Acordo intermediado pela AGU põe fim a disputa de 30 anos e beneficia 200 famílias de PE
Compra de terreno pelo Incra viabilizará continuidade da política de reforma agrária na região da Mata Sul do estado
Uma disputa judicial de quase trinta anos foi resolvida esta semana com a compra de um terreno pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Gameleira, na Mata Sul de Pernambuco. Com o acordo, 206 famílias que durante todo esse tempo viveram sob o risco de serem desalojadas terão agora direito à posse da terra, por meio da política de reforma agrária do governo federal. Por outro lado, a empresa que reivindicava a desapropriação da área, mas estava impedida de levar adiante empreendimentos no local por causa do impasse jurídico, será indenizada.
A controvérsia começou nos anos 1990, quando o governo tentou implantar na região um assentamento. A maioria das pessoas selecionadas para o programa, no entanto, já vivia no local antes disso porque eram funcionárias de uma antiga usina de processamento de cana-de-açúcar, fundada no século XIX e que operou ali até o fim do século XX.
Porém, o decreto que classificava a área como de interesse social e, portanto, passível de desapropriação, foi derrubado na Justiça em 1997 e uma empresa privada, a Mata Sul Agropecuária Ltda, acabou comprando a área. Teve início uma batalha judicial, com inúmeras decisões proferidas em várias instâncias, inclusive pelo Supremo Tribunal Federal. A solução só começou a se desenhar este ano, quando a Justiça remeteu o caso à Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.
Uma visita técnica do tribunal constatou que a comunidade estava de fato instalada há muitos anos no local, onde inclusive há uma escola para as crianças. Além disso, os alimentos agrícolas que as famílias produzem são importantes para o abastecimento de toda a região. Na mesa de negociações, a empresa chegou a pedir R$ 40 milhões de indenização, mas ao fim aceitou a oferta apresentada pelo Incra: R$ 28,5 milhões pela área de cerca de mil hectares.
Melhor alternativa
“A conciliação permitiu a adoção da melhor alternativa disponível: as famílias vão permanecer no local onde estão há mais de 20 anos, tendo seus direitos assegurados. Já a empresa adquirente do imóvel será indenizada”, resume Maria Rita Reis, procuradora-chefe do Incra. “Essa alternativa, do ponto de vista econômico, também foi a mais razoável, uma vez que os custos com o deslocamento das famílias seriam muito altos, além da perda de todos os investimentos públicos já realizados no local", completa.
O acordo põe fim a pelo menos três processos que ainda corriam na Justiça e evita a propositura de novas ações, o que ocorreria caso um dos lados não aceitasse eventual decisão proferida em juízo. Pelo que foi acertado, a Agropecuária Mata Sul Ltda se compromete a concluir a regularização da matrícula de todos os imóveis envolvidos e a apresentar certidão negativa de ônus dos bens ali presentes.
Além de AGU e TRF5, também participaram da conciliação Ministério Público Federal e Defensoria Pública da União. No âmbito da AGU, as negociações foram conduzidas por procuradores federais que atuam no Incra e na Procuradoria-Regional Federal da 5ª Região.
Por: Advocacia-Geral da União (AGU)
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