Cultura

Iphan inaugura sinalização de cemitério quilombola em Tocantins

Ação reconhece o Sítio Arqueológico Campo Santo do Bom Jardim, entre os municípios de Lagoa do Tocantins e Novo Acordo

03/04/2024 11:50
Iphan inaugura sinalização de cemitério quilombola em Tocantins
Foto: Divulgação

 

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) inaugurou a sinalização do Sítio Arqueológico Campo Santo do Bom Jardim (TO) . Os vestígios estão na Comunidade Quilombola de Rio Preto, entre Lagoa do Tocantins e Novo Acordo. A inauguração fez parte de uma série de ações da Secretaria de Povos Originários e Tradicionais ( Sepot ), no âmbito do programa Aquilomba Tocantins.

Para a superintendente do Iphan em Tocantins, Cejane Pacini, a identificação do sítio possibilita à comunidade quilombola o direito aos seus lugares de memória e o direito à fruição da cultura. “Esta ação também permite despertar outros olhares para a diversidade cultural do Tocantins e valorizar os afrodescendentes que contribuíram para a formação do território tocantinense”, continua a superintendente.

Vida, morte e relação com o território

O antigo cemitério do Campo Santo funcionou por cerca de cem anos. A sepultura mais antiga identificada data de 1916, sendo provável, ainda, haver enterramentos mais antigos. Estima-se que o último sepultamento ocorreu em 2013. São vários os tipos de túmulos observados no cemitério, como o simples ajuntamento de pedras canga formando montículos, cercados de pedras, lápide de pedra aparelhada, cruzes de madeira fincadas no solo, entre outros.

Essa diversidade de tipos de túmulos, que provavelmente é reflexo das relações sociais da comunidade, faz o Campo Santo do Bom Jardim excepcional no contexto dos cemitérios rurais do Tocantins. Afinal, o mais comum é encontrarmos ajuntamentos de pedra canga marcando o local onde o indivíduo foi sepultado.

“Ao identificar e celebrar este patrimônio arqueológico, o Iphan e a Sepot colocam em prática sua missão institucional de proteger o Patrimônio Cultural dos povos e comunidades tradicionais”, afirma o arqueólogo do Instituto em Tocantins, Rômulo Macedo.

De acordo com os quilombolas, os indivíduos eram enterrados no Campo Santo do Bom Jardim com a cabeça voltada para o oeste, ou seja, para o lado onde o s ol se põe, uma clara alusão à vida que se finda. Nesse cemitério eram enterrados apenas aqueles com mais de nove anos de idade. Os indivíduos abaixo dessa idade, os anjinhos, os inocentes, são enterrados em outro local, no Campo dos Anjos.

Rita Lopes, liderança da Comunidade Quilombola Rio Preto, considera a identificação do sítio um marco importante para a preservação da memória de seus ancestrais. “No início dessa luta, o meu sentimento era de apagamento, porque estávamos sofrendo ataques, risco de morte e nossas memórias também estavam correndo risco de sumir. É importante ver que pelo menos as nossas memórias estão resguardadas”, disse.

Aquilomba Tocantins

Lançado nesta semana, o Aquilomba Tocantins tem o objetivo de promover medidas intersetoriais para a garantia de direitos da população quilombola do e stado. Envolve diversos órgãos do Poder Executivo Estadual e é coordenado pela Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais. Seus princípios incluem acesso à saúde e educação específicos para os quilombolas, proteção dos direitos territoriais, transversalidade de gênero e raça, respeito à autodeterminação e modos de vida tradicionais, entre outros.

O programa compreende ações em cinco eixos temáticos: gestão territorial, infraestrutura, comunicação, segurança, saúde e educação. Os objetivos incluem demarcação e gestão de territórios, segurança alimentar, fortalecimento da educação quilombola, acesso à saúde, proteção do patrimônio cultural, entre outros.

Por: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

 

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