Realidade da reforma agrária gera conhecimento em trabalhos acadêmicos do Pronera
Produção de conhecimento gerada pelos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) leva as realidades e o temas enfrentados cotidianamente nos assentamentos para o espaço universitário
Os efeitos do Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera), executado pelo Incra, vão muito além do acesso à escolarização e formação de beneficiários. A produção de conhecimento gerada pelos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) – exigência nas graduações de nível superior – leva as realidades e o temas enfrentados cotidianamente nos assentamentos para o espaço universitário.
Em março, três estudantes de Agronomia realizaram a defesa de seus TCCs no município de Pontão, no Rio Grande do Sul. Eles compõem a terceira turma do curso, viabilizado por meio de parceria entre o Incra, o Instituto Educar e a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
Em todos os projetos, os temas estão enraizados nas vivências dos educandos. “Os trabalhos integram os assentamentos à comunidade acadêmica”, analisa o assegurador do Pronera no estado, Walter Aragão. “Assim, o programa é um dos instrumentos mais efetivos para ampliar e oportunizar o acesso à cidadania”, complementa.
Agroflorestas
A experiência da família do jovem José Henrique Rojas no lote em Planaltina do Paraná (PR) foi decisiva para o seu tema de pesquisa. Ele defendeu o trabalho “Contribuição dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) nas Unidades de Produção Camponesa”. “Parti da realidade vivida com meus pais. Desde 2010, junto com outras famílias, desenvolvemos sistemas agroflorestais”, conta Rojas, acrescentando que o grupo se tornou referência na produção diversificada de alimentos.
Os sistemas compreendem culturas de importância agronômica com vegetação florestal. Em seu TCC, Rojas conclui que os SAFs têm muito a contribuir em aspectos econômicos e ambientais. A pesquisa motiva a continuidade nos estudos. “Quero seguir no tema, fazer especialização, mestrado”, conta o estudante, atualmente integrante do acampamento Fidel Castro, em Centenário do Sul (PR).
Mineração
Outra banca realizada foi a do trabalho “A Mineração de Carvão e sua Interferência na Biologia do Solo: Mesofauna e Carbono Orgânico Total do Solo”, do agricultor do assentamento Conquista da Fronteira, em Hulha Negra (RS), Emerson Valsoler.
O município não tem este nome à toa: está na região que abriga grandes jazidas de carvão mineral no Rio Grande do Sul. A família de Valsoler foi assentada há 34 anos; o jovem, de 26, nasceu no local, em área já explorada pelo carvão. “Queria adquirir mais conhecimentos sobre mineração e impactos no meio ambiente, entender como é a legislação para recuperação de áreas degradadas”, conta.
Ele avaliou dois parâmetros do solo, a mesofauna (organismos que desempenham um importante papel na decomposição) e o carbono orgânico, com amostras de uma lavoura, onde houve mineração há 20 anos, e de outra, de mata nativa. As coletas foram realizadas no seu assentamento e no projeto vizinho. Em seus achados de pesquisa, os valores para o carbono orgânico em áreas onde houve mineração revelaram-se bem mais baixos, mesmo após 20 anos da exploração.
Soja
A questão da mineração de carvão afeta mais áreas da reforma agrária no Rio Grande do Sul, para além da região de Hulha Negra. Da mesma forma, outro tema com ampla projeção em assentamentos foi abordado no TCC do agricultor Celso Ribeiro Barbosa Junior: a soja.
Em “Análise Econômica da Produção de Soja em Sistemas de Produção de Base Agroecológica e Transgênica”, Junior estuda mudanças para a produção convencional da cultura. “Precisamos muito disso. Quais alternativas podemos entregar? Não dá para romper o paradigma abruptamente. Com a produção agroecológica, reduzimos impactos para fazer uma transição nas áreas de reforma agrária”, afirma o jovem, morador do assentamento Sepé Tiarajú, em Santa Tereza do Oeste (PR).
O tema também faz parte da trajetória de Junior. Ele e o colega José Henrique Rojas concluíram o curso Técnico em Agroecologia na Escola Milton Santos (PR) – outra parceria viabilizada pelo Pronera. Para ele, o programa “é o que nos dá oportunidade de estudar. Não é apenas teoria, é colocar em prática. É muito importante para nós”.
Graduação
Os três trabalhos de conclusão foram orientados pelo professor Jacir Chies, que integra a coordenação do Instituto Educar. As bancas tiveram participação de professores da UFFs e de outras instituições, como a Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Os três estudantes ainda devem terminar mais uma etapa do curso e realizar o estágio – que exige nova defesa, desta vez do relatório – para obter o diploma. Outros 44 alunos desta que é a terceira turma do curso de Agronomia devem defender seus TCCs no próximo semestre. A formatura está prevista para março do próximo ano: o curso foi estendido em razão do período da pandemia de covid-19, quando as aulas tiveram de ser remotas.
Por: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)
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