Como homens são atingidos pela aposentadoria e o preconceito quanto à vida afetiva
Tabus sociais e herança cultural machista podem causar desinformação e problemas de saúde neste segmento social
Prazer e competência não têm prazo de validade. Com esse mote, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da campanha Junho Violeta, alerta a sociedade para o preconceito que acomete homens idosos em relação ao trabalho e à vida afetiva. Nesta matéria, o MDHC ouviu pessoas para apresentar um panorama completo sobre o assunto.
Médico e atual coordenador do programa USP 60+, da Universidade de São Paulo, Egídio Dorea explica que os motivos pelos quais homens e mulheres são vítimas deste preconceito podem ser diferentes. “Se na mulher a perda da capacidade reprodutiva e beleza juvenil são aspectos importantes; no homem, a perda do poder (atrelada à participação no mercado de trabalho, inclusive) é considerada o fator principal”, comparou.
Para o especialista, a relação entre o papel e valor do homem na família, comunidade e sociedades – bem como sua força física e produtiva – existe há séculos, por uma construção social de gênero imposta pelo patriarcado. “O idadismo é fundamentado por diversos aspectos, como disputa por riquezas, posições hierárquicas e identidade cultural. Assim, os conflitos intergeracionais são criados e fomentados”, identificou.
Derrubando estereótipos
É fundamental, entretanto, observar as raízes culturais que inauguram um mundo machista, sexista e dominador. A capacidade produtiva e de geração de renda, neste sentido, não deve justificar ou estereotipar homens que encerram carreiras no mercado de trabalho.
“Estes, ao ‘perderem o poder’, perdem também a visibilidade social e passam a fazer parte de um grupo homogêneo e sem valor - os ‘velhos’, respaldando os estereótipos negativos presentes na nossa sociedade idadista”, critica Egídio.
De acordo com o especialista, em relação aos estereótipos, estudos mostram que a sociedade caracteriza as pessoas por atributos de competência e afetividade, geralmente discordantes; ou seja, aquelas pessoas que classificamos como afetivas, geralmente, não são consideradas competentes e vice-versa.
O homem, geralmente, é encaixado no perfil competente-pouco afetivo. “Com o envelhecimento, ele continua sendo percebido como pouco afetivo, mas perde o atributo da competência e, com isso, sofre mais o preconceito da idade, o idadismo”, relata.
Vida afetiva sem tabus
Em outra vertente, o preconceito também atinge a vida íntima dos homens idosos, que podem passar a apresentar problemas de saúde por pura desinformação. Nessa perspectiva, o secretário nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Alexandre da Silva, faz um alerta quanto à autocobrança e sobre possíveis doenças que os homens podem adquirir por conta deste preconceito.
“O idadismo pode gerar um sofrimento, uma angústia para os homens. A gente observa essa mudança por uma maior inserção das mulheres no mercado de trabalho. Infelizmente, não com a mesma remuneração; mas, mesmo assim, alguns homens não conseguem entender que ele pode experienciar essa situação ou mesmo deixar com que a mulher possa ser essa pessoa que vá realmente tomar as decisões mais importantes, em termos financeiros”, afirma o gestor.
Quando o assunto é relacionamento, o envelhecimento traz consigo uma série de estigmas e expectativas, especialmente, no que se refere à sexualidade. Ao assimilarem os preconceitos como parte da sociedade, os homens idosos acabam por não procurar ajuda profissional por vergonha ou machismo.
“Devemos criar espaços seguros e abertos para discutir questões sexuais entre as pessoas idosas, garantindo que recebam o apoio e os recursos necessários para uma vida sexual saudável e satisfatória, independentemente da idade”, afirma postagem da campanha Junho Violeta nas redes sociais @mdhcbrasil.
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Por: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC)
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