Esporte

Menina de Samambaia (DF) vai usar as raquetes para defender o Brasil em Paris

Daniele Souza, 31 anos, campeã pan-americana de parabadminton integra a equipe brasileira que vai disputar medalhas nos jogos da França

Agência Gov | Via Ministério do Esporte
01/07/2024 10:03
Menina de Samambaia (DF) vai usar as raquetes para defender o Brasil em Paris
Willian Meira/MEsp

Em agosto, Daniele Souza embarca para a França. Na bagagem, leva suas raquetes, as petecas, as lições de seus técnicos, o amor de sua família e um tanto de coragem para representar o Brasil nas quadras de badminton dos Jogos Paralímpicos. Esse já é um grande feito, e pode até ser mais, se vier com medalha.

Essa história toda começou já como primeiro grande desafio para Daniele ainda no Hospital Regional de Taguatinga, onde ela nasceu. Uma infecção hospitalar tomou conta do seu corpo e deu início a uma longa luta pela sobrevivência. Vencer essa etapa foi a primeira das muitas vitórias que, ela nem fazia ideia, ainda viriam pela frente.

Aos 11 anos as sequelas da infecção a colocaram definitivamente em uma cadeira de rodas. Foi um momento difícil. Dani entristeceu e ficou tímida. Chegou a pensar que sua vida estava encerrada. Mas a dúvida e o sofrimento que lhe tomaram de assalto não contavam com a determinação de seus pais, seu Nonato e dona Tereza. Nem mesmo a Daniele tinha noção da força motriz contida na mente e nos braços de sua mãe, que lhe dava apoio para ir e vir de qualquer lugar em sua cadeira de rodas, mostrando a ela que a vida seguia. E assim, afastava de vez qualquer medo ou vontade de desistir.

Foi assim, inicialmente, com a cadeira de rodas empurrada pela dona Tereza que ela descobriu o esporte. Foi matriculada, contra a própria vontade, no Centro Olímpico de Samambaia, cidade que ama e onde vive desde que nasceu. Alguma coisa dizia para a dona Tereza que era ali que a filha descobriria um novo caminho para dar mais sentido à vida. E foi mesmo.

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Não deu para esconder

Hoje, quando relembra a sua história, Daniele reconhece que no início não queria saber de esporte. Mas não demorou muito para se apaixonar, ao perceber a alegria de treinar entre os atletas do parabadminton. “Primeiro eu experimentei o tênis adaptado para pessoas em cadeiras de rodas. Mas não gostei muito de ficar várias horas no sol. Aí, fui convidada a conhecer o parabadminton. Me apaixonei na hora, mas guardei pra mim. Não queria confessar que estava gostando do esporte. Só que não deu pra esconder por muito tempo. Era o esporte dando uma virada na minha vida”, diz ela, com um sorriso no rosto.

O esporte tem mesmo essa característica. Daniele não está sozinha em sua constatação. Há milhares de exemplos espalhados por todo o Brasil de pessoas com deficiência que não sabem o que fazer de suas vidas, atravessadas pela exclusão social provocada pelo capacitismo. Elas acham que o fato de ter algum tipo de deficiência é fator impeditivo para serem reconhecidas e respeitadas em sua autonomia. Muitas delas só conseguiram vencer esse jogo do preconceito social quando se dedicaram a algum tipo de atividade esportiva.

Os dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad revelam que existem no Brasil 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Isso significa 8,9% da população com 2 ou mais anos de idade. Mais da metade são mulheres e o maior percentual de pessoas com deficiência, 5,8 milhões, está no Nordeste. A pesquisa mostra também que as pessoas com deficiência estão menos inseridas no mercado de trabalho, nas escolas –, e, por consequência, têm acesso à renda mais dificultado.

Por isso, a história de vida da Daniele Souza ganha mais relevância. Ela é a prova de que o esporte pode ser uma ferramenta de inserção, de inclusão social. Mostra que é possível respeitar as pessoas pelas suas capacidades e não, discriminá-las pelas deficiências.

Suas conquistas nas quadras não deixam dúvidas, estamos diante de uma campeã. Daniele foi medalha de ouro no parabadminton simples feminino e prata nas duplas femininas WH1-WH2 nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023; bronze no individual nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019; prata no individual no Pan-Americano da modalidade de 2018, no Peru.

Como dissemos lá no início, em agosto ela embarca para a França. Seu Nonato e dona Tereza ficam aqui na torcida. Enquanto a Daniele vai usar a técnica e a coragem tão características de sua vida para mostrar o valor dessa gente brasileira. A medalha? Pra ela vai ser um detalhe. Certeza, mesmo, é de que a menina tímida de Samambaia, hoje aos 31 anos de idade, se transformou em uma mulher valente e determinada. É ela quem nos diz: “Eu sou o Brasil em Paris!” Alguém se arrisca a duvidar?

 

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