Sonia Guajajara defende conhecimento indígena como solução para crise climática
Para público de 1.400 pessoas na Universidade de Oxford, em Londres ministra dos Povos Indígenas pede apoio para frear mudanças climáticas. Na Holanda, ministra recebe prêmio
Na Plenária de Abertura do Skoll World Forum, Sonia Guajajara, fez um pronunciamento de alerta ambiental para uma plateia de 1.400 pessoas na quarta-feira (10). Realizado na Universidade de Oxford, Inglaterra, o evento também recebeu a ministra para participar de uma mesa sobre a mobilização de apoios para o Brasil no âmbito do G20 e da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP30.
A ministra dos Povos Indígenas lembrou com veemência que o ano de 2023 foi o ano mais quente da história, desde que as temperaturas globais começaram a ser registradas por volta de 1880, conforme o portal sobre clima do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ela também mencionou o Acordo de Paris, firmado em 2015, e enfatizou que a humanidade não deve compactuar com a ultrapassagem de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Guajajara apresentou como solução para a crise ambiental das mudanças climáticas em curso um maior protagonismo, incentivo e respeito aos saberes indígenas. “Um mundo em emergência precisa reconhecer o papel dos povos e dos conhecimentos tradicionais para conter a crise climática. Nós, povos indígenas, somos apenas 5% da população mundial e protegemos 82% da biodiversidade no planeta”, afirmou a ministra.
Os dados são provenientes de uma pesquisa publicada pelo jornal científico Nature Sustainability, em 2018. O artigo “Uma visão espacial da importância global das terras indígenas para a conservação” explica que, por meio de informações geoespaciais coletadas, 370 milhões de povoados indígenas controlam ou têm direito de posse de mais de 38 milhões de km² em 87 países dos cinco continentes.
Os números representam mais de um quarto da superfície terrestre do mundo e reúne aproximadamente 40% de todas as áreas terrestres protegidas e paisagens ecologicamente intactas. Com consequência, mais de 80% da biodiversidade em todo o planeta acaba sob a proteção dos indígenas.
20 anos de fórum
O discurso da ministra foi feito em meio a outras lideranças globais e de inovadores ligados à pauta socioambiental. Entre os palestrantes que se pronunciaram na ocasião estavam a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, e a ex-presidente da Irlanda e enviada especial da Secretaria Geral de Mudança Climática, Mary Robinson, com quem a ministra teve uma reunião bilateral durante a iniciativa.
O ator George Clooney e a jurista Amal Clooney, especializada em direito internacional público, fizeram um discurso em nome da Fundação Clooney por Justiça, assim como diversos membros da Skoll Foundation, entre outras autoridades.
A fundação foi criada em 1999 por Jeff Skoll, primeiro presidente do eBay, plataforma de comércio online. Em 2024, o Skoll World Forum completou 20 anos de existência com o propósito de trazer inovadores sociais de todo o mundo para debruçar sobre os desafios mais relevantes da atualidade.
Prêmio e reconhecimento por dedicação aos povos indígenas
A ministra Sonia Guajajara recebu nesta quinta-feira (11/4) o Prêmio Liberdade de Carências (Freedom from Want), nos Países Baixos. Em discurso proferido à realeza holandesa e ao público, dedicou a menção honrosa ao movimento indígena brasileiro, que comemora marcos importantes, como a criação do próprio Ministério, mas “ainda recebe inúmeros ataques e sofre graves derrotas”.
“Enquanto vemos um genocídio ocorrendo na Palestina, também há pessoas no Brasil sofrendo ataques como este. Defender o povo Yanomami é uma prioridade do presidente Lula. Mas é uma guerra longa e forte”, disse Sonia Guajajara.
Ela reforçou o próprio compromisso de enfrentamento ao garimpo e desmatamento ilegal que destroem o meio ambiente, mas cobrou parcerias e colaborações do exterior para superar os desafios.
“A luta do Ministério e dos povos indígenas é uma luta que une a defesa dos direitos humanos com a luta do meio ambiente. É uma luta ancestral que busca reconhecer os territórios e saberes ancestrais, para que a biodiversidade possa ser preservada e um modelo justo e saudável para que o mundo possa ser promovido. Uma luta que procura colocar a justiça climática no centro do debate”, concluiu a ministra, ao entregar a mensagem da missão internacional que iniciou no dia 6 de abril.
Em sua agenda internacional, cuja primeira etapa passou pelas universidades de Harvard/MIT, nos EUA, e Oxford, na Inglaterra, Sonia Guajajara vem difundindo que as ações de mitigação e adaptação à mudança do clima devem reduzir desigualdades sociais estruturais e históricas no lugar de piorar a vulnerabilidade de populações específicas no caminho, como as tradicionais e as indígenas, além de realizar reuniões bilaterais com líderes globais para efetuar políticas de proteção ambiental e de direitos humanos.
Prêmio foi a entregue a Kennedy. Mandela e Lula
O prêmio recebido pela ministra faz parte de um evento chamado Prêmio Quatro Liberdades, que reúne um conjunto de menções. As liberdades celebradas no evento são a de Expressão e a Religiosa, assim como a libertação do Medo e das Necessidades Básicas ou Carências.
A cerimônia foi criada em 1982 pela Fundação Franklin Delano Roosevelt para entregar o Prêmio em anos pares, na cidade de Midelburgo, nos Países Baixos. A intenção do projeto é estimular os ideais de Eleanor e Franklin Delano Roosevelt, o 32º presidente dos EUA.
A organização do Prêmio já contemplou nomes como Nelson Mandela e John F. Kennedy. E agora Sonia Guajajara, por ser a primeira mulher indígena a concorrer como vice-presidenta nas últimas eleições nacionais e pelo esforço em convergir política ambiental e mudança climática com os direitos dos povos indígenas. Além da ministra Sonia Guajajara, o único brasileiro homenageado havia sido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu a premiação em 2012.
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