90% dos territórios quilombolas têm estrutura precária de saneamento básico
Entre o total da população quilombola, o percentual de pessoas sem serviço de saneamento básico adequado é de 21,89%, enquanto 3,0% da população do país encontrava-se nessa condição.
Dados inéditos do Censo Demográfico 2022 mostram que, seja dentro ou fora de Territórios Quilombolas oficialmente delimitados, os domicílios com pelo menos um morador quilombola estão mais expostos a inadequações sanitárias. Em Territórios Quilombolas, chega a 90,02% a proporção de moradores quilombolas que residem em domicílios com maior precariedade ou ausência de saneamento básico, seja em relação ao abastecimento de água, à destinação do esgoto ou à coleta de lixo. Para o total da população quilombola, esse percentual foi de 78,93%, enquanto para o total na população residente no país, foi de 27,28%.
As informações foram publicadas hoje (19) pelo IBGE na divulgação “Censo Demográfico 2022 Quilombolas: Características dos domicílios e alfabetização, segundo recortes territoriais específicos: Resultados do universo”.
Destaques da pesquisa
•Nos Territórios Quilombolas oficialmente delimitados, 90,02% dos moradores quilombolas convivem com alguma forma de precariedade no saneamento básico, seja em relação ao abastecimento de água, à destinação do esgoto ou à coleta de lixo. Para o total da população quilombola, esse percentual foi de 78,93%, enquanto para o total da população do país, foi de 27,28%.
•Quando consideradas simultaneamente, 29,58% dos moradores quilombolas em Territórios Quilombolas convivem com as três principais formas de precariedade em saneamento básico investigadas. Entre o total da população quilombola, o percentual foi de 21,89%, enquanto 3,0% da população do país encontrava-se nessa condição.
•Dentro dos Territórios Quilombolas, 33,61% dos moradores quilombolas utilizavam a "Rede geral de distribuição" como método principal de abastecimento, 31,85% utilizavam "Poço profundo ou artesiano", enquanto 10,48% usavam "Poço raso, freático ou cacimba".
•Entre o total da população quilombola, esses percentuais foram de 53,99%, 20,51% e 8,67%, respectivamente. Já a população total do Brasil registrou proporções de 82,89%, 8,95% e 3,20% para essas três formas de abastecimento.
•Para 66,71% dos moradores quilombolas em Territórios Quilombolas, a água chegava “Encanada até dentro da casa, apartamento ou habitação”. Para o total da população quilombola essa proporção foi de 73,34%, enquanto para o Brasil como um todo, a água canalizada até a habitação alcançou 95,14% da população.
•Nos Territórios Quilombolas oficialmente delimitados, 18,21% declararam não ter água encanada. Essa proporção cai para 12,97% para o total da população quilombola e para 2,38% para o total da população residente no Brasil.
•Entre os moradores quilombolas em territórios, 24,77% (41.493) não tinham banheiro de uso exclusivo do domicílio; sendo que 12,99% (21.765) tinham “Apenas sanitário ou buraco para dejeções, inclusive os localizados no terreno” e 6,24% (10.447) “Não tinham banheiro ou sanitário”.
•Para 59,45% dos moradores quilombolas em territórios oficialmente delimitados, o principal tipo de esgotamento sanitário era “Fossa rudimentar ou buraco”. A rede geral chegava a apenas 6,53% dessa população.
•A população residente está majoritariamente na situação de destinação do esgoto para rede geral ou fossa séptica ou fossa filtro, com 75,74% da população nessa situação. Entre os moradores quilombolas a principal destinação do esgoto é para fossa rudimentar, buraco, vala, rio, córrego, mar ou outra forma, correspondendo a 66,48% desse grupo.
O que o IBGE considera precariedade
Visando a uma aproximação entre os quesitos investigados no Censo Demográfico e a classificação proposta pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), o IBGE considerou como precariedade as seguintes situações:
•A principal forma de abastecimento de água se dá por rede geral de distribuição, poço, fonte, nascente ou mina encanada somente até o terreno ou não chega encanada, e aqueles em que, com ou sem encanamento, a água utilizada é proveniente de carro-pipa, água da chuva armazenada, rios, açudes, córregos, lagos, igarapés ou de outras formas não listadas anteriormente;
•Têm como destinação do esgoto fossa rudimentar, buraco, vala, rio, córrego, mar ou outra forma;
•O lixo não é coletado direta ou indiretamente por serviço de limpeza.
Dentro dos Territórios Quilombolas, 29,58% dos moradores quilombolas conviviam simultaneamente com as três situações de precariedade. Entre o total da população quilombola o percentual foi de 21,89%, enquanto 3,0% da população residente do país encontrava-se nessa condição.
“É importante frisar que o Plano Nacional de Saneamento Básico diferencia alguns aspectos de adequação do saneamento por situação urbana e rural. Essa diferenciação a partir do Censo 2022 é uma informação que ainda está sendo trabalhada e trará uma visão ainda mais enriquecedora para os dados que estamos divulgando nesta publicação, quando estiverem disponíveis”, salienta Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE.
Poços para abastecimento dos domicílios
Apesar de as três principais formas de abastecimento de água serem as mesmas tanto para o total da população residente no país quanto para a população quilombola, há diferença em suas proporções. Dentro dos Territórios Quilombolas, 33,61% dos moradores quilombolas utilizavam a "Rede geral de distribuição" como método principal de abastecimento, 31,85% utilizavam "Poço profundo ou artesiano", enquanto 10,48% usavam "Poço raso, freático ou cacimba".
Entre o total da população quilombola, esses percentuais foram de 53,99%, 20,51% e 8,67%, respectivamente. Já a população total residente no Brasil registrou proporções de 82,9%, 8,95% e 3,20% para essas três formas de abastecimento.
“O abastecimento nos Territórios Quilombolas apresenta maior dependência da estrutura de poços para abastecimento dos domicílios. As categorias de poço profundo ou artesiano e poço raso, freático ou cacimba são as principais formas de abastecimento para 42,33% dos moradores quilombolas em territórios, percentual muito superior ao mesmo recorte para o total da população quilombola, de 29,18%, e para população total residente no país, de 12,15%”, destaca Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais.
Em relação à canalização da água, para 66,71% dos quilombolas em Territórios Quilombolas, a água chegava “Encanada até dentro da casa, apartamento ou habitação”, ou seja, para essa parcela da população, a água chegava diretamente em torneiras, chuveiros, vasos sanitários etc. Para o total da população quilombola essa proporção foi de 73,34%, enquanto para o Brasil como um todo, a água canalizada até a habitação alcançou 95,14% da população.
Para 15,07% dos moradores quilombolas em Territórios Quilombolas, a água chegava “Encanada, mas apenas no terreno”, proporção que se reduz para 13,70% quando o total da população quilombola é levado em conta e para 2,47% quando a população residente no país é analisada.
A situação de “Sem água encanada”, ou seja, quando a água precisava ser transportada em baldes, galões, veículos ou outros recipientes para uso, foi mais intensa em relação às outras dentro dos Territórios Quilombolas, atingindo 18,21% dos moradores quilombolas. Essa proporção cai para 12,97% para o total da população quilombola e para 2,38% para o total da população residente no Brasil.
Um a cada quatro quilombolas não tinha banheiro exclusivo
Quanto à existência de banheiros e sanitários nos domicílios, o Censo 2022 investigou quatro situações: tinham banheiro (cômodo com vaso sanitário e instalações para banho) de uso exclusivo (utilizado apenas pelos moradores e seus hóspedes); os moradores utilizam banheiros compartilhados entre mais de um domicílio; utilizam “sanitários ou buracos para dejeções”, compartilhados ou não, inclusive os localizados no terreno; e os que não possuíam banheiros, sanitários ou buracos para dejeções, indicando a existência de defecação a céu aberto.
Entre os moradores quilombolas em territórios oficialmente delimitados, 24,77% (41.493) não tinham banheiro de uso exclusivo do domicílio. Destes, 5,54% (9.281) possuíam “Apenas banheiro de uso comum a mais de um domicílio”; 12,99% (21.765) tinham “Apenas sanitário ou buraco para dejeções, inclusive os localizados no terreno”; e 6,24% (10.447) “Não tinham banheiro ou sanitário”.
Para o total da população quilombola, 17,15% (227.667) residem em domicílios que não possuem banheiro exclusivo, sendo que 3,35% (44.516) dependiam de banheiros de uso comum a mais de um domicílio, 9,75% (129.364) possuíam apenas sanitário ou buraco para dejeções e 4,05% (53.787) não tinham nem banheiro nem sanitário. Para o total da população residente no país, as proporções foram de 2,25, 0,50%, 1,16% e 0,59%.
Esgoto em fossa rudimentar ou buraco
Para 59,45% dos moradores quilombolas residentes em territórios oficialmente delimitados, o principal tipo de esgotamento sanitário em seus domicílios era “Fossa rudimentar ou buraco”. “Fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede” foi a segunda principal forma, para 17,44% dos moradores, seguida por ausência de banheiro e sanitário, para 6,24%. A rede geral chegava a apenas 6,53% dessa população.
Quando analisada a população quilombola como um todo, as principais formas de destinação do esgoto foram “Fossa rudimentar ou buraco” (57,67%), “Fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede” (14,99%), “Rede geral, rede pluvial ou fossa ligada à rede” (14,48%) e "Não tinham banheiro nem sanitário” (4,05%).
A situação da população quilombola, tanto dentro dos territórios quando no total, se difere da população residente no país como um todo. Para esse total, o principal tipo de esgotamento sanitário nos domicílios de 62,51% da população foi “Rede geral, rede pluvial ou fossa ligada à rede”, seguido por “Fossa rudimentar ou buraco” (19,44%) e por “Fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede” (13,23%).
“De uma forma mais agregada, enquanto a população residente está majoritariamente na situação de destinação do esgoto para rede geral ou fossa séptica ou fossa filtro, com 75,74% da população nessa situação, entre os moradores quilombolas a principal destinação do esgoto é para fossa rudimentar, buraco, vala, rio, córrego, mar ou outra forma, correspondendo a 66,48% dos moradores quilombolas”, pontua Marta.
Coleta de lixo em apenas 30% dos territórios
Quando investigada a destinação do lixo, a principal forma de descarte informada pelos quilombolas residentes em Territórios Quilombolas foi “queimado na propriedade” (65,49%). Já 30,49% dos moradores quilombolas foram alcançados por coleta direta ou indireta de serviço de limpeza.
Para o total dos quilombolas, a coleta direta ou indireta alcança mais da metade dos moradores (51,28%). Já o lixo queimado na propriedade segue sendo a principal forma de descarte, para 45,74% da população quilombola.
Para a população residente no país, o serviço de coleta direta ou indireta se faz muito mais presente, alcançando 90,89% das pessoas. Para 7,88% da população total, o lixo era queimado na residência.
“É necessário entender que o ‘adequado’ do saneamento muda em contextos urbanos e rurais. O PLANSAB reconhece as especificidades soluções complementares de saneamento nas áreas rurais como o uso de água proveniente de cisternas de captação de água de chuva com canalização interna. Na destinação do lixo em situações rurais, por exemplo, a coleta indireta de lixo com menor frequência e com destinação ambientalmente correta é considerada adequada, o que não acontece em áreas urbanas. Mesmo com essa limitação, os dados já evidenciam a maior vulnerabilidade dos quilombolas a situações de atendimento precário ou de ausência completa de atendimento em saneamento básico”, exemplifica Fernando.
Mais sobre a pesquisa
O Censo Demográfico é a mais completa operação estatística realizada no país, indo a todos os domicílios dos 5.570 municípios brasileiros. Os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022 para quilombolas foram divulgados em julho de 2023 e podem ser consultados na Agência IBGE Notícias . Uma segunda apuração foi divulgada em dezembro do mesmo ano, contabilizando 1.330.186 pessoas quilombolas em 25 Unidades da Federação. Em maio de 2024, foi inaugurada a demografia para a população quilombola no Brasil, com a divulgação dos recortes por sexo e idade.
A divulgação “Censo 2022 Quilombolas: Alfabetização e características dos domicílios, segundo recortes territoriais específicos - Resultados do universo” traz informações como taxa de alfabetização e condições de saneamento dos domicílios com pelo menos um morador quilombola, dentro e fora dos Territórios Quilombolas oficialmente delimitados, para Brasil, Grandes Regiões, Unidades da Federação, Municípios, Amazônia Legal, Amazônia Legal por Unidades da Federação, Territórios Quilombolas oficialmente delimitados e Territórios Quilombolas por Unidades da Federação.
Os dados também podem ser visualizados na Plataforma Geográfica Interativa (PGI), no Panorama do Censo 2022 e no Sidra .
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