Ciências

Técnicas nucleares ajudam a preservar acervo histórico e cultural da Marinha

Parceria com Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares permite restauração com tecnologia 100% nacional

Edwaldo Costa | Marinha
14/05/2024 18:25
Técnicas nucleares ajudam a preservar acervo histórico e cultural da Marinha
Marinha/Divulgação

No dia 13 de maio, a Marinha do Brasil, em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), realizou a desinfestação e higienização por irradiação do quadro histórico do almirante Álvaro Alberto, pertencente à Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM). O procedimento ocorreu no Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, do Centro de Tecnologia das Radiações (CTR).

O professor doutor Pablo Vasquez, responsável pela linha de pesquisa para preservação de acervos culturais com radiação ionizante do Ipen, explica que o processo é conhecido como ionização gama. “A radiação gama, proveniente do Cobalto-60, representa uma alternativa altamente eficiente que ajuda a preservar e a conservar materiais orgânicos susceptíveis de serem afetados por agentes biodegradantes, como insetos e microorganismos. A técnica não deixa resíduos de radiação e dispensa a quarentena. Além disso, os objetos são tratados ainda em suas embalagens de transporte, devido às características de penetração da radiação gama. Objetos contaminados com insetos podem ser tratados em aproximadamente 30 a 40 minutos”.

As obras de arte, integrantes do patrimônio cultural da humanidade, estão expostas a degradações físicas, químicas e biológicas. Na América do Sul, o Ipen é pioneiro nessa aplicação, tendo conquistado ampla aceitação nas instituições de preservação nos últimos anos.

Diversos países, como França, Holanda, Itália, Romênia, Japão, Áustria, Polônia, Alemanha e República Tcheca, empregam a radiação ionizante para desinfestar obras de arte e promovem extensas pesquisas nesse campo. As obras de patrimônio histórico e cultural têm se beneficiado dessa tecnologia, que não gera resíduos tóxicos ou radioativos.

Isolda Costa, Diretora do Ipen, ressalta que o equipamento foi desenvolvido pela instituição com tecnologia 100% nacional em 2004. Trata-se da única instalação pública no País que oferece o procedimento com elevados padrões de segurança e eficiência, além de colaborar com instituições públicas na transferência de tecnologia. “Além de quadros e outros materiais, o irradiador esteriliza os insumos para a radiofarmácia do Brasil, garantindo segurança nas aplicações médicas específicas”, comenta Isolda.

A adoção da radiação apresenta vantagens significativas em comparação aos métodos químicos: não requer período de quarentena após o tratamento, não gera gases tóxicos ou substâncias nocivas. Assim, não há impactos à saúde dos profissionais que realizam o processamento ou o manuseio das obras, nem ao meio ambiente.

Esta tecnologia avançada oferece uma alternativa segura para a preservação de objetos históricos, não utiliza agentes químicos perigosos, como o óxido de etileno, conhecido por suas propriedades tóxicas e cancerígenas. A técnica dispensa a quarentena e não provoca ativação dos materiais tratados, garantindo que os itens permaneçam livres de contaminação e prontos para serem restaurados ou armazenados com segurança.

Para o diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, almirante de Esquadra Alexandre Rabello de Faria, o serviço realizado pelo Ipen é histórico e de grande relevância, demonstrando compromisso com a excelência científica e tecnológica. 

“A irradiação nuclear realizada pelo Ipen evidencia um elevado nível de competência e desenvolvimento tecnológico, além de assegurar a conservação e proteção de uma importante obra de arte, permitindo que as futuras gerações possam visualizar e se inspirar na história e legado do Almirante Álvaro Alberto, um dos precursores do desenvolvimento da pesquisa nuclear no País”, conclui o almirante Rabello.

Após higienizado no Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, o quadro do Almirante Álvaro Alberto foi devolvido no mesmo dia à DGDNTM pela diretora do Ipen e pelo professor Pablo Vasquez.

Por: Agência Marinha de Notícias

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