulheres, idosos, pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos e moradores da região Nordeste. Por outro lado, vimos que o melhor desempenho na pesquisa foi de pessoas com maior nível de escolaridade e daquelas que possuem diversos produtos e serviços financeiros contratados, como poupança, seguro e crédito”, explica Luis Gustavo Mansur Siqueira, chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira (Depef) do BC.
O índice de letramento financeiro da pesquisa foi calculado considerando três dimensões: comportamento financeiro, atitude (ou postura) ao fazer escolhas financeiras e conhecimento sobre finanças. Confira os resultados de cada um deles e outros destaques do levantamento.
Comportamento financeiro
É a dimensão na qual os brasileiros se saem melhor, com média de 67,8 em uma escala de 0 a 100.
- 81,8% dos entrevistados afirmam sempre ou frequentemente pagar as contas em dia.
- 81,4% responderam que pensam se podem pagar uma compra antes de realizá-la.
- 79,6% dos indivíduos responsáveis pelas decisões financeiras adotam mais de uma medida de controle de orçamento.
Atitude ou postura financeira
A pontuação média foi de 53 em uma escala de 0 a 100.
“De uma maneira geral, o brasileiro afirma que pensa mais em guardar dinheiro do que em gastá-lo no presente. No entanto, o número de pessoas que preferem satisfazer desejos imediatos a pensar futuro ainda é bastante elevado”, destaca Juliana Haruko Horita, coordenadora no Depef.
Ao analisar a afirmação “me sinto mais satisfeito ao gastar dinheiro do que guardá-lo a longo prazo”, 42,7% discordam e 37,3% concordam. Já sobre a frase “tendo a viver hoje sem pensar no amanhã”, 45,9% discordam e 35,2% concordam.
Conhecimento financeiro
A média foi de 53 em uma escala de 0 a 100.
Apenas 14,3% conseguiram fazer um cálculo de juros simples.
“85% conhecem inflação como o aumento generalizado do custo de vida. Porém, um percentual menor, de 54%, respondeu corretamente à questão sobre a influência da inflação sobre o poder de compra”, aponta Paulo Alexandre Cavalcanti Gontijo, analista no Depef.
Inclusão financeira – o Pix chegou para ficar
A inclusão financeira foi medida a partir do conhecimento e do uso de uma lista de 23 produtos e serviços financeiros.
O nível de conhecimento sobre produtos e serviços financeiros é relativamente alto entre a população: 74% dos entrevistados conhecem, ao menos, 13 produtos ou serviços da lista.
Pix , cartão de crédito e conta corrente ou conta salário são os produtos e serviços financeiros mais conhecidos e utilizados pela população, sendo o Pix o principal deles, com 91,6% de conhecimento e 64% de uso.
Resiliência financeira e preocupações financeiras
- 64% dos brasileiros pesquisados enfrentaram um desequilíbrio financeiro nos últimos anos e tomaram as seguintes atitudes para equilibrar o orçamento: redução de gastos e procura por outras fontes de renda.
- 65% não possuem resiliência financeira. Ou seja, se precisassem pagar por uma grande despesa inesperada hoje, no mesmo valor da renda mensal, a maioria dos brasileiros não conseguiria arcar sem fazer um empréstimo ou pedir ajuda à família ou a amigos.
- 49,1% dizem que preocupações financeiras são motivo de estresse em casa, e 45,5% afirmam que essas preocupações prejudicam a saúde.
Índice de letramento financeiro digital
A tecnologia nos rodeia hoje, e com os serviços e produtos financeiros não é diferente. Assim, o letramento financeiro digital está relacionado com decisões e comportamentos ligados ao uso de produtos e serviços financeiros por meio da tecnologia.
A média do brasileiro foi de 62,9 numa escala de 0 a 100.
Destaca-se que:
- 93,2% afirmam não compartilhar senhas bancárias com amigos;
- 90,3% não compartilham informações sobre as finanças pessoais publicamente on-line;
- Apenas 13% das pessoas mudam regularmente as senhas em sites de compras e de administração das finanças pessoais.
Bem-estar financeiro do brasileiro
O bem-estar financeiro é um estado em que você consegue cumprir com suas necessidades financeiras, lidar com choques financeiros e, ao mesmo tempo, ser capaz de se planejar e de conquistar sonhos.
Para medir o bem-estar financeiro do brasileiro, a pesquisa utilizou a escala da Agência de Proteção Financeira ao Consumidor do governo americano (CFPB, na sigla em inglês).
A média brasileira ficou em 45,7, na escala de 0 a 100.
- 44,8% afirmam que nunca ou raramente sobra dinheiro no final do mês.
- 48,6% estão apenas se virando financeiramente.
- 36% estão preocupados que o dinheiro não vai durar.
Pesquisa
A pesquisa de letramento financeiro e inclusão financeira de adultos foi realizada entre março e abril de 2023, utilizando metodologia desenvolvida pela Rede Internacional de Educação Financeira (Infe) da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O estudo foi aplicado no Brasil e em diversos outros países com o intuito de facilitar a comparabilidade internacional. No Brasil, foi conduzido pelo Banco Central, em parceria com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), e executado pela empresa de pesquisas CP2.
Foram entrevistados cerca de dois mil brasileiros entre 16 e 79 anos, uma amostra representativa das diversas regiões do país. Por meio de um questionário robusto, a pesquisa buscou informações sobre os hábitos financeiros dos brasileiros e sobre como eles lidam com seu dinheiro no dia a dia. Vale destacar que essa pesquisa já havia sido aplicada em 2015 pelo Banco Central. Acesse o relatório anterior e outras informações sobre educação financeira no portal de Cidadania Financeira do BC.
Por: Banco Central
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