Ministra Sonia Guajajara questiona discurso de ódio, guerra e o marco temporal em reunião do Clube de Madri
Ministra participou hoje (13/11) em Brasília de encontro anual do grupo cujo tema era “Repensar o desenvolvimento social para as pessoas e o planeta”
Voltado para os desafios demográficos, sociais, econômicos e ambientais num mundo em transformação, o encontro anual do Clube de Madri reuniu ex-primeiros-ministros e ex-chefes de governo, ministros e lideranças de vários países; diretores da ONU e de outros organismos multilaterais mundiais; além de representantes da sociedade civil no Palácio do Itamaraty.
No evento de abertura, com a presença do ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, a ministra disse ser uma honra para o Brasil sediar a reunião, uma demonstração de confiança mundial de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode contribuir com os temas centrais que estão em jogo no planeta, como as mudanças climáticas, o combate à fome, a mudança nos fóruns de governança global para uma maior participação de todos os países, e inconveniência das guerras.
“Não são poucos os temas que estão colocando o planeta no limite, colocando as pessoas em situação cada vez mais de desespero. Precisamos muito repensar o modelo de desenvolvimento do mundo, porque os modelos até agora não têm trazido nenhum resultado.”, disse Guajajara destacando que algumas tradições, incluindo a dos povos indígenas, questiona o sentido de “desenvolvimento”, adotando o termo “envolvimento social” para que as ações incluam as relações entre pessoas e das pessoas com o planeta.
“Vou então jogar algumas questões centrais, a meu ver, para repensar o envolvimento social. Por exemplo, questionar o discurso de ódio e as fake news da extrema-direita que mantêm a sociedade polarizada a partir dos piores valores sociais. Questionar a guerra. O presidente Lula tem falado sempre que não é hora de investir em guerra. É preciso combater a fome. Isso não é uma afirmação retórica”, disse a ministra alertando que tem havido a mobilização de recursos crescentes de todas as grandes potências para as guerras, ao mesmo tempo em que o sistema das Nações Unidas tem entrado em descrédito. “Isto é muito grave e não é um bom sinal, mas é também um sinal que a governança de muitos dos organismos precisa ser alterada rapidamente”, disse.
Falando sobre os desafios de se repensar o modelo de desenvolvimento do mundo, a ministra disse que não será possível conter as emergências climáticas sem a garantia dos direitos humanos. “É urgente e necessário vincular o meio ambiente com os direitos humanos. Ao valorizar os conhecimentos tradicionais e as culturas que pregam o envolvimento humano e este modelo em ligação com o planeta, sabemos que enfrentaremos muitas resistências, seja em governos, em populações e setores específicos em cada país”, disse, pedindo o apoio e a solidariedade aos projetos do governo Lula que vinculam as políticas de preservação da biodiversidade e a gestão dos territórios indígenas aos compromissos internacionais.
“Peço o apoio e a manifestação de vocês contra a derrubada dos vetos do presidente Lula contra o marco temporal que está em pauta no Congresso Nacional. Avançar e aprovar esta tese é um retrocesso nos direitos indígenas e na proteção dos territórios. Sem a proteção dos territórios, violam-se mais os direitos humanos e fica mais difícil avançar em gestão ambiental e preservação da biodiversidade”, disse.
Segundo a ministra, o mundo chegou num momento crítico. “As emergências climáticas provocam reação da natureza em todo o planeta e o racismo ambiental aumentou porque quem mais sofre são as populações que, historicamente, não só poluem menos, mas são as que mais protegem a natureza. Os impactos vão só aumentar. Precisamos encontrar soluções urgentes e necessárias para limitar o crescimento da temperatura do planeta a um grau mínimo. Já é quase impossível. Pelo tanto que já cresceu, pelo pouco que se fez e pelas guerras que hoje se fazem”, disse.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, falando após a ministra, disse que o presidente Lula foi eleito com uma plataforma de defesa das instituições democráticas do Brasil, de combate à fome, a pobreza e a desigualdade social e a proteção ao meio ambiente. “A democracia brasileira tem estado sob ataque nos últimos anos. Aproveito esta oportunidade para transmitir nossa gratidão aos membros do Clube de Madri por sua expressão de apoio à nossa democracia”, disse o ministro, apontando que a redução das desigualdades deve ser uma prioridade para que a fé do povo na democracia não seja comprometida. “Isso exige incluir os pobres e os necessitados no orçamento e fazer com que os ricos contribuam de forma proporcional à sua renda na arrecadação do Estado. É isso que o governo do presidente Lula está empenhado em fazer alinhado a esse objetivo”.
O Clube de Madri é uma organização independente sem fins lucrativos voltada para o fortalecimento das instituições democráticas composta por 89 ex- presidentes e ex- primeiros-ministros de 58 países , sendo o maior fórum mundial de antigos chefes de Estado e de Governo.
Estiveram presentes na abertura do evento que vai até amanhã (14/11), entre outras lideranças, o atual presidente do Clube de Madrid, Danilo Turk, ex-presidente da Eslovênia, os ex-presidentes do Chile Michelle Bachelet e Sebastián Pinera, o ex-presidente do México Felipe Calderón, a ex-presidenta Laura Gentile, da Costa Rica, e a Secretária executiva do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, Ana Flávia Prado.
Por: Ministério dos Povos Indígenas (MPI)
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