Visita de delegação britânica fortalece inovação agrícola em projeto com Embrapa
Em um marco significativo de colaboração internacional, a Embrapa Meio Ambiente recebeu uma delegação britânica em 29 de novembro, composta por representantes do Centro de Inovação Agropecuária Inglês Agri-EPI Centre, da Embaixada Britânica na América Latina, da empresa de consultoria AgriTierra e de três agtechs inglesas: Actisense, Wyld e AbacusBio, com expertises em áreas de tecnologia de ponta para a agricultura como, conectividade rural por satélite, dispositivos eletrônicos para agricultura digital e de precisão, e serviços especializados de consultoria para programas de melhoramento vegetal e animal.
A visita é desdobramento de um importante projeto de cooperação internacional recentemente aprovado pela instituição britânica, com a participação da Embrapa no Brasil e do CREA na Argentina, com um orçamento de 100 mil libras esterlinas, integralmente financiado e gerido pelo governo britânico, por meio do Foreign, Commonwealth & Development Office (FCDO)
A visita ao Brasil, que começou em 27 de novembro e se estendeu até 8 de dezembro, teve como principal objetivo promover a troca de experiências entre os ecossistemas de inovação agrícola do Brasil e do Reino Unido, com um enfoque especial em fazendas inteligentes.
Durante a visita à Embrapa Meio Ambiente, os britânicos tiveram a oportunidade de conhecer a Coleção de Culturas de Microrganismos de Importância Agrícola e Ambiental (CCMA) e o sítio agroecológico da Unidade, para uma imersão em algumas das linhas de pesquisa da Unidade.
O grupo também visitou o AgNest, onde se reuniram com os membros do Conselho Gestor do hub de inovação para conhecer o modelo de negócios e de governança que está sendo desenvolvido, avaliando sinergias e oportunidades. No Brasil, devido ao foco do projeto ser em fazendas inteligentes e pelo AgNest ser um hub de inovação farm lab , o projeto internacional tem justamente o hub de inovação como referência para cooperação. O AgNest é um projeto concebido pelas Unidades Embrapa Meio Ambiente e Agricultura Digital, e está fundamentado em uma parceria público-privada entre a Embrapa e as empresas fundadoras: Bayer, Banco do Brasil, Nutrien e Jacto.
A visita à Embrapa Meio Ambiente contou ainda com apresentação sobre a importância dos polinizadores para a agricultura, seguida de uma experiência sensorial com degustação de méis de abelhas nativas no meliponário da Unidade.
Janaína Tanure, Chefe de Transferência de Tecnologia e Inovação da Embrapa Meio Ambiente, explicou que após o Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, formalizada em 2020, é natural que o governo britânico esteja em busca de novas parcerias e colaborações internacionais, sendo a América Latina um foco prioritário de interesse para cooperação na área de agricultura e meio ambiente. Ela vê na iniciativa um “ponta-pé” inicial para cooperação técnica entre a Embrapa e o Agri-EPI Centre, além da oportunidade ímpar de conectar o AgNest ao ecossistema de inovação internacional, e se relacionar com o programa de desenvolvimento de fazendas inteligentes liderado pelo governo inglês. “Essa colaboração tem o propósito de ser uma via de mão dupla, promovendo a troca de experiências, conhecimento e boas práticas entre os ecossistemas de inovação agropecuária dos países envolvidos, trazendo benefícios múltiplos para o enfrentamento dos desafios que o setor agrícola já enfrenta e enfrentará no futuro.
Mark Jarman, CEO da AgriTIERRA, consultoria sediada na Colômbia que também participa do projeto, enfatiza a sinergia valiosa entre o conhecimento especializado da Embrapa em agricultura tropical e a ciência e tecnologia aplicada, desenvolvida pelos centros de inovação do Reino Unido. "As expertises de cada país que estamos identificando a partir desse projeto devem evidenciar as oportunidades de cooperação e promover contribuições significativas para cada país envolvido.”
Ross Robertson, Diretor Executivo de Fazendas Mixas do Agri-EPI Centre, destaca o potencial da colaboração para superar desafios tecnológicos e gerar valor para ambos os países. “A ideia é utilizar as tecnologias do Reino Unido para suprir deficiências no Brasil, assim como contar com a ciência brasileira para avançar em áreas em que não estamos tão adiantados”, ressalta.
Letícia de Castro Lara, consultora da AbacusBio, uma das agritechs inglesas que compuseram a delegação, destaca as oportunidades de intercâmbio tecnológico com o Brasil. Segundo ela, o país possui um vasto potencial genético a ser explorado e muitas oportunidades podem surgir dessa construção. “A maioria da produção de alimentos no Brasil provém de agricultores familiares. Acredito que as tecnologias e soluções agtechs que planejamos organizar e desenvolver precisam ser implementadas de maneira acessível, alcançando esses agricultores familiares”, destaca.
O tamanho do ecossistema de inovação na América Latina
O interesse das instituições britânicas em colaborar com a América Latina, e especialmente com o Brasil, não é por acaso. A região possui um ecossistema de inovação agropecuária vibrante. O Brasil se destaca com impressionantes 76,5% do total de startups do setor. Desde 2017, as empresas agtech brasileiras têm mostrado um desempenho notável, participando de 261 rodadas de investimento e movimentando um total de 491 milhões de dólares. A Argentina, embora atrás do Brasil, também tem uma presença significativa, abrigando 8,3% das startups agtech da América Latina. Os demais países latino-americanos, embora com uma participação menor, também contribuem para a vibrante inovação agropecuária da região. Isso torna a parceria com o Reino Unido ainda mais estratégica.
Federico Perez Wodtke, Diretor Comercial do setor agTech na embaixada britânica para a América Latina, vê a colaboração entre o AgriAPI e a Embrapa, via AgNest, como uma oportunidade para acelerar inovações no setor agrícola. Segundo ele, o foco é entender as reais necessidades dos produtores, orientando os desenvolvedores de tecnologia a criar e validar soluções no campo. “Esse é o caminho que empresas britânicas e startups vislumbram na América Latina, com Argentina e Brasil como os primeiros países priorizados pelo Reino Unido”, diz.
Wodtke detalha o projeto em duas fases fundamentais. A segunda fase, foco da referida delegação, envolveu trazer empresas britânicas ao Brasil para entender a escala única da nossa agricultura em comparação com a do Reino Unido. A primeira fase, que ocorreu há aproximadamente 1 mês, envolveu a visita da Embrapa e de startups brasileiras ao Reino Unido, onde existe um intenso desenvolvimento tecnológico e iniciativas acadêmicas voltadas para o setor agrícola.
“O AgriAPI conecta universidades, ciência e fazendas, com o objetivo de tornar as soluções tecnológicas mais acessíveis aos produtores. Estamos trazendo essa bagagem ao Brasil e à América Latina, promovendo uma ponte entre o conhecimento acadêmico e prático no campo”, explica Federico.
Persistência
Vinícius Guimarães, coordenador do Labex Europa, destaca a lição aprendida com a formalização dessa cooperação, ressaltando a importância da persistência na articulação de parcerias com organismos internacionais. Ele enfatiza que a amplitude desses programas exige perseverança das equipes, mesmo diante de obstáculos.
Guimarães cita o histórico de articulação do Labex com o Foreign, Commonwealth & Development Office (FCDO) do Reino Unido como um exemplo dessa assertiva. Essa parceria, iniciada em 2020 e focada em agricultura digital e sustentável, envolveu várias unidades da Embrapa, incluindo Embrapa Meio Ambiente, Agricultura Digital, Territorial, Agrobiologia e Instrumentação.
No início das tratativas, o esforço conjunto avançou com um projeto liderado pela Agricultura Digital, focado em base de dados. Agora, mais de três anos após as primeiras conversas com o FCDO, um novo projeto para troca de experiências, voltado para iniciativas de Inovação como o Agnest, foi aprovado.
Guimarães destaca que isso permitirá uma rica troca de experiências entre a Embrapa e instituições inglesas. A iniciativa, liderada pela Embrapa Meio Ambiente, servirá como uma janela para entender o funcionamento das iniciativas de inovação e farm labs no Reino Unido, promovendo aprendizado mútuo.
“Esse é um exemplo claro de que parcerias internacionais exigem tempo e dedicação”, afirma o pesquisador. A cooperação entre as instituições inglesas e a Embrapa, já consolidada ao longo dos anos, será ampliada com esse novo projeto, expandindo suas agendas de trabalho conjunto. A mensagem que se destaca é clara: “em projetos internacionais, a persistência não é apenas uma virtude”.
Explorando o Brasil: os passos da delegação inglesa
No Brasil, uma série de interações e visitas que ocorreram recentemente. As instituições envolvidas incluem o Consulado Britânico no Brasil, Sebrae São Paulo e várias Unidades da Embrapa, como Instrumentação, Pecuária Sudeste e Soja foram visitadas. Além disso, a Sociedade Rural de Londrina (PR) e vários hubs de inovação e parques tecnológicos também foram visitados, como o Cubo Agro, Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos, Agtech Garage, Pulse, Supera Parque, Dabi Business Park e CocriAgro, que fazem parte do Corredor de Inovação Agropecuária de São Paulo e do Agro Valley em Londrina (PR). Houve também uma imersão na perspectiva dos produtores rurais, com conversas com pequenos e grandes produtores em São Paulo e na Cooperativa Integrada em Londrina, além de visita a Usina da Pedra, importante empreendimento no setor sucroalcoleiro.
Por fim, foram realizadas conversas com atores do setor de financiamento no setor agro e no empreendedorismo agri-tech, incluindo os bancos Itau BBA e Banco do Brasil, e ventures capitals para agri-techs como Yield Lab Latam, Rural Ventures e Arara Seed.
Embrapa e empresas brasileiras no RU
Uma delegação de 3 empresas brasileiras parceiras da Embrapa, lideradas pela Embrapa Meio Ambiente, visitou o Reino Unido por um período de 15 dias antes da visita dos ingleses ao Brasil. O objetivo dessa visita foi o mesmo que motivou a vinda dos britânicos ao Brasil: aprender mais sobre o ecossistema de inovação inglês e buscar oportunidades de ação conjunta.
Fernando Rati, da empresa Perfect Flight, focada no monitoramento de precisão e gestão sustentável de aplicações agrícolas áreas e terrestres, destacou a intensa programação na Europa, onde foi apresentado um panorama da agricultura do Reino Unido, os padrões tecnológicos e a visão de longo prazo das universidades, centros de inovação e do setor produtivo.
Rati explicou que a legislação brasileira para pulverização com drone, uma das áreas em que a Perfect Flight atua, está muito mais avançada que a do Reino Unido. Ele vê grandes possibilidades de cooperação de sua empresa no fornecimento de subsídios para aperfeiçoamento da legislação britânica, com base na experiência brasileira. Fernando mencionou que o Brasil avançou muito na redução do uso de princípios ativos aplicados no campo, com progressos relacionados à adoção de combinação de diferentes modos de aplicação que incluem maquinário e uso de drones.
Ele observou que o Reino Unido possui uma ampla gama de soluções de inovação agrícola, com equipes e startups comprometidas com o desenvolvimento. No entanto, ele percebeu que a adoção dessas tecnologias é baixa, devido à necessidade de um maior desenvolvimento da legislação. “Acredito que podemos cooperar nesse sentido com casos que deram muito certo no Brasil”.
Carlos Marcelo Soares, diretor Executivo de Inovação e Tecnologia na NOOA Ciência e Tecnologia Agrícola, expressou sua admiração pela infraestrutura científica que encontrou no Reino Unido, destacando a presença de pesquisadores de alto nível nas instituições que visitou. Ele reconheceu o impacto positivo do substancial investimento financeiro feito pelo Reino Unido e os benefícios resultantes desse investimento.
Ao fazer uma comparação com a realidade brasileira, Soares enfatizou a necessidade de evolução e compartilhou valiosos insights que obteve durante suas visitas. Ele fez uma revelação surpreendente no contexto do trabalho com biológicos e controle biológico: o Brasil está a pelo menos duas décadas à frente do Reino Unido na adoção de ferramentas biológicas nos agroecossistemas.
Soares atribuiu essa liderança à agricultura intensiva praticada no Brasil, que impulsionou o desenvolvimento de biológicos com o objetivo de aumentar a sustentabilidade na produção.
Em resumo, Soares ressaltou as tecnologias avançadas disponíveis no Reino Unido, que têm o potencial de acelerar a elucidação e comprovação das ferramentas biológicas. No entanto, ele observou a ausência de uma cultura de adoção dessas tecnologias pelos britânicos, indicando oportunidades.
Simone Lantana, representante da startup brasileira GeoApis, descreveu sua experiência como parte da delegação brasileira neste intercâmbio como “muito válida”. Segundo ela, a GeoApis teve a chance de apresentar sua inovação e tecnologia, que se concentra na prevenção da mortalidade de abelhas no entorno agrícola, enquanto explorava o cenário de inovação agro no Reino Unido, entendendo suas dinâmicas e identificando potenciais demandas para futuros projetos comerciais.
Simone expressou surpresa com a relevância e a abordagem dedicada ao tema da biodiversidade no exterior, bem como a percepção do impacto das mudanças climáticas na região e os esforços para se adaptar a esses desafios.
Entre os dias 6 e 17 de novembro de 2023, a delegação brasileira, liderada por Janaína Tanure, Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Meio Ambiente, e Vinícius Guimarães, Coordenador do Labex Europa, realizou uma série de visitas estratégicas no Reino Unido.
Durante esse período, diversas instituições e produtores rurais foram visitados, além da realização de reuniões estratégicas para prospecção de futuras frentes de cooperação em inovação agropecuária e transferência de tecnologia, e participação de eventos de inovação agrícola.
A delegação interagiu com várias instituições britânicas e produtores rurais, incluindo o Agri-EPI Centre, Rothamsted Research, Crop Health & Protection – CHAP, Department for Business and Trade, Embassy of Brazil in London, Innovate UK, Cranfield University, University of Essex, Centre for Innovation Excellence in Livestock (CIEL), Agrimetrics, NIAB e AgriTech-E.
A delegação também participou de eventos importantes, como o AgriSustainabilityTalks, um evento anual organizado pela Embaixada Brasileira no Reino Unido, e a REAP Conference, promovida pela instituição britânica Agri-TechE. Estas atividades reforçam o compromisso do Brasil em buscar soluções inovadoras para a agropecuária, através da cooperação internacional.
Por: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
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