MIR detalha ações do segundo Pacote pela Igualdade Racial
Entre as medidas estão políticas para quilombolas, ações afirmativas, primeira infância antirracista, edução e reconhecimento do Hip-Hop como referência cultural
Pela primeira vez, o Brasil celebra o 20 de Novembro com um Ministério da Igualdade Racial (MIR). Para reafirmar o compromisso do Governo Federal com a democracia e a reconstrução do país, foi apresentado, nesta segunda-feira (20/11), o segundo Pacote pela Igualdade Racial.No documento, constam programas nacionais, titulações de territórios quilombola, bolsas de intercâmbio, acordos de cooperação, grupos de trabalho interministeriais, e outras iniciativas que garantem ou ampliam o direito à vida, à inclusão, à memória, à terra e à reparação.
As medidas foram anunciadas pela ministra Anielle Franco e assinadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).
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Entre as ações do segundo Pacote pela Igualdade Racial estão:
POLÍTICAS PARA QUILOMBOLAS
Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (PNGTAQ)
A Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (PNGTAQ) pretende contribuir para o desenvolvimento sustentável dos territórios quilombolas, aliando conservação ambiental, efetivação de direitos sociais e geração de renda, além de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer as necessidades das gerações futuras.
Com uma previsão orçamentária de mais de R$ 20 milhões, a PNGTAQ se propõe a promover práticas de gestão territorial e ambiental desenvolvidas pelas comunidades quilombolas, atuar para garantir os direitos territoriais e ambientais dessas comunidades, favorecer a implementação de políticas públicas de forma integrada, proteger o patrimônio cultural material e imaterial, conservar a biodiversidade e fomentar seu uso sustentável, e ainda, promover a melhoria da qualidade de vida e a justiça climática.
Alguns governos estaduais já anunciaram que vão aderir a política como é o caso do estado da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de Tocantins. Juntos, esses estados tem 1875 comunidades certificadas. Isso representa 51% das comunidades quilombolas certificadas no país. Ao todo, de 3.669 comunidades.
Esta é uma iniciativa da Secretaria de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Ciganos (SPQT/MIR) junto ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MAPA), ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), ao Ministério da Educação (MEC), ao Ministério da Cultura (MinC), à Fundação Cultural Palmares, ao IPHAN, ao INCRA e ao ICMBio.Titulação de terras quilombolas
Insegurança territorial é a principal causa dos conflitos vividos hoje pela população quilombola e está na raiz dos altos índices de violência e precariedade social de muitas comunidades. O último censo do IBGE revelou que apenas 5% da população quilombola vive hoje em territórios titulados no Brasil. Cabe ao Estado brasileiro avançar nesse quesito e promover o direito constitucional da propriedade quilombola.
Para isso, o MIR tem atuado em conjunto com o Incra e junto às comunidades para que todos os processos de titulação em andamento sigam adiante. A meta é que mais de 1800 processos avancem. Durante a cerimônia no Palácio do Planalto nesta segunda (20), a ministra Anielle Franco também entregará títulos que garantem a posse definitiva de terras para mais de 300 famílias.
Um deles será o título integral para comunidade da Ilha de São Vicente, que fica em Araguatins/TO e conta com 55 famílias. O outro, será o título de imóvel para 89 famílias de Lagoa dos Campinhos, que fica em Amparo de São Francisco e Telha/SE. Ambos serão assinados por César Aldrighi, presidente do INCRA.
O Instituto de Terras do Maranhão (ITERMA), em parceria com o Incra e o Governo do Maranhão, também entregará três títulos. Um para a Associação dos Moradores do Povoado Malhada dos Pretos, do município de Peri Mirim/MA, que conta com 45 famílias. Um para a Associação dos Moradores do Povoado Santa Cruz, também de Peri Mirim/MA, que conta com 50 famílias. E um para a Associação da Comunidade Negra de Trabalhadores Rurais Quilombolas de Deus bem Sabe, do município de Serrano do Maranhão/MA, que conta com 80 famílias.
Esta parceria do MIR com o Incra também conta com o apoio do Ministério da Cultura, do Iphan e da Fundação Cultural Palmares.
Impacto positivo em Alcântara/MA
O segundo Pacote pela Igualdade Racial contempla ainda um projeto executado pelo IFMA (Instituto Federal do Maranhão) com apoio do MIR, que resultará em impacto positivo para as comunidades quilombolas de Alcântara/MA. Desde a década de 80, elas são expostas a situações de extrema pobreza e violação de direitos, tendo sido objeto de debate e apreciação em diversas instâncias nacionais e internacionais (como na Corte Interamericana de Direitos Humanos).
O investimento de R$5 milhões prevê cursos de capacitação com ênfase em tecnologias sociais para garantia de alimentação e geração de renda, ações de transferência de tecnologia e ainda, instalação de usinas fotovoltaicas.
POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS
Programa Federal de Ações Afirmativas
O Programa Federal de Ações Afirmativas busca formular, promover, articular e monitorar políticas que garantam mais direitos e equiparação de oportunidades para mulheres e pessoas negras, quilombolas, indígenas ou com deficiência, levando em consideração suas especificidades e sua diversidade.
Com um investimento de R$ 9 milhões e tendo a transversalidade, a interseccionalidade e a intersetorialidade como princípios, o PFAA pretende desenvolver mecanismos que garantam a transparência, a participação, o controle social, a gestão, o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação de políticas afirmativas.
Esta é uma iniciativa da Secretaria de Políticas e Ações Afirmativas, Combate e Superação ao Racismo (Separ/MIR) junto ao Ministério da Gestão e da Inovação (MGI), Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Ministério das Mulheres (MM) e Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
Grupo de Trabalho Interministerial de Comunicação Antirracista
O Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) de Comunicação Antirracista é responsável por propor políticas que promovam uma comunicação mais inclusiva e respeitosa dentro da administração pública. Além de elaborar o Plano Nacional de Comunicação Antirracista, caberá ao GTI propor estratégias de fortalecimento de mídias negras, de promoção da diversidade racial em publicidades e patrocínios do Estado, de diálogo com a sociedade e veículos de comunicação, de formação para porta-vozes, servidores e prestadores de serviço.
Esta é uma iniciativa do Ministério da Igualdade Racial em parceria com a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom/PR) para atender a uma demanda histórica de movimentos sociais.
VIDA DIGNA
Primeira Infância Antirracista
Primeira Infância Antirracista é o tema do memorando de entendimento que oficializa a intenção do MIR e do Unicef trabalharem juntos para combater o racismo e atenuar seus impactos na infância de crianças negras, quilombolas e indígenas. As estratégias, a serem criadas e implementadas em cooperação mútua, serão voltadas para a capacitação de profissionais da saúde, da assistência social e da educação, para a realização de seminários e eventos, para a produção de pesquisas, assim como para a disseminação de materiais relacionados a práticas antirracistas nos serviços de atendimento às gestantes, crianças negras e indígenas.
Esta é uma iniciativa da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo (Separ/MIR) que também envolve o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Saúde (MS).
Brasil Sem Fome
O Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o MIR e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) reafirma o compromisso com a construção de uma agenda de combate à fome, à insegurança alimentar e à pobreza, a partir da qualificação de serviços e equipamentos da assistência social.
Ele integra o Plano Brasil Sem Fome, que busca promover a equidade de raça e gênero por meio da inclusão socioeconômica e da promoção da segurança alimentar e nutricional.
MEMÓRIA E REPARAÇÃO
Pequena África e Cais do Valongo
O Acordo de Cooperação Técnica entre MIR e BNDES visa não só a implementação de projetos culturais e ações em prol da preservação e valorização da herança africana, como também o fortalecimento das instituições culturais na região da Pequena África e do sítio arqueológico Cais do Valongo, no Rio de Janeiro (RJ).
Principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas, o Cais do Valongo é Patrimônio Mundial da UNESCO. Estimativas sinalizam que cerca de um milhão de africanos desembarcaram ali. Reconhecer a relevância desse lugar é reconhecer a truculência do período escravagista e a inestimável contribuição de africanos e seus descendentes para construção do país. Próximo a ele também estão o Jardim Suspenso do Valongo, o Largo do Depósito, a Pedra do Sal, Centro Cultural José Bonifácio e Cemitério dos Pretos Novos. As obras de valorização do Cais do Valongo foram concluídas e o sítio arqueológico será entregue para a comunidade na quarta-feira (23).
Esta é uma iniciativa do MIR em parceria com o BNDES, a Fundação Cultural Palmares, o Iphan e o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
Atendimento psicossocial especializado
O Governo Federal destinará R$ 8 milhões a serem investidos em formação especializada para quem trabalha no atendimento psicossocial de mães e familiares vítimas de violência, elaboração de protocolo para o fluxo de atendimento e definição de diretrizes para supervisionar a rede socioassistencial do Estado.
O projeto piloto será desenvolvido na Bahia e no Rio de Janeiro, com apoio de cinco universidades públicas: Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal do Ceará e Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Esta é uma ação conjunta do MIR com o Ministério da Justiça, o Ministério da Saúde e o Ministério do Desenvolvimento Social.
Reconhecimento do Hip-Hop como referência cultural
Decreto Presidencial de reconhecimento do Hip-Hop como referência Cultural Brasileira, estabelecendo as diretrizes nacionais de valorização da cultura Hip-Hop.
Ação do Ministério da Cultura com apoio do Ministério da Igualdade Racial
EDUCAÇÃO
Caminhos Amefricanos
Caminhos Amefricanos é um programa de intercâmbios Sul-Sul que visa promover o diálogo, a pesquisa, a produção científica, a educação antirracista, as trocas culturais e a cooperação entre Brasil e países da África, América Latina e Caribe.
O programa se destina a pessoas pretas, pardas e/ou quilombolas da rede pública de ensino, que estejam regularmente matriculadas em cursos de licenciatura ou sejam docentes da Educação Básica daqui, assim como a estudantes e docentes de grupos sociais historicamente vulnerabilizados nos países parceiros.
Com um investimento de R$ 4,5 milhões por ano, e R$22.5 milhões no total, o Caminhos Americanos pretende alcançar 15 países ao longo dos próximos 5 anos. A cada edição, 50 bolsistas do Brasil e 10 bolsistas do país parceiro serão beneficiados por intercâmbios de 15 dias. Os primeiros países a receberem o Caminhos Amefricanos serão Moçambique, Colômbia e Cabo Verde. O Edital de Seleção para a primeira edição, que conectará São Luís/MA e Maputo, será lançado na terça-feira (21). Todas as pessoas beneficiadas terão direito a auxílio de R$24.700 para custear deslocamento, diárias, seguro saúde, solicitação de visto e emissão de passaporte.
Esta é uma iniciativa do Ministério da Igualdade Racial em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES).
INVESTIMENTOS EM DADOS E CULTURA
Além de atos infralegais e decretos, o segundo Pacote pela Igualdade Racial também abarca investimentos em pesquisa, monitoramento e avaliação de dados. São exemplos disso a parceria com o IBGE, com o Ipea e com o Instituto Federal de Brasília. A primeira viabiliza um bloco, até então inédito, sobre ações afirmativas e gestão dos municípios dentro do âmbito racial, em uma das maiores pesquisas do país (a MUNIC e a ESTADIC). Com isso, será possível a coleta de mais dados sobre ciganos, quilombolas, povos de terreiro e uma análise mais assertiva sobre como as políticas públicas têm sido efetuadas.
Já o monitoramento, permitirá mapear nacionalmente temas pouco debatidos mas bastante relevantes para embasar políticas públicas, como a assistência de cuidado a pessoas idosas negras ou acidentes de trabalho para pessoas negras. A terceira, fomentará a construção do Observatório de Políticas Públicas em Igualdade Racial e o fortalecimento dos NeaBis (Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas), que resultará em conscientização sobre os povos de terreiro, oportunidades para jovens participarem de projetos de Igualdade Racial e criação de novas políticas voltadas para essa pauta.
A ministra Anielle Franco também anunciará investimento de R$4,4 milhões em uma chamada pública de incentivo à produção cultural, economia de axé e agroecologia. A ação é voltada para Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs), quilombolas e ciganos de todo o Brasil. Serão financiados os projetos que se propuserem a valorizar a cultura desses povos e a produzir representações distintas do que está hegemonicamente estabelecido no imaginário social brasileiro. Pretende-se ainda fomentar a agroecologia, reafirmando práticas sustentáveis de desenvolvimento nos territórios, sem perder de vista a preservação da biodiversidade e dos saberes tradicionais.
Além disso, serão contempladas iniciativas voltadas à economia criativa, por meio da geração de renda a partir da cultura de axé, uma forma de valorização da identidade negra e da ancestralidade.
O BRASIL PELA IGUALDADE RACIAL
Há 11 meses o MIR tem trabalhado para combater o racismo e promover igualdade racial a partir de discursos consistentes e ações concretas.
Até agora, já foram entregues: o Plano Juventude Negra Viva, a Caravana Abre Caminhos, a Caravana Brasil Cigano, o Programa Esperança Garcia, 259 bolsas para alunos negros no PIBIC-AF, o Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, o decreto que prevê o mínimo de 30% para pessoas negras em cargos em comissão na administração pública, a ampliação do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), a reestruturação do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), um edital para fomentar a Estratégia Nacional de Políticas para a População Negra e Periférica na Política de Drogas, o GTI de Preservação do Cais do Valongo, o Programa Aquilomba Brasil, a Nova Lei de Cotas no ensino superior, o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, leis que incluem mulheres negras no Livro de Heroínas da Pátria e a lei que equipara injúria racial ao crime de racismo, além de acordos históricos com EUA, Colômbia, Espanha e retomada de atuação junto ao Mercosul.
Um Brasil que enfrenta o racismo e promove a igualdade racial é um Brasil mais desenvolvido, mais justo e democrático. Fortalecer a memória, a história, a cultura e o orgulho da população que movimenta esse país há séculos é o caminho para reparar o passado e reconhecer a potência de tudo que ainda pode vir.
Por: Ministério da Igualdade Racial (MIR)
Edição: Agência Gov
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