Da horta ao prato: assentamento no Paraná garante melhoria de vida à comunidade
A produção, livre de agrotóxicos, é comercializada por meio dos programas governamentais e chega à merenda escolar das escolas da região
Construção coletiva de resistência, com base na agroecologia, em favor das pessoas e respeitando a terra que entrega o que ali é semeado. Assim começa a história do assentamento Emiliano Zapata, localizado no município de Ponta Grossa, no Paraná, quando, em 26 de agosto de 2003, um grupo de trabalhadores sem-terra pegou a estrada com lonas pretas embaixo do braço e se instalou nos 630 hectares da Fazenda Modelo.
No último dia 16 de março, o que era acampamento se transformou em terra com título para as 51 famílias que resistiram no local durante 21 anos. A produção da comunidade, livre de agrotóxicos, é comercializada por meio dos programas governamentais. Nas escolas municipais da região, as crianças se alimentam com os produtos saudáveis que saem da horta direto para o prato dos meninos e meninas. Muitas vezes, os alunos são os filhos dos pequenos agricultores da região.
A história do assentamento confunde-se com a trajetória de vida do casal Ana Paula Lourenço, 39 anos, e Josué de Araújo, 43 anos. “Vim da cidade pra roça em busca de uma vida melhor, mais digna. Poder viver com mais autonomia, produção. A gente quer ter o espaço de vida da gente, sair da pobreza e vir para uma vida melhor”, conta Ana Paula, que trabalhava em fábricas da região de Ponta Grossa sem carteira assinada, recebendo apenas o valor do dia trabalhado. A pequena produtora rural, agora assentada, mãe de um menino e uma menina, relata que hoje a família consegue ter reservas financeiras, com uma renda de aproximadamente R$ 3 mil mensais.
“Hoje eu sou milionária. Consumo alimento saudável que produzo aqui na minha terra. Vendo esse alimento por meio da cooperativa. Aqui a gente vive no céu, consegue juntar um dinheirinho”, comemora.
Mas nem sempre foi assim. Por anos, tudo o que a família colhia da terra que cuidava e semeava era destinado à compra de mudas para conseguir manter a produção. “Todo dinheirinho que a gente trabalhou, muitas vezes por dia, a gente investia em mudas para a produção, para lá na frente produzir mais e crescer aquela renda. Foi através desse tipo de trabalho que conseguimos nos estruturar aqui, produzindo e investindo, tudo por meio dos nossos próprios recursos, trabalho e esforço de vinte anos”, compartilha Ana Paula.
Com produção inclusa no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) há mais de 15 anos, o alimento produzido pelas 51 famílias ali acampadas passou a ser comercializado localmente a partir da criação de uma associação, que depois virou cooperativa, em 2012. Da horta direto para a alimentação escolar.
Sobre a importância da organização comunitária, Josué aponta que a produção ganha valor agregado. E que os assentados ali no Emiliano Zapata planejam dar um passo adiante com a instalação de equipamentos para beneficiar os alimentos produzidos. “Na parte do orgânico, temos 30% a mais. No milho, é isso. Quando se vende para cooperativas de fora, elas já vêm ganhando e, com isso, (é possível) conseguir moer o próprio milho e fazer a própria produção, vai valorizar, vai chegar direto no consumidor, no supermercado”.
Roberta Aline/MDS
Autonomia e segurança
Hoje com produção variada de mais de 30 espécies de cultura, a comunidade que nunca abandonou a caminhada em busca da reforma agrária conta com o título da terra. Isso, para Ana Paula e Josué, significa mais autonomia e segurança. “Não ter medo de ser despejado, de um dia não poder mais continuar no nosso trabalho, nossa vida. Representa o futuro, a nossa independência, uma vida mais digna”, afirmam.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, destacou a importância do trabalho realizado no assentamento para a promoção da segurança alimentar e nutricional.
“Quando a gente diz que a agricultura familiar é a que mais leva comida para a mesa de cada brasileiro, do mais pobre ao mais rico, significa que cada produto que chega tem a mão, em boa parte, do trabalhador e da trabalhadora da agricultura familiar, assentados, não-assentados, povos da floresta, pescadores”, salientou.
Para a agricultora, uma produção livre de agrotóxico “dá sensação de vida”. “É vida mais saudável, mais tempo de vida para a população, para a nossa sobrevivência. A satisfação de estar cumprindo nosso papel na sociedade. Nós comemos a comida que produzimos e queremos comida saudável para todos”, explicou.
Durante visita ao assentamento, o titular do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, lembrou ainda que uma das propostas do Governo Federal é investir em inovação. “É preciso, cada vez mais, trabalhar com tecnologia, sair da enxada para o trator, ter as condições do controle da água, de toda a produção”, enfatizou.
A notícia foi bem-recebida pelo casal. “A gente vê como uma valorização e como uma forma de ter mais tempo de vida”, avalia Ana. Para Josué, o uso de tecnologia também é positivo. “Ajuda bastante na força física. Como é tudo orgânico, é mais mão de obra. Tendo um tratorzinho, uma máquina, ajuda a evoluir”, opinou.
Melhorias
Para além da regularização, várias áreas do Governo Federal trabalham em conjunto para trazer melhorias ao assentamento Emiliano Zapata. “Sob o comando do presidente Lula, Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), entre outras áreas, trazem um conjunto de investimentos que agora já sairão do papel”, anunciou o ministro Dias. “É habitação, complemento na parte de água, estradas dentro do assentamento, ou seja, infraestrutura, mas também apoio. Há uma dívida a pagar com essas 51 famílias que aqui resistiram e agora precisam ganhar o tempo perdido com o apoio de vários programas”, comentou.
Até fevereiro, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome destinou cerca de R$ 28,8 milhões em iniciativas de promoção de segurança alimentar e nutricional no Paraná, como cozinhas comunitárias, restaurantes populares, banco de alimentos e centrais da agricultura familiar
Com o reconhecimento da terra assentada no último 16 de março, trabalhadores do campo comemoram a conquista adquirida. “Que esse dia de hoje seja um dia de ampliar a nossa certeza de que estamos no caminho certo, que a nossa luta é por justiça. Não estamos mendigando nada. Estamos lutando pelo que é política pública, aliançando cada vez mais as iniciativas do Estado com as iniciativas populares para reconstruir o Brasil”, declara Roberto Baggio, dirigente nacional do MST, referindo-se à parceria com o MDS.
Até fevereiro de 2024, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome destinou cerca de R$ 28,8 milhões em equipamentos de Segurança Alimentar e Nutricional no Paraná. Nesse total, estão incluídas iniciativas como cozinhas comunitárias, restaurantes populares, banco de alimentos, centrais da agricultura familiar e, mais recentemente, cozinhas solidárias implementadas por iniciativas da sociedade civil.
Por Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte