Direitos humanos

Cerimônia lembra os 20 anos da chacina de Unaí

Fundacentro participou de atos em memória de auditores-fiscais do trabalho e motorista assassinados em 2004

31/01/2024 19:45
Cerimônia lembra os 20 anos da chacina de Unaí
Foto: Divulgação

 

As quatro cruzes na beira da estrada de terra representam cada um dos homens assassinados durante o trabalho de fiscalização rural em fazendas de feijão em Unaí/MG há 20 anos. A chacina, ocorrida em 28 de janeiro de 2004, não pode ser esquecida. Uma cerimônia foi realizada neste domingo (28) no local do crime em memória dos auditores-fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e do motorista Ailton Pereira de Oliveira.

“Esse território para nós é um território sagrado, porque as pessoas aqui tombaram e serão sempre guardadas em nossa memória”, apontou o superintendente regional do Trabalho de Minas Gerais, Carlos Alberto Calazans.

Na época do crime, Calazans também ocupava o cargo de chefia na SRTE/MG (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas Gerais). “Companheiro Airton, companheiro Nelson, companheiro João Batista, companheiro Erastóstenes estarão sempre com todos nós. Quis Deus que eu fosse o chefe de vocês e eu não consegui evitar isso aqui”, disse com a voz embargada, relembrando as noites em que se desculpa pelo ocorrido, ainda que não tenha responsabilidade sobre os assassinatos.

“Eu queria dar nome para as quatro cruzes. Para mim, do ponto de vista humano, a primeira é a ganância, a segunda a covardia, a terceira é a intolerância, e a quarta é a impunidade”, afirmou a gerente de projeto da Fundacentro, Maria da Ajuda dos Santos, que esteve presente no ato, representando a instituição.

“Não tombaram quatro aqui. Não se resolveu o problema. Todo dia se tomba mais. Essas cruzes simbolizam esses acontecimentos e chamam todos nós para esse lugar. Que lugar nós vivemos e que defesa fazemos da vida do outro?”, questionou Maria.

A gerente destacou o compromisso da Fundacentro em conjunto com outros órgãos e com o atual governo para que todo trabalhador esteja seguro ao exercer sua função, especialmente em casos de fiscalização dos locais onde se alojam grupos de trabalhadores em condições precárias.

Estavam presentes uma das viúvas, Elba Soares, esposa de Nelson, representantes sindicais, de federações e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), um pároco de uma comunidade próxima ao local da chacina e moradores da região.

Trabalho escravo e precarização

Desde 2009, 28 de janeiro é considerado Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, apesar de os agentes públicos não estarem fiscalizando esse tipo de exploração no momento da execução.

Em 26 de janeiro, Maria dos Santos participou da solenidade de assinatura do Pacto de Minas pela erradicação do trabalho análogo à escravidão e pelo trabalho decente no estado.

“Nesse evento, representamos a instituição como parceria da SRTE, muito no intuito de colocar para os sindicatos, órgãos de representação e movimentos sociais, que a Fundacentro retomou o lugar nos fóruns de representação e trabalhos conjuntos com a SRTE; MPT [Ministério Público do Trabalho]; Universidade; Conselho Estadual de Saúde; em diversas frentes”, contou a gerente de projetos.

Uma das ações nesse sentido é o convênio com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em que se realiza o projeto Caminhos do Trabalho em Belo Horizonte, Uberlândia e Juiz de Fora. Nessa ação, são oferecidos atendimento médico com foco na avaliação do nexo entre o agravo e o trabalho; orientação jurídica, especialmente nas esferas trabalhistas e previdenciária; emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e outros documentos pertinentes a cada caso; entre outros serviços gratuitos.

Documentário

Outra atividade com a presença da Fundacentro foi a pré-estreia do documentário Servidão, do cineasta Renato Barbiere, sobre o trabalho análogo à escravidão na Amazônia brasileira, em 25 de janeiro. Além da exibição do filme no Cine Belas Artes, em Belo Horizonte/MG, houve debate com as autoridades presentes.

“O documentário traz a realidade do mundo do trabalho no país, principalmente em regiões longínquas, onde o trabalhador é convencido a viajar para uma área distante do seu território de moradia com a promessa de um salário fixo por uma temporada. O problema é que esse trabalhador não tem sua carteira assinada, o capataz confisca sua documentação, e o trabalhador é avisado que deve solicitar desde os equipamentos de trabalho até o necessário para sua alimentação no armazém do local”, conta Maria da Ajuda.

Esses gastos são somados e usados para impedir o trabalhador a deixar o trabalho, já que se coloca que ele deve mais do que tem a receber. Há casos em que a violência é usada para impedir a saída. “O filme mostra que a partir da força tarefa dos auditores-fiscais, mais de cinquenta e dois mil trabalhadores foram liberados nesses locais de trabalho análogo à escravidão”, completa.

Por: Fundacentro

 

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