No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, MEsp conversa com atletas sobre direitos e inclusão
Para celebrar o 3 de dezembro, o Ministério do Esporte, junto à Secretaria Nacional de Paradesporto, conheceu a história de atletas da paracanoagem, parabadminton e paraescalada
Não há limites para quem tem determinação, e nada melhor do que o esporte para provar isso. No dia 3 de dezembro se comemora o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, data institucionalizada pela Organização das Nações Unidas em outubro de 1992. O dia é para reflexão e conscientização de direitos para as pessoas com deficiência. O Ministério do Esporte, junto à Secretaria Nacional de Paradesporto, escutou a história de três atletas da paracanoagem, da paraescalada e do parabadminton.
“A gente tem que ser mostrado como uma pessoa normal, a gente tem que ter todos os direitos de uma pessoa maior tem que ter, que uma pessoa que anda tem que ter, porque a gente sofre muito. Tem lugares que não aceitam a gente, que não aceitam um cadeirante porque ele não consegue entrar lá. A gente tem que normalizar isso para que todos os lugares sejam acessíveis a todas as pessoas, isso que tem que ser normal”, diz Maria Eduarda de Castro Souza, de 12 anos. Ela tem nanismo e pratica o parabadminton desde os 11.
“O esporte mentalmente me explicou que não existem só vitórias na sua vida, que uma hora você vai ter que perder, para você depois ganhar. E fisicamente ele me deixou mais forte, mais ágil. Ele me ensinou a ter dignidade, e quando eu entro numa quadra eu me sinto uma pessoa normal, eu não me sinto uma pessoa com nanismo”, diz Duda. Ela treina com o pai, Rennê, e descobriu o esporte depois que uma tia postou uma foto com ela. O treinador a viu e a chamou para fazer parte do time. No último brasileiro, ela conquistou uma medalha de ouro na simples e duas de bronze, na dupla mista e na dupla feminina.
“Quando eu comecei a praticar o esporte, eu vi que era perfeito para mim, e eu me achei lá e me aceitei do jeito que eu era, porque antes disso eu não me aceitava. Porque para mim, no mundo, só existia eu e o meu pai. Na minha cabeça eu tinha um problema, porque eu via todo mundo grande. Quando eu vi que eu podia conversar com elas sobre o meu jeito, sobre nanismo, elas conversavam não como se eu fosse diferente, e isso fez eu me aceitar. Fora do esporte eu já sofri muito, já sofri bullying na minha escola. Quando eu vou ao shopping, tem pessoas que olham para mim, riem quando eu saio de casa, vou passear, tem pessoas que apontam, tiram foto, isso é quase normal, eu sofro muito”, diz.
“É necessário conscientizar a sociedade para a equidade no acesso a oportunidades para todos os cidadãos. O capacitismo entra nessa pauta. O conceito gira em torno da discriminação que a pessoa com deficiência vive na sociedade por ter sua existência relacionada à incapacidade. Temos que pensar na inclusão das pessoas com deficiência e celebrar suas conquistas, sem o enfoque na deficiência, que é uma de tantas outras características humanas, é dar o enfoque na pessoa e toda sua potencialidade”, completa.
O Ministério do Esporte possui a Secretaria Nacional de Paradesporto, que trabalha com a promoção e a articulação de ações paradesportivas visando ao acesso equânime e à inclusão de toda e qualquer pessoa com deficiência ao esporte, da iniciação ao alto rendimento, em todas as faixas etárias.
Paracanoagem
Atual campeão mundial de maratona aquática e vice-campeão brasileiro, Luciano Pereira Lima tem 42 anos e é atleta de paracanoagem há dez. O esporte entrou em sua vida após ficar paraplégico, ao levar um tiro de arma de fogo na saída de uma casa noturna, em Brasília. Na reabilitação, foram apresentados a ele vários esportes, como tênis em cadeira de rodas e basquete, mas, apesar de não saber nadar, foi na paracanoagem que ele descobriu sua nova paixão. “A canoagem foi o esporte que mais me incentivou a seguir a vida como atleta hoje. Foi uma reviravolta na minha vida completamente. É uma coisa assim que ninguém me explica isso, é uma força que vem da gente, que a gente supera limite, barreira e tudo, e entra dentro dessa água aí, e mostra o serviço que a gente faz”, comenta ele.
Para chegar ao treino, Luciano acorda de segunda à sábado às 4h30 da manhã e precisa pegar três ônibus. Ele fala das dificuldades e como as supera. “Aqui está precária a acessibilidade que a gente encara, ônibus sucateado. Existe tanta barbaridade que a gente vê na rua, de tanta ignorância que ainda existe, que a gente tem que driblar. Existe muita gente que não tem, não vou dizer nem compaixão, é se saber colocar no lugar do outro. Mas quando eu chego ao treino, esqueço de todo o percalço que acontece para fazer um baita de um tempo e seguir todo dia.”
Luciano recebe o Bolsa Atleta há três anos. Hoje, ele está na categoria pódio. Ele encara o esporte como trabalho e fala dos benefícios do programa. “Ele supre as minhas necessidades no esporte, pois nosso esporte é caro. Aqui é meu esporte e encaro hoje como sendo o meu trabalho. Então, é meu pagamento, e tanto que eu tenho que gastar no meu equipamento e no meu dia a dia também. Ela é um incentivo do esporte e é um incentivo que eu gasto no esporte e comigo.”
Paraescalada
Já Luciano Frazão da Silva pratica a paraescalada há nove anos. Em 1996, ele perdeu a perna direita em um acidente com uma lancha. Depois disso, começou a praticar mais atividades físicas. “A partir disso eu já fiz musculação, natação, um monte de outras atividades, mas somente em 2014 que eu conheci a escalada. Me trouxe qualidade de vida, me trouxe uma melhor forma de lidar com o meu cotidiano, de forma geral, eu acho que isso me motivou a sempre estar me superando a cada dia a mais. Eu acho que independentemente do esporte, atividade física de forma geral, é uma forma de a pessoa mostrar que o próprio limite é ela mesma quem faz. Então assim, se você pratica o esporte, você está desenvolvendo saúde, você está gerando qualidade de vida, você tá se superando.”
Coincidentemente, Luciano teve seu acidente em 3 de dezembro. Ele diz que a data é válida para mostrar as capacidades de cada um. Sobre sofrer capacitismo, ele fala como lida com a situação. “É importante mostrar que não só as pessoas com qualquer limitação podem fazer atividade, mas esporte em geral. Falando da escalada, é uma forma de você poder viver e de você superar seus próprios obstáculos, porque, na verdade, mesmo estando em uma competição vai ser sempre eu contra eu mesmo, minhas dificuldades. Geralmente as pessoas têm muita curiosidade em me ver escalar, ‘ah que legal que você escala, mas como que você escala usando só uma perna?’? Não incomoda a questão de pessoa me perguntar e tudo, mas essa questão do capacitismo é verdade, e acontece, sim.”
Respeito e inclusão são palavras-chave para assegurar os direitos da pessoa com deficiência. É preocupação do MEsp continuar implementando políticas públicas que celebrem as conquistas e gerem oportunidades a todas as pessoas.
Confira o vídeo:
Por: Ministério do Esporte (MEsp)
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