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Lula defende troca de dívida externa de países pobres por investimentos

No "Bom Dia, Presidente", ele comentou as propostas que quer encaminhar até o final da Presidência do Brasil no G-20. Lula também defendeu o fim da fome e mudanças na ONU

Isaías Dalle | Agência Gov
07/05/2024 12:35
Lula defende troca de dívida externa de países pobres por investimentos
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula atribui ao sistema financeiro internacional parte das crises humanitárias atuais

Em entrevista ao programa especial Bom dia, Presidente, concedida na manhã desta terça (7) na sede da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Lula defendeu uma ampla reforma nos organismos financeiros multilaterais, como o FMI. E que os países que têm grandes dívidas externas possam pagar apenas parte delas, usando o restante em investimentos em suas infraestruturas nacionais. 

A exemplo do que o Governo Federal propõe fazer no Brasil com os estados, trocando a dívida com a União por criação de vagas no ensino técnico – o programa Juros por Educação. Ou mesmo na situação de "guerra" diante da tragédia climática no Rio Grande do Sul, quando o governo acena com tratamento diferenciado da dívida com a União. 

Na entrevista, o presidente também voltou a defender mudanças na estrutura da ONU, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança ("a África não está lá") e o fim do direito a veto de quaisquer países a uma resolução tomada pela maioria. 

Lula respondia à pergunta sobre quais seriam as principais discussões que pretende travar durante a Presidência rotativa do Brasil no G20, grupo das nações mais ricas do mundo. O Brasil exerce essa função até novembro deste ano. 

“Uma coisa que queremos defender (no G20) é a mudança no sistema financeiro, criado após a Segunda Guerra. Aquelas instituições não funcionam mais. Elas sufocam os países”, afirmou o presidente.

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“As taxas de juros que os países devedores pagam são muito altas, não sobra dinheiro nem pra pagar, nem pra investir. A minha proposta é que transformem parte dessa dívida em investimentos. Ao invés de pagar 10, só paga 5, e os outros 5 vão para investimentos, para obras de infraestrutura naquele país”, completou. 

Lula disse reconhecer que a proposta vai exigir um difícil processo de convencimento. “É uma discussão muito difícil. Todo mundo é muito generoso, mas na hora de botar a mão no bolso, ninguém quer”, disse. 

O presidente atribuiu ao sistema financeiro internacional em vigor parte das crises humanitárias atuais. “O mundo não pode continuar assim: é muita guerra, muita fome, muita discórdia.” Para ilustrar, citou a questão imigratória, em que as pessoas tentam a vida em países estrangeiros por falta de oportunidade em suas terras natais. “As pessoas vão porque querem ter uma chance”. A mudança na gestão das dívidas teria potencial para mudar o quadro, em sua opinião. 

Fome se resolve com disposição política 

Outra prioridade do Brasil no âmbito do G20, segundo Lula, é o combate à fome e à pobreza. “É uma coisa fácil de resolver, se houver disposição política dos países que queiram assumir responsabilidade. O mundo já produz alimentos suficientes, mas parte se perde em desperdício, mas parte se perde porque o povo não tem dinheiro para comprar. Isso é uma coisa que a gente pode acabar”. 

Por fim, a outra prioridade apontada por Lula é que a ONU seja reformulada, incluindo mais países nas instâncias decisórias. “O que nós queremos é melhorar a representatividade e acabar com o direito de veto na ONU”, afirmou, citando as tentativas de cessar-fogo em Gaza propostas pela Assembleia-Geral, barradas por vetos, muitas vezes isolados, apesar de a maioria dos países ter votado a favor. 

Na opinião de Lula, tal mudança teria reflexos positivos em outros temas internacionais, e não somente nas questões de guerra. “É preciso que a gente tenha uma instância internacional que tome uma decisão e que se torne obrigatória”, disse ele, referindo-se a medidas necessárias para combater o aquecimento global e os desastres naturais que têm se repetido. 

Antes, o presidente havia respondido uma pergunta encaminhada pelo escritor e liderança indígena Ailton Krenak, sobre a gestão compartilhada da Amazônia: “Eu estou convencido que a gente não pode ficar brigando com o restante do mundo como se a Amazônia fosse um santuário. A gente precisa organizar uma discussão em nível mundial. Há três florestas em pé no mundo: além da Amazônia, na Bacia do Congo e na Indonésia. Como é que os países ricos vão pagar para a gente se desenvolver, mantendo a nossa floresta em pé? É um desafio meu não só com o Brasil, mas com o futuro da humanidade.”

Edição: Paulo Donizetti de Souza

Confira a entrevista transmitida pelo Canal Gov


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