Ciência comportamental ajuda ministérios a desenhar novos projetos
Cinco, coordenadoria que faz parte do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, presta assessoria a órgãos do Governo Federal
Desde o início da atual gestão, um grupo de 15 pessoas, todas servidoras concursadas, tem aplicado o estudo de ciências comportamentais para auxiliar ministérios e órgãos públicos do Governo Federal a desenhar programas e políticas. A equipe é chamada a fornecer subsídios diante de questões complexas, tais como:
* como convencer pessoas refratárias a vacinas a participar de uma campanha nacional de imunização?
* qual a melhor e mais justa maneira de elaborar e distribuir novas tarifas públicas de modo a produzir o menor impacto possível no público?
* que argumentos usar para incentivar casais a acolher temporariamente órfãos ou crianças à espera de decisões sobre guarda parental?
* de que maneira assegurar a pequenos agricultores que deixar de usar agrotóxicos não comprometerá a próxima safra?
Esses exemplos são reais, e a Coordenação-Geral de Inovação e Ciências Comportamentais em Governo (Cinco), que faz parte da estrutura do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), já tem se debruçado sobre esses casos. A equipe fornece assessoria mediante chamada de projetos.
A Cinco faz pesquisas com grupos focais e análises de campo, em busca de percepções e expectativas do público que determinado projeto quer atingir. Numa primeira etapa, os estudos são aplicados em pequenos grupos e depois, se necessário, em universos maiores.
Uma das mais recentes intervenções aconteceu a pedido do Ministério da Saúde, preocupado em estimular prevenção e combate à dengue.
“Saúde é o pré-sal da ciência comportamental”, diz Marizaura Camões, coordenadora da Cinco, para exemplificar que a área é uma das que mais precisa entender seu público. Marizaura foi chamada a realizar uma oficina sobre o combate à dengue para técnicos e lideranças do ministério, que buscavam desenhar um plano de ação.
A abordagem, segundo Marizaura, psicóloga e doutora em Administração Pública pela UnB, deve partir sempre da compreensão das interpretações que cada população dos diferentes territórios tem sobre o assunto. “Não existe solução mágica, tampouco uma ação padronizada que dê conta de diferenças regionais ou etárias”, explica. Justamente por isso, é essencial ir a campo e ouvir as pessoas. Uma das propostas para o tema foi produzir lembretes frequentes sobre a importância da prevenção, feita sob medida para os medos e resistências de cada grupo.
Outro caso recente, surgido a partir de demanda do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), fez a equipe pesquisar quais as razões para que uma parcela de agricultores familiares, ainda que minoritária, mantenha o uso de produtos químicos em suas lavouras. Para tanto, a Cinco organizou uma “imersão” de diversos dias junto ao cotidiano de 40 famílias.
Uma das primeiras descobertas – ou confirmação de impressões pré-existentes: “Não há malvados ou bonzinhos na questão. A parcela que ainda usa agrotóxico faz isso porque tem medo de perder a plantação, então recorre ao processo. Mas todos sabem que o veneno faz mal”, diz Marizaura. “Então, não adianta fazer uma campanha de comunicação, por mais bem feita que seja, para dizer isso. O que a família precisa é se sentir segura de que não vai perder a produção se não usar produto químico”, completa a coordenadora.
A participação neste projeto já rende frutos, e o MDA anunciou, na última semana de maio, que o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), abrangendo o período de 2024 a 2027, já tem definidas suas linhas-mestras.
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Marizaura admite a semelhança entre o trabalho que sua equipe desenvolve e as técnicas de marketing: “Isso se mistura o tempo todo”. Mas delimita: “Não é marketing de governo. Até porque algumas intervenções não implicam planos de comunicação. O objeto de nosso trabalho é conhecer o viés de cada população ou grupo em relação a determinado tema”.
Outro projeto em desenvolvimento busca entender se é possível estimular casais a aderirem à adoção temporária de crianças, como alternativa aos abrigos. “Os casais têm medo de adotar alguém que não conhecem? Esta é uma boa hipótese, mas será que é isso mesmo? Por isso, temos de ir a campo para saber o que leva a querer adotar e o que leva a não querer”, explica. Esse projeto encontra-se em fase preliminar de estudos, no interior do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho desenvolvido pela Cinco, visite a página oficial: https://www.gov.br/gestao/pt-br/assuntos/inovacao-governamental/cinco
Por: Agência Gov
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